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Foto: Joana Bourgard / Wilder

Um desafio para celebrar a Hora da Terra este sábado

O leitor José Gabriel enviou à Wilder uma proposta de actividade dedicada à Hora da Terra,  já para este sábado, dia 30 de Março, das 20h30 às 21h30. Junte-se a amigos ou familiares, desligue as luzes e troque memórias e ideias pela noite fora.

 

Quero desafiá-lo a ir mais longe. A ideia é juntar quatro ou cinco amigos para uma partilha de histórias e uma reflexão sobre a nossa relação com a Terra. Até é fácil. Convide alguns amigos para vir jantar e apagam as luzes para comer à luz das velas. Depois, com as velas e o fogo no meio da mesa, fazem como os nossos antepassados faziam, e partilham histórias pela noite dentro.

 

1. Introdução

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Desde antes do tempo do Homem que a terra existe e tem sido palco da vida. Desde antes do Homem ser Homem que os pássaros, as plantas e árvores aqui habitam. Para começar, vamos só tomar um momento para agradecer em voz alta por alguma coisa da Terra. Eu começo, mas peço a cada um que continue com uma frase:

Agradeço à terra debaixo dos meus pés, que me permite andar sobre ela, e que dá sustento a todo o mundo.
Agradeço às plantas que me dão de comer
Agradeço às águas onde vivem os peixes, àquelas que flutuam nas nuvens e dão de beber à terra, às que correm nos rios e descansam nos mares.

 

2. Círculo de histórias

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Foto: Helena Geraldes

 

Já neste ambiente de gratidão, e acompanhados pelo fogo nas velas, vamos fazer como os nossos antepassados, que contavam histórias em redor da fogueira. Vamos regressar à nossa infância. Quando eramos bem pequenos e o mundo era uma aventura constante.

“Eu lembro-me especialmente bem de uma vez quando tinha uns seis anos. O meu pai tinha construído uma represa no ribeiro, fazendo assim um pequeno lago para mim e os meus irmãos. Neste dia, o calor do dia estava abrasador.

Chegar à sombra dos amieiros que crescem junto do ribeiro foi um alívio. Como que a dar-nos as boas vindas, havia libelinhas a dançar junto da água, e na superfície estavam alguns alfaiates – uns insetos de pernas compridas que andavam por cima da água.

Parámos um pouco a olhar para o cenário, a respirar aquele ar, a ouvir os zumbidos dos insetos e a perturbar a vida dos alfaiates. Depois entrámos na água, sentindo o delicioso contraste da água fresca com o ar quente que nos envolvia, soltando risos e gritos.

A represa tinha uma pequena saída, uma garrafa cortada, que permitia ao ribeiro seguir o seu rumo, sem levar consigo a areia da barragem. A água passava a grande velocidade e borbulhava levemente quando caia de volta ao leito. Foi lá que as encontrámos. Enguias! Eram gordas e esbranquiçadas e estavam a dançar umas com as outras, debaixo da água que escorria.

Eu e o meu irmão não cabíamos em nós de contentes. Não era a primeira vez que as víamos, mas eram raras de encontrar. Fomos a correr a casa buscar baldes e depois dedicámo-nos à apanha. Não era fácil. Elas não fugiam muito depressa, mas segurá-las era impossível – escorregavam por todo o lado. Então, um de nós lembrou-se: e se em vez de as tentar apanhar as mandarmos para a areia? Ficam tipo croquetes e vai dar para as segurar assim.

Meu dito, meu feito. Começámos a lançar as enguias para o banco de areia que havia na margem e, quando demos por nós, tínhamos o balde cheio delas! Orgulhosos como só os garotitos conseguiam estar, fomos para casa, para mostrar aos pais o resultado da nossa pescaria.

A cara deles nesse dia foi mais ou menos a mesma que eles fazem quando o nosso gato vem com um pássaro na boca, miando para exigir atenção e reconhecimento. Um misto de confusão, descrença e ternura por o bicho (ou nesse caso, nós) ser meio tolinho. Lá nos felicitaram, nós “inchámos” ainda mais e depois fomos de volta ao rio para devolver as enguias a onde pertenciam.

Agora é a vossa vez. Qual é a história (ou histórias!) de que se lembram, de quando eram pequenos e brincavam na rua?

 

3. No Presente

Foto: Joana Bourgard

 

As coisas mudaram muito. O ribeiro no Verão já mal tem água e há anos em que seca mesmo. E já ninguém toma lá banho, muito menos encontra enguias. A ValorLis está instalada a montante e de tempos a tempos faz descargas no rio que matam tudo.

Aliás, o meu pai e o meu tio quando eram novos pescavam por lá, com cestos. Eu não me lembro de alguma vez ter encontrado por lá peixe. E mesmo depois das enguias terem desaparecido, ainda me lembro de ir em busca de ovos de sapo e de rã, mas hoje já nem eles sobrevivem.

O local que me deu tantos dias felizes já não existe. O que é que aconteceu ao seu?

 

4. No futuro

Foto: Joana Bourgard

 

Esta parte é opcional, vale a pena, mas se estiver com o tempo contado, pode passar logo para a última parte.

Ainda não tenho filhos, mas fico preocupado com o que vejo. Trabalho numa associação ligada à educação e à Natureza, lido bastante com miúdos.

Este Inverno dinamizei com uma colega uma actividade para um grupo de 11 meninos de seis a sete anos que jogam futebol. Deixámo-los correr durante algum tempo livre pelo mato e, eventualmente, um picou-se numa silva e estava quase a chorar.

Juntei os meninos à minha volta, pois queria usar aquele momento para lhes explicar um pouco dos cuidados a ter quando andamos na mata.

Comecei por lhes perguntar o que era aquilo onde o menino se tinha picado. E dos 11 ninguém me soube responder. Era uma silva. Depois, apontei para um feto, e perguntei mais uma vez o que era. Mais uma vez foi o silêncio que me deu resposta. Fiquei preocupado. Sempre soube que a geração mais nova estava ainda mais distante do que eu do mundo natural, mas tanto?

Mas não é de admirar. Os sítios que davam para brincar na rua estão poluídos, cheios de vidros e de lixo, as águas contaminadas. E os pais, que foram tão felizes na rua, agora enchem-se de medo dela e dizem aos filhos para se afastarem, como se o Natureza fosse uma estranha e não a mãe que em parte os criou.

Tem filhos? Como é a relação deles com a Natureza? E a sua, como é que mudou? Como acha que vai ser a relação dos seus netos com a Terra? E como é que vai estar a própria Terra daqui a duas gerações?

 

5. Acção

Foto: Helena Geraldes

 

No entanto, o futuro pode até ser muito mais belo e com mais vida do que parece agora.

Na Indonésia há um homem chamado Willie Smits, responsável por uma fundação que restaurou 1.850 de hectares de floresta tropical e salvou imensos orangotangos. Fez isso pegando em terra destruída pela indústria do petróleo e pelos incêndios num local extremamente pobre, onde mais de 50% da população estava no desemprego. Fez este pequeno milagre com alguns donativos e, transformando a forma como as pessoas viam a floresta, tornou-a numa fonte de sustento financeiro.

Em 2010, em Portugal, um grupo de amigos decidiu dar uma volta à poluição do nosso meio natural e lançou a iniciativa Limpar Portugal. Na primeira edição participaram mais de 100.000 voluntários e 50.000 toneladas de resíduos foram recolhidos.

Na minha associação trabalhamos com crianças, pequenos grupos de cada vez, que apresento à mãe Natureza e às brincadeiras e aventuras que ela tem para oferecer.

E vocês, o que podem fazer? O que podem mudar? Desafio-o a escolher um hábito ou uma acção. Escreva no calendário para daqui a uma ano, na Hora da Terra em 2020, se recordar do que fez.