Retiradas da caldeira de Tróia 2.580 embalagens de sal e 560 quilos de lixo

Vinte e nove voluntários passaram o dia de sábado a limpar a caldeira de Tróia e retiraram 2.580 embalagens de sal vazias, usadas por mariscadores na apanha do lingueirão, e 560 quilos de lixo, informou a organização Ocean Alive.

 

No sábado dia 20 de Agosto, 29 voluntários trabalharam desde as 08h00 às 19h30 na caldeira de Tróia, reentrância do estuário do Sado considerada de grande importância ecológica, estando integrada na rede de sítios prioritários para a conservação da natureza na Europa. “É considerada uma maternidade de vida marinha e oferece abrigo e alimentação a muitas aves marinhas”, salienta a organização, em comunicado. Esta laguna, que enche e esvazia com as marés, tem um fundo lodoso e está rodeada de sapal e pinhal. São muitas as aves aquáticas que ali se vão alimentar ou descansar, como os pilritos, os fuselos, garças e mesmo aves migradoras como os mergansos.

 

 

Esta foi a sexta acção das 13 acções mensais previstas pela campanha “Mariscar Sem Lixo”, a decorrer desde 25 de Março de 2016 no estuário do Sado por iniciativa da Ocean Alive, cooperativa de educação marinha. No total, 242 voluntários ajudaram a recolher um total de 10.595 embalagens de sal fino vazias deixadas para trás por alguns mariscadores.

As centenas de embalagens de plástico de sal fino usadas para apanhar o lingueirão ou peixe-navalha (Solen marginatus) são um problema para o Sado e para a vida marinha se forem deixadas nas areias do estuário. Com o tempo, as embalagens vão-se deteriorar e transformar-se em pequenas partículas de plástico que acumulam poluentes tóxicos e que acabam por ser ingeridas por peixes, mariscos e golfinhos. Estas partículas – que vão persistir durante décadas ou séculos – “poderão ferir, asfixiar, causar úlceras ou a morte de animais marinhos”, salienta a organização Ocean Alive. Além disso, “parte das embalagens vem dar às praias de Setúbal, Tróia e Arrábida, constituindo também um risco para a saúde pública”.

 

 

A caldeira de Tróia foi um dos escolhidos para estas intervenções por ser o sítio do estuário onde há maior acumulação de embalagens de sal. Aqui, a circulação da água aprisiona as embalagens na vegetação do sapal, acrescenta a Ocean Alive. Até agora já foram recolhidas na caldeira de Tróia um total de 5.780 embalagens, “enquanto que no conjunto das várias praias da margem Norte do estuário do Sado foram contabilizadas 4.815 embalagens recolhidas”.

Desde o seu início, a campanha recolheu também um total de mais de quatro toneladas de lixo das margens do estuário do Sado. A Câmara Municipal de Setúbal já colocou o primeiro caixote do lixo num dos locais de mariscagem, na margem Norte do estuário.

Além de limpar o estuário do Sado, a iniciativa procura sensibilizar os mariscadores para não deixarem as embalagens vazias para trás. No sábado passado, foram abordados 70 mariscadores.

A campanha insere-se na iniciativa “Guardiãs do mar: Salvar o Ambiente, Preservar Empregos” da Ocean Alive que, em Junho, venceu o prémio FAZ – Ideias de Origem Portuguesa, da Fundação Calouste Gulbenkian. O grande objectivo é envolver as mulheres pescadoras do Sado na protecção das pradarias marinhas do estuário.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.