Rã-verde (Rana perezi). Foto: Júlio Reis/Wiki Commons

Porque é que coaxa a rã-verde?

Por estes dias, pode ser que ainda vá a tempo de ouvir um coro de barulhentas rãs-verdes. Rui Rebelo, especialista em anfíbios, explica o que andam a fazer.

A rã-verde (Rana perezi) é o anfíbio mais comum em Portugal. Um dos locais onde vive é no Jardim Gulbenkian, em Lisboa. Pode ser ouvida de dia e de noite, especialmente entre Maio e Julho, período durante o qual está mais activa.

Os únicos cantores desta espécie são os machos. “Nas fêmeas, os sacos vocais que estes anfíbios têm nos cantos da boca são rudimentares, não estão sequer desenvolvidos”, explica Rui Rebelo, especialista em anfíbios e investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Ainda assim, estas emitem alguns sons de alarme quando enfrentam uma situação de perigo.

Já os machos cantam para atrair as fêmeas, dando-lhes o sinal de que estão prontos para acasalar. 

A reprodução acontece desde meados da Primavera até ao final do Verão. As fêmeas põem os ovos na água, normalmente presos à vegetação aquática. Depois, os machos lançam o esperma sobre os ovos e fertilizam-nos naquele momento. 

Mas uma mesma fêmea pode pôr mais ovos posteriormente, desde que a temperatura da água não baixe muito: “Como os ovos estão mergulhados na água, se esta estiver demasiado fria os ovos demoram mais tempo a desenvolver-se, correndo maiores riscos de serem predados”, acrescenta Rui Rebelo.

Rã-verde (Rana perezi). Foto: Júlio Reis/Wiki Commons

Normalmente, os machos cantam em coro, competindo entre si pelas fêmeas. “Quando um macho começa a cantar, os outros começam a cantar também. É uma competição, onde os machos se anunciam às fêmeas em conjunto.”

Quanto mais grave melhor

Quanto a estas, só precisam de escolher. O critério é selecionar o macho que tiver um canto mais grave e mais intenso.

É que o canto do macho é indicativo da sua qualidade genética. Se tiver um canto grave e intenso, isso não significa que é mais maduro, mas sim que “teve uma fase juvenil bastante boa, durante a qual cresceu bastante”, acrescenta o especialista. “Quanto maior o animal, mais grave e intenso é o som.” 

Aliás, outra função do canto na rã-verde é repelir outros machos. “Num coro, um macho com a voz mais fraca nem vale a pena tentar atrair uma fêmea, mais vale sair dali.”

Por vezes, e para quem tiver mais experiência, é possível distinguir os cantos dos machos mais novos e mais velhos. “As rãs começam a cantar quando atingem a idade de reprodução, por volta dos dois anos. Os primeiros cantos são fracos e mais agudos. Depois começam a ficar muito parecidos e, regra geral, mais graves”.

Segundo Rui Rebelo, há espécies de rãs do Sudeste Asiático que treinam os seus cantos, preparando-se para o grande momento. “Está provado que, em algumas espécies, os machos procuram cavidades nas árvores para cantar, de forma a aumentar ao máximo o som que fazem. Isto sem haver fêmeas presentes”.

Que se saiba, a rã-verde é mais espontânea, preferindo aprender com a experiência.


Ao longo do ano, a cada mês, a revista Wilder desvenda-lhe alguns dos fenómenos que estão a acontecer no mundo natural, incluindo no Jardim Gulbenkian.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.