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Machos de vaca-loura. Foto: Rafael Marques

Saiba como pode ajudar a salvar este escaravelho

O vaca-loura (Lucanus cervus) é o maior escaravelho em Portugal, mas é uma espécie ameaçada e que precisa de toda a ajuda possível. Desde logo, para os cientistas obterem mais dados sobre a sua situação.

 

Desde 2016 que Portugal colabora com outros 13 países europeus onde o vaca-loura está presente, no âmbito do projecto “European Stag Beetle Monitoring”, com a realização de um censo todos os anos, coordenado pela Rede Portuguesa de Monitorização da Vaca-Loura.

A terceira edição deste censo, que teve agora início, conta com a ajuda de todos os interessados, e espera-se que ajude a conhecer ainda melhor a situação e a área de distribuição deste escaravelho de grandes mandíbulas, no caso dos machos.

“Em Portugal, o estado de conservação da espécie é desconhecido, dado que ainda não há informação suficiente para avaliar”, adiantam os responsáveis do projecto VACALOURA.pt, numa nota enviada à Wilder.

“Esta espécie de escaravelho depende de madeira em decomposição de árvores de folha caduca para sobreviver, é um símbolo das florestas nativas do nosso país e está protegida por leis comunitárias, devido à redução dos efectivos populacionais um pouco por toda a sua área de distribuição (Europa)”, sublinham.

 

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Machos de vaca-loura. Foto: Rafael Marques

 

Os mais de 1000 registos obtidos em 2016 e no ano passado “permitiram quase duplicar a área de distribuição conhecida para esta espécie no nosso país.” Aliás, acrescentam, “47% da área conhecida, hoje em dia, é proveniente de informação compilada” no âmbito do VACALOURA.pt.

De que forma é que os cidadãos podem ajudar? “Enviando registos de avistamentos esporádicos ou adoptando percursos de monitorização da vaca-loura em zonas onde seja facilmente encontrada.”

Este ano, quem participar no censo vai contar com a ajuda de uma nova aplicação móvel gratuita, disponível para dispositivos móveis Android, que permite realizar o registo dos avistamentos de imediato, quando se faz a observação no terreno.

Em 2017, registaram-se 590 avistamentos confirmados de vacas-louras em Portugal, entre Abril e Setembro – quase mais 25% do que no ano anterior. Mais uma vez, a maior parte dos avistamentos deram-se nas zonas Norte e Centro Norte de Portugal.

 

Como reconhecer?

Desde logo pelo “tamanho desmesurado” deste escaravelho: “Os machos podem atingir oito centímetros de comprimento, as proeminentes mandíbulas que usam para defender o território, a coloração castanha avermelhada e um acentuado dimorfismo sexual  – a cabeça e as mandíbulas do macho são muito maiores que as da fêmea – tornam as vacas-louras inconfundíveis”, descrevem os responsáveis do VACALOURA.pt.

Os machos usam as suas grandes pinças para lutarem entre si, enquanto as fêmeas ficam a observar, tudo isto muitas vezes nos ramos altos das árvores. Perde aquele que cair, no final da luta.

 

dois vacas-louras, macho e fêmea
Vacas-louras macho (à esq.) e fêmea (à dir.). Foto: Rafael Marques

 

A época de reprodução acontece durante apenas dois ou três meses, durante o Verão, altura do ano em que o Lucanus cervus vive acima do solo. De resto, passa vários anos como larva ou como pupa, vivendo nas raízes de árvores antigas.

 

Há trabalho no jardim

Outra das melhores formas de ajudar o vaca-loura é recriar os habitats tradicionais deste escaravelho, que está ameaçado pela limpeza constante de quintais e jardins.

Ou seja? Deixe que a madeira se decomponha de forma natural no seu quintal ou terreno, sugeriu à Wilder o coordenador do VACALOURA.pt, João Gonçalo Soutinho, ao explicar como se podem criar refúgios para esta espécie.

A “madeira morta não é só importante para estes animais”, como também aumenta a quantidade de matéria orgânica nos solos, acrescentou. “A sua decomposição permite o completar do ciclo natural das plantas, onde todos os minerais que a árvore que morreu foi acumulando durante a vida, voltam à terra”.

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

O projecto VACALOURA.pt tem como objectivo registar a observação não só desta espécie como de outros escaravelhos lucanídeos em Portugal. Saiba mais aqui e registe qualquer observação neste formulário.

O projeto é coordenado pela Associação Bioliving em parceria com a Unidade de Vida Selvagem do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro, com a Sociedade Portuguesa de Entomologia e com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.