Este atlas diz-lhe que espécies de mamíferos existem em Portugal

Nem sempre são fáceis de ver mas Portugal tem 87 espécies de mamíferos. O novo Atlas de Mamíferos de Portugal permite-nos agora saber onde existem baleias-azuis, toupeiras, gatos-bravos, lebres ou toupeiras.

 

No nosso país vivem 47 espécies de mamíferos terrestres. Uns alimentam-se de insectos – como o ouriço-cacheiro, a toupeira ou o musaranho-de-água – e outros são roedores, como o esquilo-vermelho, o rato-de-cabrera ou o leirão.

Temos ainda 15 espécies de carnívoros, desde o lobo, lince e raposa ao texugo, doninha, lontra e gato-bravo.

A lista continua com os veados, gamos, corços, cabras-montês e javalis, sem esquecer as lebres e os coelhos-bravos.

No oceano conhecem-se 29 espécies de mamíferos. As águas nacionais são território de golfinhos, cachalotes, baleias-azuis, orcas e baleias-comuns.

E depois há as espécies que já se extinguiram ou cuja ocorrência ainda é duvidosa. São elas o urso-pardo, o castor-europeu, o lince-europeu, o zebro (burro-selvagem-europeu), o leitão-cinzento e o rato-dos-lameiros.

Márcia Barbosa – investigadora do CIBIO/InBIO – Universidade de Évora e uma das coordenadoras do Atlas de Mamíferos de Portugal – considera que “esta diversidade é relativamente alta, dado o pequeno tamanho do nosso país”.

Isto porque Portugal tem uma “localização privilegiada numa parte da Europa que foi relativamente poupada pelos rigores das últimas glaciações, tendo então servido de refúgio a muitas espécies”, explicou à Wilder. Além disso, “está também numa zona de transição entre duas grandes regiões climáticas e biogeográficas (a atlântica e a mediterrânica), o que faz com que tenhamos espécies com afinidades ambientais diversas”.

De acordo com o Atlas, a maior riqueza de espécies está no Norte do país, nas regiões do interior (próximas da fronteira com Espanha), na metade Sul do Alentejo e nas serras algarvias. As áreas com valores mais baixos ficam no litoral entre Lisboa e o Porto, dado serem “intensamente urbanizadas” e terem “menor área de vegetação natural disponível”.

O Atlas surgiu para compilar o conhecimento sobre a distribuição dos mamíferos em Portugal e para perceber que espécies e regiões estavam mais carentes de informação. “Tínhamos noção de que havia muitos registos de ocorrência de mamíferos espalhados pelo país, maioritariamente resultantes dos estudos feitos ao longo das últimas décadas, a nível local ou regional. Mas havia a necessidade de juntar todos estes registos e de fazer mapas de distribuição de todas estas espécies a nível nacional, de modo a ter uma ideia da extensão do conhecimento actual e do que estava ainda em falta”, explicou Márcia Barbosa.

Este Atlas está organizado em grupos de animais. Para cada espécie há uma ficha com o nome comum (em Português, Inglês e Espanhol); o nome científico; uma fotografia; o mapa da distribuição em Portugal, Espanha, Europa e no mundo; o estatuto de conservação e o número de registos. Para as 87 espécies há um total de 94.000 registos.

Os dados de distribuição estão recolhidos numa grelha espacial regular (neste caso, quadrículas de 10×10 km2), para todas as espécies de determinado grupo, e são verificados por especialistas nessas espécies. “Isto é muito importante para se poder fazer análises biogeográficas coerentes e fiáveis da distribuição da biodiversidade”, salientou Márcia Barbosa.

A edição do atlas em si demorou perto de um ano. Quatro editores (Márcia Barbosa, Joana Bencatel, Francisco Álvares e André E. Moura) fizeram a compilação e mapeamento de todos os registos, espalhados por sítios muito diferentes, numa base de dados comum e coerente. O projecto contou ainda com cerca de 40 co-autores de capítulos, que ajudaram a localizar e a validar a informação existente sobre os grupos em que eram especialistas, e várias centenas de contribuidores com registos e observações pontuais. No final do ano passado foi lançada em formato digital a primeira edição do Atlas de Mamíferos de Portugal, com o apoio do CIBIO da Universidade de Évora e da Fundação para a Ciência e Tecnologia.

Mas o trabalho começou antes, nomeadamente com a tese de mestrado da Joana Bencatel, de Dezembro de 2016. Esta investigadora “já tinha compilado a informação existente sobre a distribuição dos mamíferos carnívoros, de alguns relatórios sobre a distribuição de outros grupos, maioritariamente a nível regional e de outros trabalhos mais locais e específicos”, explicou Márcia Barbosa.

E o trabalho vai continuar. “Um atlas é, idealmente, um projecto dinâmico, tal como a distribuição das espécies. É sempre um retrato incompleto do conhecimento contemporâneo, passível de melhorias. Neste momento está a decorrer a recolha de dados adicionais para a segunda edição”, avançou a investigadora.

Por exemplo, o trabalho do Atlas detectou que há regiões sub-amostradas para grande parte dos grupos de mamíferos terrestres, como a zona ao longo do rio Tejo (sobretudo do lado Norte) e a zona Sul do Baixo Alentejo. Segundo a equipa do projecto, “há muito a fazer para completar” a informação sobre a distribuição dos mamíferos em Portugal.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

O Atlas ainda tem espaços em branco. Saiba aqui como contribuir para este projecto em curso sobre a distribuição dos mamíferos no nosso país.

 

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Título: Atlas de Mamíferos de Portugal
Editores: Joana Bencatel, Francisco Álvares, André E. Moura & A. Márcia Barbosa
Ano: 2017
Edição:
Idioma: Português
Nº de páginas: 256
Depósito legal: 433521/17

A edição em papel é de tiragem limitada e será distribuída por uma rede de bibliotecas públicas e por outras instituições onde o livro possa ser amplamente consultado, de forma a divulgar o projecto e a recolha de dados. O livro está também disponível em PDF sob licença CC BY-SA 4.0 (Creative Commons): pode utilizá-lo e divulgá-lo livremente, desde que cite adequadamente a fonte e partilhe quaisquer resultados sob licença semelhante.

 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.