Uma família à descoberta da natureza nas ribeiras e matas de Tavira

Um pai, uma mãe e duas filhas com 5 e 6 anos passaram a fazer mais passeios à procura de animais e plantas desde a chegada da Covid-19. Descobrir o mundo natural da sua região tornou-se uma fonte de bem-estar.

 

No contexto de pandemia, o contacto prolongado e sistemático com a natureza passou a fazer parte do quotidiano da família Almeida.

Adriana, terapeuta ocupacional, e João Paulo, médico, levam as suas filhas de 5 e 6 anos de idade em passeios para explorar as ribeiras, matas e lagoas da região onde vivem, Tavira (Algarve).

 

 

“Estes dias de confinamento permitiram-nos ir à procura de novos lugares e sobretudo de perceber que somos mais felizes e mais completos em contacto com o exterior e com a natureza”, conta à Wilder Adriana Saraiva.

Tavira é o ponto de partida para os passeios que começaram nos últimos meses. Uma forma de proporcionar às filhas “oportunidades de brincar ao ar livre, num contraponto ao excesso de estímulos dos tempos de ecrã, em idades precoces”.

 

 

“Fomos explorando as ribeiras, a mata e os lagos circundantes da nossa região, quer como forma de ‘desconfinar’ dentro das normas do confinamento, quer como modo de ir procurar espaços menos procurados pela restante população, e por fim, como estratégia para lidar com o calor e nos refrescarmos nos finais de tarde.”

Das suas saídas em família fazem registos fotográficos do que encontram: animais, plantas, rastos e paisagens.

 

 

Entre as espécies que mais marcaram esta família até agora estão as rãs, as lebres, os mochos-galegos, os melros e os gaios mas também as cobras-de-água e de ferradura, os abelharucos e papa-figos, sem esquecer as aranhas, as libélulas, os cágados, as andorinhas e os rastos de javalis.

Tudo “à porta de casa”.

A filha mais velha tem um fascínio particular por cogumelos. “Ficava muito entusiasmada de cada vez que encontrava um. Eu própria tenho memórias dessas experiências com o meu pai em pequena. Sentia que era uma espécie de caça ao tesouro”, lembra Adriana.

 

 

Como há tanto para ver, a família Almeida decidiu começar a fazer um diário de bordo gráfico com as espécies observadas.

“De todos os nossos passeios, as miúdas acabam sempre por dizer que querem regressar ao último que fizemos. Mas o denominador comum é o facto de existirem interesses específicos que as marcaram e que querem voltar a ver.” Uma vez queriam voltar a ver as rãs, outra queriam voltar a ver os peixinhos que tinham apanhado com uma rede e colocado num balde para uma observação mais cuidada. O mesmo aconteceu com a ida à praia apanhar conchas ou conquilhas.

 

 

A zona de Vale da Lama, no Barlavento algarvio, ficou marcada como um dos locais preferidos. “Sem dúvida que o avistamento das borboletas monarca nos fascinou, assim como a oportunidade de apanhar pequenos rolos de lã de ovelha, um verdadeiro tesouro para levar para casa.”

Adriana reconhece que o facto de viverem numa zona próxima de uma reserva natural possa influenciar esta motivação naturalista. “Até porque nos últimos dois anos temos vindo a acompanhar o trabalho de um centro de recuperação de animais existente na zona de Marim, perto de Olhão, chamado RIAS, que aos sábados faz libertação de animais recuperados de volta à natureza.”

 

 

A família Almeida descobriu que a região onde vive tem uma grande riqueza de espécies. ”Nos passeios nos últimos dias, em Odiáxere, tivemos a sorte de encontrar uma borboleta monarca, um ninho numa oliveira com um ovo caído e partido, e de observar uma coruja”, enumera Adriana.

No final de Junho, o desafio naturalista levou a família à ilha Barreta ou Deserta. “Ali vimos um camaleão e uma borboleta-cauda-de-andorinha.”

 

 

Noutro passeio numa ribeira, “rãs e borboletas. Estamos de coração cheio!”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.