gaio com uma semente no bico
Gaio. Foto: Jerzystrzelecki / Wiki Commons

Os gaios escondem milhares de bolotas

É no Outono que amadurecem as bolotas dos carvalhos e de outras árvores da espécie Quercus, como sobreiros e azinheiras. Esta é uma oportunidade bem aproveitada pelos gaios, que as armazenam debaixo de folhas e de vegetação rasteira.

 

“As bolotas são enterradas e ficam bem escondidas. Caso contrário, outros animais poderiam roubá-las, pois há inúmeros animais que gostam de comer bolotas, desde inúmeros ratinhos aos javalis e muitas aves”, explica Paulo Catry, investigador do MARE-Centro de Ciências do Mar e do Ambiente.

Este ornitólogo lembra que “as bolotas são super-abundantes no Outono e se armazenadas, fornecem um rico alimento para o Inverno”.

 

Foto: Jerzystrzelecki / Wiki Commons
Foto: Jerzystrzelecki / Wiki Commons

 

Os gaios são aves da família dos corvídeos (Corvidae). São omnívoros e comem o que estiver disponível, incluindo insectos e ovos de outras aves, mas as bolotas são a parte mais importante da sua dieta.

 

Foto: Jojo / Wiki Commons
Foto: Jojo / Wiki Commons

 

Calcula-se que cada gaio esconde vários milhares de bolotas por ano, que depois do Inverno vão ser importantes ainda nos restantes meses. Para as comer, partem a casca com o bico e comem o que está no interior.

“Têm uma memória incrível e podem memorizar durante meses centenas de esconderijos de bolotas”, adianta Paulo Catry.

 

‘Semeadores’ de carvalhos

 

No entanto, todos os anos, são muitas as bolotas que acabam por ficar esquecidas nos seus esconderijos, acabando por dar origem a novas árvores, o que transforma os gaios num dos mais importantes “semeadores” de carvalhos e de outras plantas da espécie Quercus – tanto no campo como em jardins de cidades.

Muito variável é a distância a que os gaios escondem estes alimentos: tanto podem ficar enterrados a cerca de três metros da árvore onde foram colhidos, como a pouco mais de meio quilómetro, concluíram dois investigadores espanhóis do CEAM-Centro de Estudos Ambientais do Mediterrâneo, Josep Pons e Juli Pausas.

As bolotas das azinheiras (Quercus ilex) estão entre as mais apreciadas por estas aves, seguidas pelas do sobreiro (Quercus suber) e do carvalho-cerquinho (Quercus faginea), notam os mesmos investigadores.

 

Os gaios apreciam as bolotas do sobreiro. Foto: Carsten Niehaus/Wiki Commons

 

Já Paulo Catry reconhece que não é fácil observar gaios nesta actividade, uma vez que são aves “muito discretas” no campo. Ainda assim, por vezes um observador mais atento poderá avistar um gaio a passar com uma bolota no bico, geralmente as maiores.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Cientistas e comunicadores de ciência explicam-nos o que a natureza em Portugal está a fazer no Outono e porquê, nesta nova série Wilder.

A migração das libélulas.

Tritões-de-ventre-laranja estão a voltar aos charcos.

A transformação das folhas das árvores.

Os sapos-de-unha-negra cantam e põem ovos nos charcos dunares.

 

 

 

 

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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.