Saiba como as aranhas passam o Inverno

 

Em Portugal, há dezenas de espécies de aranhas que não hibernam. O especialista Sérgio Henriques explica as suas engenhosas estratégias para passarem o Inverno.

 

Muitas aranhas passam o Inverno em algum tipo de abrigo ou dentro do seu ovo, preparando-se para eclodir na Primavera.

Mas também há dezenas de espécies que se mantêm activas durante os meses mais frios do ano. “Algumas estão bem activas agora e há espécies que apenas saem e se reproduzem no Inverno”, contou à Wilder Sérgio Henriques, líder do grupo de especialistas em aranhas e escorpiões da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) e especialista da Sociedade Zoológica de Londres.

As aranhas do género Philodromus, conhecidas como aranhas caranguejo, tornaram-se mesmo especialistas no tempo mais frio. Estas espécies “caçam nas pequenas fissuras das árvores por insectos que estão a hibernar, conseguindo ficar activas a temperaturas bem abaixo dos 0 graus”, explicou o perito. “Esta é uma estratégia conhecida na Europa central que eu suspeito que ocorra em Portugal também.”

Sérgio Henriques sublinha a importância destas aranhas. “São o único predador que controla pestes agrícolas mesmo quando estas hibernam, sendo importantes biocontroladores.”

Entre as aranhas que não hibernam estão também as aranhas dos Açores e da Madeira, onde os Invernos podem ser mais amenos, e as aranhas que vivem nas grutas. Estas “podem sentir pouca ou nenhuma variação sazonal”.

Bem perto de nós temos a aranha-dos-troncos-grande (Zoropsis spinimana), uma espécie que se dá bem nas cidades e que gosta de casas. “Estas aranhas acasalam no Inverno e, como são relativamente grandes, muitos dos avistamentos ocorrem nesta altura do ano.”

“Tal como nós, as aranhas sentem frio nesta altura. Se houver uma casa quente onde se possam abrigar, correm às vezes o risco de serem detectadas para escaparem às noites frias de Inverno”, disse Sérgio Henriques.

Mas procurar abrigo nas habitações humanas é apenas uma das estratégias usadas pelas aranhas no Inverno.

Algumas espécies fazem abrigos de seda termicamente mais isolados para o Inverno debaixo de pedras, no solo, nas cascas de árvores, em folhas, nas ervas, dependendo do habitat onde vivem.

Outras, como as aranhas buraqueiras ou as aranhas-de-veludo, apenas isolam ou fecham a estrutura que já tinham construído.

Também há espécies que procuram abrigos mais profundos do que aqueles onde normalmente habitam, incluindo em grutas.

A chuva e o vento que se fazem sentir de forma mais intensa nesta época do ano não parecem incomodar muito estas aranhas.

Segundo Sérgio Henriques, “muitas das aranhas activas de Inverno habitam sobretudo a manta morta e a casca de árvores, habitats que já são abrigados de boa parte dos elementos, como a chuva ou o vento”. Quanto ao frio, “creio que algumas terão adaptações bioquímicas para não congelar ou para descongelar sem grandes consequências fisiológicas”.

Ainda assim, a vida das aranhas portuguesas durante o Inverno continua com muito por descobrir. “Nunca se quantificou qual é estratégia mais comum para passarem o Inverno. Nada disto é bem conhecido ou foi analisado no nosso país.”

Aliás, acrescenta Sérgio Henriques, “para a maioria das espécies portuguesas, só sabemos o nome e para algumas nem isso.”

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez

Uma das maravilhas naturais de um passeio de Inverno na natureza é apreciar as teias de aranha cobertas de orvalho. Sérgio Henriques deixa algumas ideias para melhor as encontrar.

 

As teias que vemos cobertas de orvalho raramente têm a sua construtora à vista. Mas será que estão abandonadas?

Este especialista diz que não. “A aranha deverá estar por perto. Uma teia abandonada não dura muito tempo exposta aos elementos, nomeadamente ao vento e à chuva. Por isso, uma teia com gotas ou com gelo foi usada há pouco tempo para caçar.”

A melhor altura do dia para procurar estes tesouros do mundo natural é de manhã, antes de o Sol secar o orvalho.

Não existe um local perfeito, isso dependerá da espécie. E Portugal tem centenas de espécies de aranhas. Mas excelentes sítios para começar a sua busca são os pequenos arbustos abrigados e as encostas que apanhem boa exposição solar de manhã.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.