Os cientistas precisam de si para conhecerem os polinizadores de Portugal

O projecto “Polinizadores de Portugal”, cuja primeira campanha decorre até ao próximo domingo, pede a todos os portugueses que ajudem a saber quais são estas espécies de insectos e onde vivem. Basta uma foto.

 

Esta nova acção de ciência cidadã, que teve início no dia 16, prolonga-se até ao próximo domingo, 24 de Maio. A equipa organizadora junta o Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto ao Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO) e ao Parque Biológico de Gaia.

“Os polinizadores desempenham um papel extremamente importante nos ecossistemas, possibilitando a reprodução de plantas e levando à formação de frutos e sementes”, nota um comunicado dos responsáveis pelo projecto, que lembra que “cerca de 80% das plantas cultivadas dependem dos polinizadores”.

Em Portugal, já se sabe que existem vários milhares de espécies de polinizadores. E ainda que alguns destes animais pertençam a outros grupos, a grande maioria é da classe dos insectos, acrescentam.

 

Abelha da espécie Hylaeus meridionalis. Foto: Rui Andrade

 

Ainda assim, muito continua por saber “sobre estes animais tão especiais.” O objectivo dos cientistas é perceber melhor quais são as diferentes espécies, em que zonas do país podem ser encontradas, em que alturas do ano é que visitam as flores, e mesmo qual é a sua abundância.

Assim, quem quiser participar tem apenas de fazer o registo das “espécies de polinizadores encontrados em flagrante nas flores de vasos, canteiros, varandas, jardins e quintais de suas casas.”

“Basta tirar uma fotografia e submetê-la online através da plataforma BioDiversity4All, fazendo uma identificação tão completa quanto possível”, explicam os organizadores do projecto. De seguida, a comunidade de investigadores iNaturalist tentará identificar a espécie fotografada e essa informação fica disponível na plataforma.

 

“Promover o conhecimento dos insectos”

Além de ajudar os cientistas a conhecerem melhor estes insectos, o projecto quer também “aproximar a população portuguesa da natureza”, explicou à Wilder a coordenadora, Sónia Ferreira. Até porque a equipa sente necessidade de “promover o conhecimento da diversidade e importância dos insetos, que são ainda vistos muitas vezes na generalidade como ‘bichos’, ‘maus’ e/ou ‘perigosos'”.

 

mosca de corpo amarelo sobre flor amarela
Mosca-das-flores, da espécie Episyrphus balteatus. Foto: Rui Andrade

 

Por outro lado, a nova iniciativa é lançada numa altura em que se comemoram o Dia Mundia da Abelha,  já esta quarta-feira, e ainda o Dia Internacional da Biodiversidade, na próxima sexta-feira, adiantou a mesma responsável, que é investigadora do CIBIO-InBIO.

Como vão ser utilizados os dados obtidos? “Além de conhecer melhor a distribuição das espécies em Portugal, a sua abundância e os períodos em que visitam as flores, e perceber o seu estatuto de conservação, gostaríamos de explorar os dados para estudar relações planta-insecto, uma área de investigação que o investigador do CIBIO, Javier Valverde, tem vindo a trabalhar.”

 

Escaravelho Attagenus trifasciatus. Foto: João Nunes

 

Em cima da mesa estão ainda muitas outras ideias e alguns projectos, mas o seu avanço vai depender da qualidade de dados e da adesão de cidadãos-cientistas nesta primeira campanha.

 

Dados ficam públicos

Quanto aos dados recolhidos e à informação prestada, os registos introduzidos na BioDiversity4All ficam públicos desde o primeiro momento, tal como de todas as outras espécies cujas imagens são submetidas nesta plataforma.

Ainda assim, por vezes não é possível identificar a espécie, pois “nem sempre as características que permitem distinguir espécies são visíveis nas imagens.” Mas mesmo nesses casos, é possível “atribuir o exemplar observado a um determinado grupo.”

Para já, a primeira campanha realiza-se até 24 de Maio, mas o projecto não tem data para acabar: ” Ficará em funcionamento na plataforma BioDiversity4All e todas as pessoas são convidadas a contribuir com os seus registos em qualquer altura do ano.”

Por um lado, novos registos dos mesmos insectos, mesmo que nos mesmos locais, vão permitir perceber melhor os seus períodos de actividade. Por outro, nesta altura do ano, muitas espécies estão ainda na forma de ovo, larva ou pupa, pois os adultos ainda não eclodiram.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.