um esquilo vermelho com as quatro patas no chão
Foto: Fabien1309/Wiki Commons

Portugueses já contribuíram com 1.800 registos para sabermos onde há esquilos

Desde Novembro de 2013, quando foi criada a página de Facebook “O Esquilo Vermelho em Portugal”, até ao final de Setembro passado, os investigadores obtiveram 1.811 registos sobre a observação de esquilos. A Wilder falou com Rita Gomes Rocha, da Universidade de Aveiro, que destaca as “inúmeras” vantagens de projectos como este.

 

Objectivo da equipa? Ajudar a colmatar a “falta de conhecimento sobre a distribuição desta espécie em Portugal, de onde esteve ausente durante quase quatro séculos”, mas também testar as redes sociais como uma ferramenta para o envolvimento público, explica um artigo científico agora publicado na revista European Journal of Wildlife Research.

Foi devido à agricultura intensiva e ao corte de madeiras para a construção naval que o esquilo-vermelho (Sciurus vulgaris) desapareceu do território português. A recolonização começou durante os anos 1980, com a “florestação de largas áreas de pinheiros”.

Desde então, a espécie espalhou-se pelo Norte e Centro do país – mas faltava fazer um retrato mais exacto dos locais onde ocorre, em especial durante os últimos 15 anos, lembram os quatro autores do artigo, ligados às universidade de Aveiro, do Espírito Santo (Brasil) e de Glasgow (Escócia).

A maior fatia dos registos chegou aos cientistas através de um inquérito online (aberto de Fevereiro de 2014 a Abril de 2015), mas uma parte importante veio também das mensagens enviadas no Facebook. Outros dados chegaram através de email. Incluída foi ainda informação recolhida numa pesquisa inicial em plataformas online.

 

esquilo vermelho meio escondido atrás de um coto de árvore
Foto: Adrian Kirby/Pixabay

 

Conclusão? Nos últimos 15 anos, o esquilo “expandiu-se rapidamente” através do Centro de Portugal. “A distribuição dos registos sugere possíveis origens da dispersão ligadas às fronteiras espanholas”, mas “a transformação da agricultura portuguesa em monoculturas florestadas”, nas últimas duas décadas, também terá contribuído.

Entretanto, surgiram registos de avistamentos a sul do rio Tejo, que “sugerem uma expansão continuada através de lugares florestados que podem abrigar esta espécie”, mas aqui os registos são bem mais escassos e distanciados uns dos outros. Possivelmente devido “à falta de habitats florestais adequados”, mas pode haver também responsabilidade nas limitações deste método de ciência cidadã, aponta-se no artigo.

“O facto de não haver registos numa determinada área não implica que a espécie está ausente nessa área, apenas significa que não tivemos confirmação da sua ocorrência”, explicou Rita Gomes Rocha, coordenadora do projecto, contactada pela Wilder.

Uma forma de ultrapassar esse problema é conjugar os dados recebidos com “métodos tradicionais de monitorização do esquilo (técnicas de campo), para confirmar a presença ou ausência da espécie” num determinado local.

 

Mais próximos das pessoas

Ainda assim, as vantagens do recurso a projectos de ciência cidadã como este, com base em redes sociais e na Internet, “são inúmeras”. A começar pelos “custos reduzidos de implementação” e também “o alcance”.

“Seria quase quase impossível para um cientista ou grupo de cientistas percorrer o país de alto a baixo para conseguir registar o esquilo em toda a extensão do território nacional”, diz a investigadora da Universidade de Aveiro.

Rita Gomes Rocha aponta ainda outras vantagens: “A proximidade com as pessoas, perceber as suas curiosidades e dúvidas em relação à espécie, e também preocupações com a sua protecção”. “Na sua maioria, as pessoas acham o esquilo um animal “simpático” e gostam de o observar na natureza, e em muitos casos perto das suas casas.”

Quanto ao futuro do projecto, totalmente suportado pela Unidade de Vida Selvagem do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro, o próximo passo passa pela análise dos registos e amostras de DNA de esquilo recolhidas pelas pessoas.

Ideal seria conseguirem mais financiamento, admite está bióloga, pois permitiria fabricar uma ‘app’ que facilitaria a identificação de esquilos e dos seus vestígios, tal como o registo, através do telemóvel.

“Vamos esperar terminar esta fase para perceber qual será o futuro do projecto e perceber quais as próximas questões que são necessárias responder”, adianta a mesma responsável, que lembra que continuam “a recolher registos do esquilo da mesma forma”.

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

Na página Facebook do projecto, explica-se de que forma todas as pessoas podem contribuir:

– Registos de observação de esquilos – na natureza ou atropelados na estrada.
– Registos de indícios de presença de esquilo – pinhas roídas, ninhos.
– Recolha de material genético – amostra de pelo e/ou exemplar atropelado.
– Informações relevantes sobre a espécie e o seu comportamento – através do envio de uma mensagem.

Sempre que possível, indique:

Nome do local da observação/coordenadas:
Data:
Hora (período):
Número de indivíduos:
Comportamento:
Nome do observador:

Mesmo que não disponha de toda a informação pedida, partilhe o seu registo.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Conheça as dicas de Rita Gomes Rocha sobre como encontrar esquilos, em Portugal.

Recorde ainda como é que o esquilo-vermelho já está a chegar ao Alentejo.

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.