Retiradas do Sado 1.500 embalagens de sal e 900 quilos de lixo

Trinta voluntários e 300 mariscadores retiraram do Estuário do Sado 900 quilos de lixo e 1.500 embalagens de sal fino, usado para apanhar lingueirão, no âmbito de uma campanha organizada pela Ocean Alive na sexta-feira passada.

 

As centenas de embalagens de plástico de sal fino usadas para apanhar o lingueirão ou peixe-navalha (Solen marginatus) são um problema para o Sado e para a vida marinha se forem deixadas nas areias do estuário.

Na Sexta-feira santa, dia do ano em que mariscar é tradição em várias populações costeiras, decorreu uma campanha para evitar lixo no estuário e no mar.

Das 08h00 às 14h00, 30 voluntários – de Setúbal, Lisboa, Almada, Azeitão e Mafra – acompanharam a apanha do linguirão na zona de Eurominas, no Estuário do Sado, falando com os mariscadores e entregando-lhes sacos para, no final, devolverem as embalagens de sal vazias.

Quase todos os 300 mariscadores que vieram de Sesimbra, Pinhal Novo, Poceirão, Faias, Palmela e Setúbal apanhar este bivalve na zona de Eurominas entregaram as suas embalagens de sal usadas.

“No regresso, após apanharem o lingueirão, quase todos vinham ter connosco para nos entreguar as embalagens vazias. No final, apenas um ou outro dos 300 mariscadores, terá deixado as embalagens na maré”, segundo um comunicado da Ocean Alive.

Um mariscador do Poceirão disse que este ano as pessoas estavam a ter mais cuidado em não deixar o frasco de sal no chão e um outro que veio de Setúbal expressou a vontade de repetir a campanha todos os anos.

“Foram recolhidas todas as embalagens de sal vazias visíveis”, escreve a organização. “Conseguimos evitar que neste ano, na maré enchente, não entrassem centenas de embalagens de sal vazias para o mar.”

Agora, as embalagens de sal, recolhidas pela Câmara Municipal de Setúbal, serão recicladas pela empresa Extruplas. Em vez de ficarem no estuário e acabar por integrar o ecossistema marinho – desde os peixes ao marisco e aos golfinhos do Sado – serão transformadas em mesas, cadeiras, bancos e floreiras.

Além disso, os voluntários recolheram 66 sacos de lixo, num total de 900 quilos, da zona circundante e no parque de estacionamento. Na sua maioria eram garrafas de plástico e vidro, latas, roupa, calçado velho, pneus, sacos de plástico e embalagens. “Naquele local, a maré encheu o estuário não tinha embalagens a boiar, o que era tradição nos anos passados”, salientou a organização.

A Ocean Alive deixa agora a porta aberta para novas campanhas no futuro. “Nesta sexta feira, o mar ficou limpo. Será necessário voltar para o ano para concluir sobre o resultado a longo termo desta acção.”

Entre 50 e 80% do lixo nas zonas costeiras do planeta é lixo plástico, segundo um relatório sobre plásticos nos oceanos publicado em 2014 pela União Internacional de Conservação da Natureza (UICN), através do seu Programa Global Marinho e Polar. “A sua presença foi detectada desde as profundezas dos oceanos às zonas costeiras de todos os continentes.” Os tipos de lixo mais encontrados são tampas de garrafas, garrafas, sacos, embalagens, copos, pratos e talheres e palhinhas.

No caso do Estuário do Sado, um dos grandes problemas é o das embalagens de sal usadas para apanhar o lingueirão e que são deixadas nas areias. Com o tempo, as embalagens vão-se deteriorar e transformar-se em pequenas partículas de plástico que acumulam poluentes tóxicos e que acabam por ser ingeridas por peixes, mariscos e golfinhos. Estas partículas – que vão persistir durante décadas ou séculos – “poderão ferir, asfixiar, causar úlceras ou a morte de animais marinhos”, salienta a organização Ocean Alive. Além disso, “parte das embalagens vem dar às praias de Setúbal, Tróia e Arrábida, constituindo também um risco para a saúde pública”.

A Ocean Alive é uma organização sem fins lucrativos que pretende “transformar comportamentos para a protecção do oceano, nomeadamente das pradarias marinhas do estuário, através da educação marinha e do envolvimento das comunidades costeiras locais”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.