Foto: Jose Pesquero/Life Imperial

Águia-imperial morta no Baixo Alentejo, com suspeitas de envenenamento

Um técnico do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas encontrou no princípio deste ano uma águia-imperial-ibérica (Aquila adalberti) morta, possivelmente reprodutora, com sinais que levantam suspeitas de envenenamento.

 

A águia, que foi encontrada debaixo de um pinheiro-manso onde a espécie já nidificou, “apresentava evidências compatíveis com um possível envenenamento”, avisou hoje a Liga para a Protecção da Natureza (LPN).

O animal foi encontrado no dia 4 de Janeiro e o SEPNA (Serviço de Protecção da Natureza), ligado à GNR, foi chamado ao local. Ali, os agentes recolheram o cadáver e procederam a buscas e à detecção de provas, indica um comunicado da LPN, associação ambientalista coordenadora do projecto LIFE Imperial (Julho de 2014 a Dezembro de 2018).

Nas buscas feitas no terreno, colaborou também uma das equipas cinotécnicas da GNR, criadas no âmbito do projecto LIFE Imperial, com o objectivo de detectarem venenos. Todas as provas encontradas, tal como o cadáver da águia, seguiram para serem examinados em laboratório e para se fazerem análises periciais.

A ave foi detectada quando o técnico do ICNF andava em busca de uma outra águia-imperial, no âmbito de um programa de seguimento remoto por GPS ligado ao projecto de conservação da espécie coordenado pela LPN. Isto porque o respectivo emissor “esteve alguns dias sem emitir”, explica a associação.

A LPN salienta ainda que nesta região do Baixo Alentejo têm ocorrido alguns casos confirmados de envenenamento, nomeadamente a morte de um lince-ibérico envenenado no início de 2015, no mesmo ano em que ali morreu uma águia-imperial imatura pelos mesmos motivos. Em 2013,  já tinha sido encontrada uma águia-imperial adulta também morta devido à ingestão de veneno.

Existem, no entanto, “muitos casos de mortalidade de várias espécies por possível envenenamento”, também na mesma região. Só em Dezembro do ano passado, a equipa da LPN detectou quatro possíveis casos, relativos a milhafres-reais e a águias-de-asa-redonda, sobre os quais estão “a ser aguardados os resultados”.

A utilização de veneno está confirmada em Espanha como a principal causa para a morte da águia-imperial-ibérica. Quanto a Portugal, está ainda por conhecer o efeito real do uso ilegal de venenos, mas “os casos identificados indiciam um elevado e abrangente uso ilegal de tóxicos”, alerta a associação.

Uma das principais causas apontadas é a facilidade na compra de venenos e na sua utilização, tal como o facto de estes produtos afectarem um grande número de indivíduos e terem uma baixa selectividade. O recurso a venenos na natureza é ainda “uma grave ameaça à saúde pública e aos animais domésticos”, salienta a LPN.

O uso de veneno é uma das principais ameaças à sobrevivência da águia-imperial-ibérica que o projecto LIFE Imperial procura combater, através de um programa de várias acções de formação, sensibilização e  fiscalização e ainda através do recurso aos tribunais.

 

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Se desejar saber mais sobre o projecto LIFE Imperial, pode ler aqui sobre o programa de monitorização da espécie.

 

 

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.