Mapa português de medusas e gelatinosos cresce com dados de 338 cidadãos

Já são 338 os cidadãos que participam no GelAvista, projecto de ciência cidadã que há três anos nos pede para estar de olho nas medusas e nos outros gelatinosos que ocorrem em águas portuguesas. Saiba mais sobre o que foi feito em 2018.

 

GelAVista, lançado em 2016, é um projecto do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) que reúne investigadores e especialistas de várias áreas, como a ecologia do zooplâncton e a oceanografia.

O grande objectivo é saber quais são e onde estão os seres gelatinosos nas águas portuguesas. Para isso, a ajuda dos cidadãos e dos seus registos é crucial.

 

Catostylus tagi. Foto: Fernando Mendes Pedro

 

Neste momento o GelAvista conta com 338 observadores. “Alguns destes observadores são frequentes, mas são ainda necessários mais colaboradores que nos informem semanalmente sobre as espécies que ocorrem em águas portuguesas ou sobre os avistamentos nulos, quando nenhum organismo é observado”, explicou à Wilder a equipa do GelAvista.

Desde o início do projecto já foram observadas 12 espécies, desde medusas a salpas, sem contabilizar outros registos que os cidadãos lhes fazem chegar de anémonas e gastrópodes, por exemplo.

 

Chrysaora hysoscella. Foto: Paulo Vasconcelo

 

Em Portugal continental, a espécie mais avistada continua a ser a medusa Catostylus tagi (48%), seguida da caravela-portuguesa Physalia physalis (16%) e da Velella velella (14%). Nos arquipélagos da Madeira e dos Açores, a Physalia physalis (73% e 55%, respectivamente) foi a espécie com mais registos.

Até ao momento, o GelAvista já recebeu 2.676 avistamentos de gelatinosos, repartidos por Portugal continental, e Arquipélagos dos Açores e da Madeira.

 

Plagia noctiluca. Foto: Ana Lucas

 

“As regiões de Lisboa/Setúbal e da costa Algarvia são aquelas para as quais temos mais dados, embora ainda seja necessária informação mais frequente para análise de padrões de ocorrência”, explicam os responsáveis.

No entanto, a cobertura do território tem ainda de ser melhorada. “Para as regiões a norte e para as praias dos distritos de Coimbra e Leiria, bem como da Costa Vicentina os dados ainda são pontuais. Também para os arquipélagos da Madeira e dos Açores são necessários mais dados.”

O GelAvista precisa também de dados de mergulho, pesca e outras actividades realizadas mais longe da costa para perceber o que se passa em oceano aberto.

 

O que os cidadãos ajudaram a saber

Ainda assim, hoje já se sabe muito mais sobre estas espécies. Segundo a equipa do projecto, “os dados fornecidos pelos observadores GelAvista no ano de 2018 permitiram consolidar o conhecimento sobre os padrões de ocorrência das diferentes espécies”.

 

Velella velella. Foto: Ricardo Neves

 

“Quantos mais dados conseguirmos reunir, mais fiável será a análise destes padrões e poderemos vir a indicar qual o cenário mais provável para o aparecimento de cada espécie, importante para a futura previsão destas ocorrências. Assim, é extremamente importante manter esta monitorização.”

A equipa recebeu também informações importantes que justificam alertas especiais, como foi o caso da espécie Alicia mirabilis, uma anémona muito urticante arrojada à costa Algarvia em grandes abundâncias neste Verão.

“Neste momento, com apenas três anos de programa GelAvista, temos mais informação sobre as espécies que ocorrem em águas portuguesas do que existia antes, tanto a nível nacional, como mundial, pois para muitas espécies falta ainda conhecimento ecológico de base.”

 

Caravela-portuguesa. Foto: Ianaré Sévi/Wiki Commons

 

Estes novos conhecimentos têm sido divulgados junto da população em geral e da comunidade científica, através de artigos científicos publicados em revistas da especialidade. “Depois de termos publicado um trabalho sobre a Velella velella, encontramo-nos agora a preparar uma publicação sobre a Rhizostoma luteum.”

A 1 de Dezembro realizou-se o 3º encontro anual do GelAvista, na Universidade do Algarve. Durante o encontro foi lançado o site GelAvista.

Para o futuro, a equipa prevê lançar “uma nova aplicação para Android melhorada, além da muito aguardada versão para iOS” e criar um programa de educação ambiental com base no GelAvista. Entre os seus objectivos estão a melhoria da divulgação da informação transmitida pelos observadores e o chegar a mais observadores, “apostando também em cidadãos que sejam constantes nas suas observações”.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais sobre os gelatinosos.

 Os organismos gelatinosos são um parte importante dos ecossistemas.  

“São considerados reguladores climáticos, intervindo na sequestração de carbono no ambiente marinho, na reciclagem  de nutrientes, e na transferência entre o ambiente pelágico e bentónico (junto ao fundo)”, explica o GelAvista.

Além disso, são fonte de alimento para peixes, aves marinhas e tartarugas.

“A sua função como predadores é também importante, pois alimentam-se de presas variadas -zooplâncton, ovos e larvas de peixes, peixes, gastrópodes, crustáceos e até outros gelatinosos – uma das razões para o seu sucesso no ambiente marinho.”

“Algumas espécies podem também controlar a abundância de outras, como é o caso dos ctenóforos do género Beroe, indicados como capazes de controlo das abundâncias de ctenóforos invasores Mnemiopsis.”

Segundo o GelAvista, os gelatinosos “fornecem também protecção a espécies de peixe cujos juvenis se abrigam nos seus tentáculos, além de relações de simbiose variadas, por exemplo, com microalgas”.

Fique a conhecer melhor quais são e onde andam os organismos gelatinosos da costa portuguesa, neste artigo da Wilder.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Participe no GelAvista com as suas observações.

Saiba que os organismos gelatinosos podem ser observados durante todo o ano. Diferentes espécies apresentam, no entanto, diferentes períodos de ocorrência. Espécies como a Rhizostoma luteum ou a Chrysaora hysoscella são espécies que aparecem principalmente nos meses de Primavera e Verão, enquanto que a Velella velella ocorre principalmente no final do Inverno e início da Primavera. Já Catostylus tagi é avistada durante praticamente todo o ano, excepto no início da Primavera.

O que deve fazer, se quiser reportar o avistamento de um organismo gelatinoso?

De acordo com o IPMA, basta enviar informação sobre o avistamento para o email do projecto, [email protected]. Neste, deve incluir dados sobre a data, local, número de organismos observados e ainda uma fotografia dos mesmos, sempre que for possível.

Se quiser conhecer melhor as espécies de gelatinosos que ocorrem na costa portuguesa e o que fazer se for picado, pode ainda consultar a informação elaborada pela equipa do GelAVista, aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.