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Britango. Foto: Bruno Berthemy / VCF

Abutre-do-egipto é a Ave do Ano 2016 em Portugal

O abutre-do-egipto, também conhecido como britango (Neophron percnopterus), foi escolhido como Ave do Ano 2016 pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea), foi hoje revelado.

 

Este é o mais pequeno dos abutres ibéricos. Tem até 65 centímetros de comprimento e uma envergadura de asa de entre 1,55 e 1,70 centímetros. Pode pesar até cerca de dois quilos. A sua plumagem é essencialmente branca e preta; tem face amarela e cauda longa.

O britango alimenta-se de carcaças de outras aves e mamíferos e de fruta e vegetais já em estado de decomposição. Por vezes, pode caçar animais debilitados. Por dia, este abutre pode viajar 80 quilómetros em procura de alimento. Segundo a Spea, esta é uma das aves mais “inteligentes”. Por exemplo, consegue usar pedras para partir ovos de avestruz para se alimentar, quando está em África.

Em Portugal, esta ave pode ser vista a partir de finais de Fevereiro, permanecendo nas zonas de nidificação de Março a Setembro.

 

 

Durante o Outono migra para Sul, passando o Inverno na África sub-saariana. Nidifica em buracos e plataformas rochosas.

O Douro Internacional é um dos locais onde é mais fácil observá-lo no nosso país. “No Douro de Portugal e Espanha, encontram-se uma das mais importantes populações da Península Ibérica, com 116 casais”, salienta esta organização dedicada às aves.

“O britango é a escolha mais óbvia para este ano, uma vez que iniciámos um grande projecto de Conservação no Douro Internacional, em que ele é uma das espécies-alvo”, explica, em comunicado, Domingos Leitão, coordenador do projecto Life Rupis. Este projecto está a decorrer nas áreas protegidas do Douro Internacional e Vale do Rio Águeda e das Arribes del Duero.

Na sua opinião, escolher o britango é uma forma de “explicar o serviço fundamental que os abutres prestam na limpeza dos ecossistemas naturais.” Uma vez que se alimentam de carcaças de animais mortos, muitos deles doentes, estas aves controlam assim a proliferação de pragas e doenças, como a febre bubónica, a tuberculose, o botulismo e a brucelose.

Com esta iniciativa da Ave do Ano, a Spea pretende que “o britango, passe a ser mais conhecido e acarinhado pelo público”.

E este é um apoio necessário, uma vez que esta espécie regista “um grave declínio a nível mundial”. Em Portugal, a sua população diminuiu 30% nos últimos 30 anos e por isso está em perigo de extinção. “Esta diminuição deveu-se a diversos factores associados à qualidade do habitat, perturbação e perseguição.”

“Apesar da sua importância para o ecossistema, os abutres são associados à morte e maus prenúncios, tornando-o num dos heróis mais mal-amados no mundo animal”, escreve a Spea em comunicado. A SPEA pretende com esta campanha contribuir para alterar atitudes.

A Ave do Ano de 2015 foi o fura-bardos (Accipiter nisus granti). Espanha escolheu como Ave do Ano 2016 o pardal-comum (Passer domesticus).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.