Portugueses estão a ajudar cientistas a mapear esta planta exótica invasora

Está a decorrer desde 1 de Setembro uma nova campanha para mapear espécies exóticas invasoras em Portugal. Aqui fica o que precisa saber para participar neste projecto de ciência cidadã e ajudar a procurar a erva-das-pampas em Portugal.

 

São já 500 as pessoas inscritas no projecto Invasoras.pt, plataforma com cerca de três anos que está a criar um mapa com as espécies exóticas invasoras em Portugal. Já há mais de 10.000 avistamentos registados.

A 1 de Setembro, os investigadores que coordenam o projecto, lançaram um pedido especial aos cidadãos: precisam de ajuda para pôr no mapa os locais onde existe erva-das-pampas (Cortaderia selloana).

 

Flor da erva-das-pampas. Foto: Invasoras.pt
Flor da erva-das-pampas. Foto: Invasoras.pt

 

“Esta é uma planta nativa da América do Sul, mais concretamente da Argentina e do Chile, que foi introduzida em Portugal como planta ornamental” há muitas décadas, explica à Wilder Hélia Marchante, investigadora na Universidade de Coimbra e no Instituto Politécnico de Coimbra e uma das responsáveis pelo Invasoras.pt. “Durante anos esteve limitada aos jardins onde era plantada mas, a pouco e pouco, começou a ultrapassar barreiras e a espalhar-se de forma descontrolada. Hoje é uma das plantas exóticas invasoras que mais tem aumentado a sua distribuição em Portugal”, acrescenta.

Actualmente, é uma das espécies com mais registos na plataforma Invasoras.pt. Só esta planta tem 680 pontos de presença confirmados. “A zona Litoral Norte é a mais problemática, mas também há grandes focos nas zonas de Lisboa e de Sintra”, explica.

Mas este mapa ainda está incompleto e precisa da ajuda dos cidadãos. O grande objectivo é sirva de ponto de partida para tomadas de decisão de gestores do território ou para qualquer pessoa que precisar da informação, de forma gratuita.

“Apesar de ser muito bonita, por isso é que foi introduzida em Portugal, esta planta pode trazer problemas de saúde pública – uma vez que as suas folhas são muito cortantes -, pode causar alergias e é uma ameaça à biodiversidade e vegetação autóctones de Portugal.”

 

Este é um indivíduo particularmente grande; os que se observam mais frequentemente têm dimensões menores. Foto: Invasoras.pt
Este é um indivíduo particularmente grande; os que se observam mais frequentemente têm dimensões menores. Foto: Invasoras.pt

 

Para agravar o cenário, esta espécie é de fácil dispersão. “Cada planta produz milhões de minúsculas sementes todos os anos, nesta época. Estas sementes são muito leves e por isso facilmente dispersadas, até mesmo com a deslocação do ar causada pela passagem dos automóveis”, explica a investigadora.

Há duas coisas que pode fazer, segundo Hélia Marchante. “Quem tiver a planta no seu jardim pode tentar removê-la, tendo muito cuidado para não se cortar. Se não for possível, pode tentar cortar as plumas onde estão as sementes.” Além disso, pode ajudar a completar o mapa no site do projecto ou descarregando uma aplicação para o telemóvel (para dispositivos Android).

Na opinião de Hélia Marchante, “sem a ajuda dos cidadãos seria impossível conseguir estes dados, varrendo o país todo e listando as exóticas”. Além da informação que se ganha, “outra mais-valia do projecto é conseguir que as pessoas comecem a despertar para a problemática das exóticas invasoras e comecem a conhecê-las”.

E esta é a melhor época do ano para o fazer, pelo menos quanto à erva-das-pampas. Aqui fica o que precisa saber para ir à procura desta exótica invasora:

 

Foto: Invasoras.pt
Foto: Invasoras.pt

 

Como identificar:

É uma erva que pode chegar até aos 2,5m, com flores reunidas em grandes plumas branco-prateadas com 40 a 70 centímetros. As folhas são acinzentadas ou verde-azuladas e têm margens muito cortantes.

 

Os melhores locais:

Comece por procurar esta planta em bermas de estradas e auto-estradas, perto de linhas de caminho de ferro, em terrenos baldios e abandonados e em dunas costeiras. E tem muitos locais por onde escolher, uma vez que a espécie está presente no Minho, Trás-os-Montes, Douro Litoral, Beira Alta, Beira Litoral, Estremadura, Alto Alentejo, Baixo Alentejo, Algarve e na ilha de São Miguel (Açores).

Descubra aqui os 680 pontos já registados da erva-das-pampas e veja se a sua zona já lá está.

 

Quando é a melhor altura para a identificar:

A melhor altura para a procurar é entre Agosto e Outubro, quando a planta está em flor.

 

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Em Portugal estima-se que existam cerca de 670 espécies exóticas, desde árvores a flores e arbustos. O site do projecto Invasoras.pt tem à sua disposição a lista das espécies invasoras, com uma fotografia de cada uma para ajudar à identificação. A lista está organizada por árvores e arbustos, ervas, ervas aquáticas, suculentas e trepadeiras. Consoante a época do ano, o projecto lança desafios para o registo de determinada espécie. Conheça aqui outra campanha do Invasoras.pt.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.