Este fim-de-semana, o primeiro censo da garça-branca-grande precisa de si

Ainda há muitas coisas que não sabemos sobre as aves em Portugal. Uma delas é quantas garças-brancas-grandes passam o Inverno no nosso país e onde. Ajude a colmatar esta lacuna ao juntar-se ao primeiro censo nacional dedicado a esta espécie, a 20 e 21 de Janeiro.

 

Gonçalo Elias, um dos promotores do Censo, adiantou ontem à Wilder que cerca de 100 pessoas já estão inscritas para ajudar a contar estas garças no próximo fim-de-semana. Qualquer pessoa que saiba identificar uma garça-branca-grande pode participar.

 

Garça-branca-grande. Foto: Dori/Wiki Commons

 

“Muitas destas pessoas já participaram no censo à águia-pesqueira invernante, perto de sua casa, e este ano continuam disponíveis para dar uma ajuda.” A maioria, acrescenta, não são profissionais; são pessoas que gostam de andar na natureza e de dar uma ajuda.

O Censo da Águia-pesqueira (Pandion haliaetus) invernante, iniciativa dos mesmos organizadores deste censo, foi realizado durante três anos (2015 a 2017), em Janeiro, para colmatar outra lacuna de conhecimento. No primeiro ano foram registadas entre 71 e 81 águias a passar o Inverno em Portugal; no segundo ano o número aumentou para entre 135 e 150 e, no ano passado, foram registadas entre 155 e 184 águias-pesqueiras.

“Consideramos que, para já, ficámos com um número bastante preciso da população invernante desta espécie e que não valia a pena estar a repetir o censo este ano. Por isso, pensámos que poderíamos dedicar-nos a outra espécie”, para “aproveitar o bom número de voluntários” já disponíveis pelo país, explicou Gonçalo Elias, também responsável pelo portal Aves de Portugal.

 

Garça-branca-grande. Foto: Susan Frazier/Pixabay

 

A garça-branca-grande (Ardea alba ou Casmerodius albus) não nidifica regularmente em Portugal. As aves que podemos observar são aquelas que, todos os anos, partem da Europa Central para aqui passar o Inverno. O primeiro registo documentado desta espécie para Portugal é de 21 de Agosto de 1971, na Ria de Aveiro, segundo o livro “Aves de Portugal – Ornitologia do território continental”.

Desde então, o número de garças observadas no país tem vindo a aumentar. “Esta é uma ave que está a expandir-se pela Europa, com nidificação já confirmada em Espanha”, disse Gonçalo Elias. Talvez o mesmo venha a acontecer em Portugal.

Mas, por enquanto, pouco se sabe sobre esta elegante garça, que se alimenta nos sapais, valas, salinas e barragens e açudes do país. “Não fazemos ideia de quantas existem em Portugal”, salientou o responsável.

Esta garça nunca teve um censo de Inverno dedicado, como acontece com os patos e as limícolas, por exemplo, a cargo do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Por isso, a comunidade portuguesa de observadores de aves tomou a iniciativa de organizar este censo, numa altura em que a população invernante deve estar no seu máximo (Dezembro e Janeiro).

 

Foto: Skeeze/Pixabay

 

Neste fim-de-semana, Gonçalo Elias já sabe para onde vai contar garças. “A princípio vou para as salinas de Tavira e para Olhão. Já vi lá garças-brancas-grandes recentemente.”

De acordo com a informação possível, há quatro zonas no país que deverão concentrar o maior número destas aves: Ria de Aveiro, Vale e foz do Mondego, Estuário do Tejo (lezíria e margem sul) e Estuário do Sado.

“Vamos tentar fazer um censo com a maior cobertura possível para conseguirmos uma primeira estimativa da população invernante” e para “perceber quais os locais mais importantes para a sua invernada”.

 

Foto: Andreas Trepte/Wiki Commons

 

Mas o Estuário do Sado, por exemplo, ainda tem falta de voluntários. “É uma zona com bastante potencial mas fica longe de onde as pessoas moram. A única cidade mais perto é Setúbal mas as aves estão mais na zona de Alcácer do Sal e Comporta. Além disso, há várias propriedades de acesso vedado.”

As barragens e açudes do Alentejo também ainda não têm voluntários suficientes.

A garça-branca-grande tem um estatuto de Pouco Preocupante na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). A população europeia está estimada em entre 20.700 e 34.900 casais, segundo dados da BirdLife International de 2015.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Aqui ficam algumas características da garça-branca-grande, disponibilizadas por Gonçalo Elias, que o podem ajudar a reconhecer esta ave:

Nome científico: Ardea alba ou Casmerodius albus (a espécie tem estes dois nomes científicos, utilizados consoante a autoridade em questão)

Comprimento: 85 – 100 centímetros

Envergadura da asa: 145 – 170 centímetros

Principais características da garça-branca-grande:
– tamanho muito grande, semelhante ao de uma garça-real (Ardea cinerea)
– plumagem totalmente branca
– bico longo e amarelo

Locais onde é mais fácil de a observar: A garça-branca-grande ocorre quase sempre perto de água. Procure este tipo de locais e poderá ter “sorte”: zonas húmidas costeiras (estuários, rias e lagoas); campos agrícolas inundados, como restolhos de arroz; e zonas húmidas interiores, como pauis e albufeiras.

As outras garças que podem causar confusão na identificação:

– garça-branca-pequena (Egretta garzetta): mas esta espécie apresenta bico preto e não amarelo

– garça-boieira (Bubulcus ibis): porém esta espécie é muito mais pequena, a plumagem apresenta frequentemente tons alaranjados e o seu bico é muito mais curto, além de que ocorre frequentemente longe de água.

Consulte aqui as descrições mais detalhadas de cada uma das espécies para compreender melhor as diferenças: Garça-branca-grandeGarça-branca-pequenaGarça-boieira.

Como procurar: Uma das melhores formas é procurar os seus locais de alimentação, onde as garças passam uma grande parte do dia.

A que soa uma garça-branca-grande: descubra aqui as vocalizações desta grande ave.

Quem pode participar no censo: todas as pessoas interessadas. O único requisito é que saibam identificar uma garça-branca-grande.

Quero participar. O que tenho de fazer: basta contactar os organizadores do censo para o email [email protected]. Indique o seu nome e o local que tem interesse em prospectar no dia do censo. Pode ir num só dia ou nos dois. Para a Ria de Aveiro, Vale e foz do Mondego, Estuário do Tejo e Estuário do Sado haverá equipas locais organizadas por um coordenador, no sentido de se conseguir visitar toda a área e prevenindo a duplicação de aves.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.