Atenção, está a circular na área de reintrodução do lince-ibérico

O atropelamento é uma das maiores ameaças aos linces-ibéricos reintroduzidos na natureza. No ano passado morreram 15 animais nas estradas, um deles em Portugal. Saiba o que está a ser feito nestas estradas no Alentejo.

 

São oito os sinais de trânsito que avisam os condutores que estão a circular na área de reintrodução do lince-ibérico (Lynx pardinus), na região do Vale do Guadiana. Estima-se que vivam aqui mais de 15 animais, nove reintroduzidos em 2015 e seis já este ano. Mais as crias nascidas nesta Primavera.

Estes sinais – triângulos brancos e vermelhos, com a cabeça do felino a preto – foram todos instalados em Dezembro de 2014, no mesmo mês em que começaram as reintroduções de linces em Portugal. Podemos ver quatro sinais na EN122 e quatro na ER267, sinalizando troços com uma extensão que varia entre os quatro e os nove quilómetros.

 

 

A Infraestruturas de Portugal (IP) explicou nesta semana à Wilder que os sinais foram colocados na EN122/IC27 e ER267 para sinalizar “o início dos troços entendidos pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) como críticos, quer pela concentração de mortalidade de fauna em geral, quer pela existência de curvas, entre outros factores que foram considerados potenciais riscos para o lince”.

Os condutores que virem estes sinais e que circulem nas estradas que atravessam o Parque Natural do Vale do Guadiana – área protegida com 70.000 hectares – “devem abrandar, para que seja possível parar em tempo útil caso algum animal atravesse a estrada. Este é o comportamento mais eficaz para evitar o atropelamento e garantir a sobrevivência do lince-ibérico”, acrescenta a empresa responsável pelas estradas do país.

Mas além da colocação dos sinais, outros trabalhos estão a ser feitos para tentar reduzir riscos de atropelamento de linces e de outros animais. “No âmbito do projecto LIFE Iberlince, a IP está a implementar nas estradas na área de reintrodução – EN122/IC27, ER123 e ER267 – limpezas das bermas e taludes (…) para aumentar a visibilidade quer do animal quer dos condutores, conferindo-lhes tempo de reacção”, explica ainda. Isto é feito através de ceifa, corte selectivo de vegetação e abate de árvores.

 

 

Em Julho passado foram feitas intervenções de limpeza de vegetação e no início de Outubro será feita uma limpeza dos aquedutos, adianta a IP à Wilder. Estes aquedutos “são limpos regularmente para potenciarem a passagem dos animais, evitando que estes se encaminhem para a zona da estrada”.

Os mais de 15 linces do Vale do Guadiana vivem preferencialmente numa zona que tem entre 15.000 e 20.000 hectares, dentro dos 70.000 do parque natural. Em Maio, o director desta área protegida, Pedro Rocha, explicou à Wilder que os atropelamentos são um problema de conservação e destacou um troço de estrada crítico. “É um troço de 10 quilómetros da estrada que liga Mértola a Beja”, o IC27. Este é um dos locais com os sinais de trânsito a alertar para perigo de linces.

Para o futuro, a IP vai continuar os trabalhos nas estradas e a monitorizar os atropelamentos de fauna na sua rede de estradas, para identificar pontos negros e medidas de minimização.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez. Saiba o que fazer quando vir um lince.

Ver linces-ibéricos em Portugal já não é assim tão impossível. É preciso estar preparado. Pedro Rocha deixa algumas sugestões que podem ajudar à conservação da espécie.

Se vir um lince deve ter atenção à cor da coleira, já que cada animal reintroduzido traz uma coleira emissora de cor diferente. Depois, o Parque Natural do Vale do Guadiana agradece o seu contacto para:

Telefone: 286.612.016

Email: [email protected]

E há que ter muita atenção aos sinais da estrada entre Mértola e Beja. “Os linces estão nessa zona. A sério. Aqueles sinais não são só folclore. Há linces a passar”, salienta Pedro Rocha. Existem mais hipóteses de os encontrar durante os períodos crepusculares (ao amanhecer e ao anoitecer), já que é quando os animais estão mais activos.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.