Águia-pesqueira. Foto: National Biological Information Infrastructure

Novo censo contou mais de 150 águias-pesqueiras a passar o Inverno em Portugal

Entre 155 e 184 águias-pesqueiras que vivem no Norte da Europa estão a passar o Inverno em Portugal, onde há mais alimento, revelam os resultados do novo censo nacional sobre esta ave, feito no sábado por 141 voluntários.

 

No sábado, dia 14 de Janeiro, 141 pessoas saíram de casa com os seus binóculos e telescópios e espalharam-se pelos estuários, rios, lagoas, albufeiras e pauis de Norte a Sul do país. A sua missão era procurar águias-pesqueiras (Pandion haliaetus) para saber quantas passam o Inverno em Portugal e por onde andam.

Na 3ª edição deste Censo nacional de águia-pesqueira, foram contadas entre 155 e 184 aves, um ligeiro aumento em relação ao ano passado, quando se contaram entre 135 e 150.

“Não sabemos dizer se estes números significam que a população invernante desta espécie está a aumentar. Não há séries temporais suficientes”, explicou à Wilder Gonçalo Elias, responsável pelo portal Aves de Portugal e um dos organizadores do censo.

Segundo Gonçalo Elias – que no sábado conseguiu observar três a quatro águias-pesqueiras nos concelhos de Sines, Santiago do Cacém e Ourique -, as três zonas com aumentos mais expressivos em relação ao censo de 2016 são a Ria de Aveiro (com entre 23 e 29 aves), a Ria Formosa (entre 18 e 23) e a albufeira de Alqueva (entre 7 e 8), esta última a área com a maior concentração de aves fora das áreas litorais.

Mas há vários factores a considerar antes de concluir que hoje há mais águias-pesqueiras a invernar em Portugal. “Por exemplo, em Aveiro houve muitas pessoas no terreno, foram 12 equipas, e a maré estava muito baixa, o que fez com que as aves estivessem mais concentradas. Agora se há mesmo mais aves lá, não consigo dizer”, explicou.

Os censos à população invernante de águias-pesqueiras, aves que vivem em países como a Alemanha e o Reino Unido, começaram em 2015, por iniciativa da comunidade portuguesa de observadores de aves. “Antes dos censos pensávamos que existiriam no máximo 50 pesqueiras a invernar em Portugal. Havia um desconhecimento da situação real. Estes censos conseguiram aumentar o conhecimento sobre a dimensão e distribuição desta espécie invernante. Hoje sabemos quantas há e onde estão”, dados relevantes para a conservação da espécie, comentou o responsável.

Uma das conclusões é que a quase totalidade das águias-pesqueiras invernantes em Portugal está em cinco distritos: Aveiro, Lisboa, Santarém, Setúbal e Faro. Ou em cinco áreas naturais cruciais: Ria de Aveiro, Bacia do Tejo, Estuário do Sado e Ria Formosa.

Para Gonçalo Elias, este censo foi um sucesso, especialmente pela quantidade de pessoas que participaram, de Norte a Sul do país. “Foram dois meses de preparação deste censo, desde logo a identificar e contactar os coordenadores de zona que, por sua vez, construíram as equipas locais. Estas conseguiram coordenar muito bem as pessoas, distribuídas pelos vários pontos”, acrescentou.

De uma forma geral, os organizadores do censo afirmam que atingiram aquilo a que se propuseram, apesar de algumas pequenas barragens terem ficado por cobrir. E até o Estuário do Sado, região para a qual havia falta de voluntários nos dias anteriores ao censo, ficou bem coberto. “Conseguimos os voluntários necessários para o Sado, onde foram contadas 18 aves. Conseguimos cobrir quase tudo.”

E para melhorar a eficácia das observações este ano foram feitos percursos de barco na Ria de Aveiro, no rio Tejo (a partir de Santarém), em Alqueva e na Ria Formosa.

Agora falta conhecer os resultados do censo realizado no mesmo dia em Espanha e em Marrocos.

Para o futuro, Gonçalo Elias adianta que há “a intenção de repetir o censo” e reforçar a equipa na Albufeira de Alqueva. Mas as contagens futuras não deverão trazer grandes surpresas. “Nesta fase conseguimos um grau de cobertura do país que nos permite dizer que não terão ficado muitas aves por contar.”

 

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Fique a saber quais os distritos do país onde foram observadas águias pesqueiras e quais foram os números por região:

Santarém – Entre 39 e 42

Setúbal – Entre 29 e 38

Faro – 24 a 30

Aveiro – 23 a 29

Lisboa – 18 a 19

Évora- 5 a 6

Portalegre – 5

Beja – 3 a 5

Braga – 3

Coimbra – Entre 2 a 3

Viana do Castelo – 2

Leiria – 1

Porto – 1

Bragança – 0

Castelo Branco – 0

Guarda – 0

Vila Real -0

Viseu – 0

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Conheça aqui os resultados do 2º censo, realizado em Janeiro de 2016, e aqui os resultados do 1º censo, em Janeiro de 2015.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.