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Primavera em casa: o que plantar e como organizar um mini-jardim naturalista

A semana passada mostrámos-lhe o jardim que a leitora Ana Correia está a criar para ajudar a biodiversidade. Agora, deixamos-lhe os seus conselhos sobre como poderá ter o seu mini-jardim naturalista.

 

Ana Correia, 30 anos, vive na Escócia, a Norte de Glasgow, onde trabalha como técnica de Sistemas de Informação Geográfica. O seu jardim tem cerca de 280 metros quadrados e está a ser preparado e melhorado há cerca de dois anos para bem receber aves, insectos e mamíferos.

 

 

No início deste ano, a leitora criou uma página no Facebook, “Jardinando para a vida selvagem”, ao estilo de diário, onde partilha as suas experiências e conselhos.

“Estou em diversos grupos de jardinagem, todos orientados para a vida selvagem, em grupos de reflorestação ou de “rewilding”, mas todos do Reino Unido. Sempre que procurava esse tipo de ligação em Portugal percebia que não existia. Existem grupos ligados à agricultura, à permacultura, outros ligados ao ambiente. Mas nunca consegui encontrar algo semelhante, sobre ter um quintal ou um jardim cultivado mas não para qualquer tipo de benefício humano, apenas para o benefício da vida selvagem de cada região, seja ela rural ou urbana”, explicou Ana Correia à Wilder.

A sua página no Facebook é encarada como uma espécie de “diário de bordo” do seu jardim. “Serve para eu compilar fotografias, datas, informação sobre espécies mas também para que outros possam, quem sabe, sentir-se inspirados em fazer o mesmo.”

 

 

“No fundo é isso que eu gostava, uma revolução nas varandas, nos pátios, nos terraços, nos quintais e jardins de Portugal e a criação de uma comunidade ligada à jardinagem para a vida selvagem. Sei que essas pessoas existem e que muitas estão a fazer o mesmo que eu. Mas creio que seria interessante criar uma comunidade online onde todos se envolvessem e partilhassem experiências.”

Vamos então aos conselhos e sugestões:

  • Evite utilizar adubos químicos ou pesticidas;

 

  • Procure obter plantas autóctones e evite as plantas exóticas;

 

  • Na hora de escolher o que plantar, opte por ervas aromáticas – como lavanda, tomilho, manjerona, rosmaninho, hortelã, por exemplo. Para pessoas com espaços mais pequenos, as aromáticas resultam sempre, especialmente se forem plantas adaptadas ao clima da região onde vive;

 

  • Se tiver essa possibilidade, coloque alguns arbustos mais altos;

 

  • Deixe dois ou três vasos com terra e sem plantar nada. Quando as chamadas “ervas daninhas” começarem a surgir, não as remova”;

 

 

  • Para máximizar o espaço e criar abrigos que poderão ser usados por diversos animais aposte em trepadeiras. É muito fácil fazer estruturas com materiais reutilizados e há ideias muito engraçadas online que nos podem ajudar;

 

  • Deixe alguns espaços mais “sujos e desarrumados”. Ana Correia sabe que isso pode ser mais complexo para aqueles que vivem em apartamentos, mas umas folhas secas nos cantos da varanda atrás dos vasos não fazem mal, nem é motivo para ninguém fazer queixas;

 

  • Para quem não tem receio de abelhas, aposte em pequenos hóteis para insectos;

 

  • Instale comedouros e bebedouros com água para os pássaros;

 

  • Para quem tem espaços maiores, plante uma sebe com plantas que existem no meio natural que o rodeia. Uma sebe assim é óptima para atrair pequenas aves;

 

  • Se tiver possibilidade, deixe espaço para a natureza, através de pilhas com os restos do jardim – que atraiem imensos animais – e de uma zona do jardim livre para crescer de forma selvagem ou com muito pouca manutenção;

 

 

  • Recorra a espaços comunitários se não tiver nem quintal nem varanda. “Sei que parece estranho e quase surreal nos tempos que correm em que os vizinhos quase não se falam, sugerir algo assim. Mas a verdade é que, pela minha experiência pessoal, resulta. Falar com os vizinhos do prédio e perguntar se se incomodam que se coloquem uns vasos à entrada do prédio, assegurem que ficam responsáveis, expliquem o que estão a fazer. Perguntem se podem começar a plantar naquele canteiro que existe na rua e que funciona mais como cinzeiro que como vaso. Iniciem contacto, não tenham receio. A primeira reacção costuma ser descrença mas à medida que as pessoas vêm os resultados, essa atitude muda.”

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Acompanhe aqui a vida no jardim de Ana Correia através da página que criou no Facebook.

Conheça aqui a história sobre o casal de poupas que está a fazer ninho no forno da casa de Carlos Pacheco.

Descubra aqui qual a importância da sua varanda ou quintal para a vida selvagem, com a ajuda do biólogo Nuno Curado.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

A nossa casa pode ser um lugar de biodiversidade. Se tem alguma espécie selvagem que encontra abrigo ou alimento na sua casa, conte-nos o seu testemunho e a sua história enviando um email para [email protected].

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.