Rola-brava. Foto: Faísca / SPEA

Duas aves caçadas em Portugal estão agora em risco de extinção

A rola-brava e o zarro são duas espécies de aves migradoras que se podem caçar em Portugal e passaram agora a ser consideradas em risco de extinção, na categoria “Vulnerável”, na mais recente revisão da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

De acordo com a Coligação C6, uma parceria de seis associações ambientalistas portuguesas que fez hoje o anúncio, este agravamento do estatuto de conservação para duas espécies cinegéticas, a rola-brava e o zarro, “demonstra a urgência de alterar a legislação de caça em Portugal” e noutros países onde ocorrem estas duas aves.

Na semana passada, a UICN anunciou que mais de 40 espécies de aves em todo o mundo enfrentam agora um maior risco de extinção, entre as quais várias espécies de abutres em África. Em Portugal, a rola-brava e o zarro são as aves que viram o seu estatuto piorar de forma mais grave.

 

Rola-brava. Foto: Faísca / SPEA
Rola-brava. Foto: Faísca / SPEA

 

No caso da rola-brava, que até agora era considerada “pouco preocupante” pela UICN, é uma espécie migradora que continua a ser caçada em Portugal. Isto apesar de estudos realizados pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea), que faz parte da Coligação C6, demonstrarem “um decréscimo muito acentuado, de cerca de 40% na última década”.

Quanto ao zarro, da família dos patos, é outra ave migradora que pode ser caçada em Portugal e que tem sentido “diminuições drásticas nas suas populações”. Também esta espécie era até agora classificada como “Pouco Preocupante” na Lista Vermelha.

 

Zarro. Foto: Ferran Pestaña / Wikimedia Commons
Zarro. Foto: Ferran Pestaña / Wikimedia Commons

 

Com base nestes novos dados, “por uma questão de bom senso, as duas espécies devem deixar de ser caçadas, através da alteração do calendário venatório e da suspensão da sua caça”, sublinhou o director-executivo da Spea, Luís Costa, contactado pela Wilder.

Há ainda outras espécies que ocorrem em Portugal e que enfrentam agora uma situação mais difícil em termos de conservação, entre as quais o ostraceiro, que passaram para a categoria de “Quase Ameaçadas” na lista vermelha da UICN.

Esta lista criada em 1963, em colaboração com a Birdlife International, avalia com critérios objectivos o risco de extinção que enfrenta cada espécie, num total de 77.340 espécies avaliadas em todo o mundo, e é revista todos os anos.

A melhor classificação para uma espécie, no que respeita à sua conservação, é ser considerada “Pouco Preocupante”. Se esse estatuto piorar, a espécie pode passar para “Quase Ameaçada”. Por grau de gravidade, seguem-se três classificações que já indicam um risco claro de extinção: “Vulnerável”, “Em Perigo” e “Criticamente em Perigo”.

Acima destas duas categorias, uma espécie só pode ser dada como “Extinta na Natureza” ou como “Extinta”.

No que respeita às aves, a pardela-balear é neste momento a única espécie que ocorre em Portugal e é considerada Criticamente em Perigo. Sendo uma espécie regular nas águas portuguesas, nidifica apenas nas Ilhas Baleares, em Espanha. É a ave marinha mais ameaçada da Europa.

Já o britango, o priolo e a freira-da-Madeira, entre as aves que ocorrem em Portugal, são as três espécies actualmente consideradas em perigo.

De acordo com os dados hoje divulgados, há ainda outras cinco espécies no país que são consideradas “Vulneráveis”, além da rola-brava e do zarro: águia-imperial, painho-de-monteiro, abetarda, freira-do-bugio e felosa-aquática.

A nível mundial, destacam-se três grupos de aves que viram o seu estatuto agravar-se mais fortemente: os abutres, as aves marinhas e as aves limícolas.

A Coligação C6 é formada por seis organizações ambientalistas: a Spea, Fapas, Geota, Liga para a Protecção da Natureza, Quercus e WWF-World Wildlife Fund/Portugal.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.