uma coruja-das-torres em voo
Coruja-das-torres. Foto: Edd Deane/Wiki Commons

Qual a diferença entre mocho e coruja?

Em Portugal são sete as espécies de aves de rapina nocturnas. Mas qual a diferença entre mocho e coruja? E o bufo-real e o bufo-pequeno, onde ficam? Torne-se um perito com as dicas da investigadora Inês Roque.

A riqueza de rapinas nocturnas no nosso país assenta em sete espécies: três corujas (coruja-do-nabal, coruja-do-mato e coruja-das-torres); dois mochos (mocho-galego e mocho-d’orelhas); e dois bufos (bufo-real e bufo-pequeno).

Todas são indicadoras de ecossistemas equilibrados e de grande valor biológico. Fazem controlo natural de pragas de micromamíferos e insectos e, como são predadores de topo, ajudam à sustentabilidade das populações das suas presas.

uma coruja-das-torres em voo
Coruja-das-torres. Foto: Edd Deane/Wiki Commons

Mas qual a diferença entre mocho e coruja? E os bufos? 

“Em termos gerais, poderíamos dizer que os mochos são as aves de rapina noturnas de pequeno porte, as corujas são as de médio porte e o bufo é a maior das aves de rapina noturnas”, explica Inês Roque, investigadora do Laboratório de Ornitologia – Universidade de Évora.

Mas a resposta nem de longe é assim tão simples e o tamanho não é o critério que as distingue.

“O critério do tamanho é inviabilizado pelo bufo-pequeno, que é sensivelmente do tamanho da coruja-das-torres.”

Coruja-do-nabal. Foto: Steve Garvie/Wiki Commons

Algumas rapinas noturnas têm penachos auriculares, que são penas longas localizadas junto ao ouvido e que parecem orelhas. Tal é o caso do bufo-pequeno e do bufo-real.

Mas, mais uma vez, este critério não serve para distinguir os bufos das outras rapinas nocturnas. “Este critério é inviabilizado pelo mocho-d’orelhas, uma espécie migradora que está em Portugal a partir de maio, que é sensivelmente do tamanho do mocho-galego e que também tem “orelhas”. E não é um bufo”, acrescenta Inês Roque.

Bufo-real. Foto: Dick Daniels/Wiki Commons

Há ainda o critério da cor dos olhos.

“Em geral, as corujas têm olhos pretos, os mochos têm olhos amarelos e os bufos têm olhos cor-de-laranja.”

“Só que depois temos a coruja-do-nabal, outra espécie migradora que está em Portugal a partir de outubro, que tem olhos amarelos (e não é um mocho).”

Conclusão: “os nomes comuns são apenas isso, não podem ser associados a uma característica específica e não têm valor taxonómico”, diz Inês Roque. Podem variar de acordo com a cultura local. Por exemplo, o bufo-real também pode ser chamado de mocho em algumas regiões de Portugal.

Saiba mais. 

Conheça estes números sobre as populações das sete espécies:

Coruja-das-torres (Tyto alba):

Residente

Estimativa populacional: 5.700-8.100 casais

Tendência negativa

Estatuto: Pouco Preocupante

Mocho-d’orelhas (Otus scops):

Estival

Estimativa populacional: 3.500-7.700 casais

Tendência negativa

Estatuto: Informação Insuficiente

Bufo-real (Bubo bubo):

Residente

Estimativa populacional: 380-580 casais

Tendência incerta

Estatuto: Quase Ameaçado

Mocho-galego (Athene noctua):

Residente

Estimativa populacional: 58.000-137.000 casais

Tendência negativa

Estatuto: Pouco Preocupante

Coruja-do-mato (Strix aluco):

Residente

Estimativa populacional: 8.000-15.000 casais

Tendência incerta

Estatuto: Pouco Preocupante

Bufo-pequeno (Asio otus):

Residente

Estimativa populacional: 200-1.000 casais

Tendência incerta

Estatuto: Informação Insuficiente

Coruja-do-nabal (Asio flammeus):

Invernante

Estimativa populacional: 100-160 indivíduos

Tendência não disponível

Estatuto: Em perigo

Estimativas populacionais: Lourenço et al.2015. Current status and distribution of nocturnal birds (Strigiformes and Caprimulgiformes) in Portugal. Airo 23: 36-50.

Tendências populacionais: GTAN-SPEA, 2017. Relatório do Programa NOCTUA Portugal (2009/10 – 2016/17). Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, Lisboa (relatório não publicado). 

 
Agora é a sua vez:
Participe no censo NOCTUA , o programa nacional de monitorização de aves noturnas da SPEA, e ajude a contar as rapinas nocturnas de Portugal.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.