Porque é que alguns ovos de aves têm cores e padrões?

Brancos, azuis, amarelos, castanhos, com manchas ou às riscas. Os ovos das aves apresentam uma enorme variedade de cores e de desenhos.

A camuflagem é uma das principais explicações para as diferenças nos ovos. Os que têm padrões “são mais crípticos e portanto mais difíceis de encontrar pelos predadores”, explica Teresa Catry, investigadora ligada à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

É normal em aves que fazem ninho no chão, como por exemplo algumas aves marinhas – a andorinha-do-mar-anã (Sternula albifrons) – e aves limícolas, associadas a zonas húmidas, como os estuários e as lagoas. É o caso dos pernilongos (Himantopus himantopus): “Constroem ninhos simples no chão com alguma vegetação e pedras ou também conchas e os ovos têm uma coloração castanho-esverdeado com manchas pretas, castanhas e cinzentas.” 

Ninho de pernilongo. Foto: Teresa Catry

Mas também acontece com alguns passeriformes, como é o caso dos pardais-comuns (Passer domesticus), que constroem ninhos com vegetação em diferentes locais. “Os ovos são de fundo claro pintalgados com pintas ou riscos castanhos, por vezes avermelhados”, descreve Teresa Catry. 

Por outro lado, apesar de haver espécies que tipicamente têm ovos com padrões e outras que não, “há muita variação.” Por exemplo? “Nalgumas espécies de gralhas, pardais, ou outras, é frequente um mesmo indivíduo ter um ovo na sua postura muito mais claro ou desprovido de padrões do que os restantes”. 

Essas diferenças individuais servem de base para uma outra explicação encontrada pelos cientistas: são uma ajuda para os progenitores reconhecerem os seus ovos. É o que sucede em grandes colónias marinhas, como as dos airos (Uria aalge), que têm um elevado número de ninhos.

Já as aves que fazem ninho em cavidades “costumam ter ovos brancos ou azul claro, o que ajuda os adultos a encontrar os ovos em locais potencialmente escuros.” 

Ovos de peneireiro-vulgar. Foto: Teresa Catry

“Claro que existem inúmeras exceções”, sublinha a ornitóloga. É possível que os padrões nos ovos tenham outras funções: tornar mais forte a estrutura da casca do ovo, compensando a falta de cálcio, até porque as manchas escuras aparecem muitas vezes nas zonas mais frágeis da casca. Ou também podem resultar de um processo de seleção sexual, assinalando a qualidade das fêmeas.  

Dois pigmentos, muita variedade

Apesar de existirem apenas dois pigmentos responsáveis pela coloração e padrões dos ovos das aves, estes produzem uma grande variedade. “Um é um pigmento azulado ou esverdeado, que quando aparece está presente na totalidade da casca do ovo, e dá um aspeto branco ou azulado ao ovo.” O outro “dá colorações que variam entre o castanho, vermelho e o preto, ou cores intermédias entre estas”, explica Teresa Catry.

 Quando este último pigmento cobre de forma homogénea as cascas dos ovos, estes podem ficar por exemplo amarelos, se o pigmento produzir castanho sobre uma cor branca de base. Ou então ficam verdes, quando o pigmento anterior lhes dá um aspeto azulado, nota esta ornitóloga. “É este segundo pigmento que é responsável pelo aparecimento de marcas e padrões nos ovos.” 

No caso dos peneireiros-vulgares (Falco tinnunculus), o resultado são ovos geralmente de tonalidade escura (castanho-avermelhados), com manchas também castanhas ou vermelho-escuras em toda a casca. Estas aves podem ver-se em muitas vilas e cidades, incluindo Lisboa, e fazem ninhos em cavidades normalmente abertas.


Um naturalista no Jardim Gulbenkian – Como e porquê

O Jardim Gulbenkian é um refúgio para inúmeros animais e plantas mesmo no coração de Lisboa. Ali, podemos aprender mais sobre como vivem as espécies e porque fazem o que fazem.  

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Com esta segunda série “Um Naturalista no Jardim Gulbenkian” poderá ficar a saber porque têm as libélulas olhos tão grandes, como é que os morcegos caçam à noite, como se reproduzem os cogumelos e outras curiosidades que provam o quão fantástica é a natureza.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.