Melro-d’água distinguido em prémio de fotografia Terre Sauvage

Uma série de 12 fotografias que revelam o dia-a-dia dos melros-d’água (Cinclus cinclus) nos rios de montanha de Vouzela, feita pelo fotógrafo português de vida selvagem João Cosme, recebeu no início do mês uma menção honrosa dos prémios atribuídos pela revista francesa Terre Sauvage.

 

As 12 imagens de João Cosme foram distinguidas na categoria “Histoire d’espèces”, cujo vencedor foi o fotógrafo norueguês Hermansen Pal com um trabalho sobre os patos eider (Somateria mollissima).

O fotógrafo português seleccionou para concurso uma série de fotografias que fez ao longo de vários anos em diversos rios do Parque Natural local Vouga-Caramulo (Vouzela) e nas Montanhas Mágicas (serras Arada, Freita, Montemuro e Arestal).

 

 

Nelas podemos ver o melro-d’água a alimentar as crias, as cavidades rochosas cobertas de musgo e por detrás de cascatas onde fez o ninho, a mergulhar nas águas dos rios – esta será a única espécie de passeriforme que mergulha – ou ainda uma cria que acabou de sair do ninho e que explora um novo território pela primeira vez.

João Cosme – que desde sempre se sentiu fascinado pelos rios de montanha, especialmente da região onde nasceu – explicou à Wilder que escolheu estas imagens para levar a concurso por já ter uma grande diversidade de fotografias sobre esta espécie de ave. Há vários anos que se dedica ao melro-d’água, uma das suas aves preferidas, “quer pela sua beleza, quer pelo seu extraordinário comportamento”.

 

 

“São imagens que retratam uma espécie que trabalho já alguns anos”, contou. “Todos os anos dedico uma grande parte do meu tempo a esta ave, quer na investigação quer depois na parte fotográfica. Muitas das vezes seleciono um local que pode ter vantagens em termos estéticos e que pode proporcionar imagens com mais impacto criativo pois para mim não basta apenas fazer um registo simples.”

E há outros elementos a ter em conta. “Também é importante ter imagens do comportamento da ave e para isso é necessário passarmos muitas horas dentro do abrigo, com água gélida até ao peito e ter  sorte nas esperas.”

João Cosme salientou ainda a importância de “ter material fotográfico que seja rápido e preciso no AF, como felizmente uso. Todas estas imagens foram realizadas com lentes Sigma, 120-300mm f/2.8, 500mm f/4, teleconversor 1×4, 24-105mm f/4 e Nikon 20mm f/2.8”.

Este foi o segundo ano que o fotógrafo português concorreu aos prémios da Terre Sauvage. “No ano passado a minha candidatura foi selecionada para a final, mas acabou por não ser notificada para prémio.”

Agora, recebeu uma menção honrosa. “É uma grande satisfação quando vimos o nosso trabalho ser reconhecido num concurso internacional de prestígio”, comentou. “Estes prémios acabam por ser um incentivo a continuar a retratar a natureza, ajudar a divulgar e sensibilizar para a sua conservação. São as espécies e todo o património natural que ganha.”

 

Frecha da Mizarela

 

Para 2018, João Cosme tem novidades. O fotógrafo tem um novo projecto editorial sobre os rios de montanha na região centro de Portugal, entre o rio Vouga e  Paiva. “O Melro-d’água será o grande protagonista deste livro, mas também outros animais ligados a estes cursos ribeirinhos. O que pretendo é divulgar os rios de montanha que, sem dúvida, são fundamentais para a sobrevivência de dezenas de espécies.”

Aqui fica um bocadinho do que está para vir.

https://vimeo.com/215384486

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Veja aqui as fotografias premiadas.

Conheça aqui o livro que João Cosme publicou em Dezembro do ano passado, “No Trilho do Lobo”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.