macho de sisão no meio da vegetação
Macho de sisão. Foto: Pierre Dalous/Wiki Commons

O sisão é a ave do ano em Espanha

O sisão (Tetrax tetrax) foi declarado a Ave do Ano 2017 em Espanha, pela Sociedade Espanhola de Ornitologia, anunciou a organização, que faz parte da federação Birdlife International.

 

“Com isto, esta sociedade científica e conservacionista inicia um ano de acções destinadas a melhorar o estado de conservação desta espécie, típica de ambientes agrícolas”, adianta a Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO).

Em Portugal, o sisão faz parte do grupo das chamadas aves estepárias e é uma presença conhecida nas planícies alentejanas, principalmente na época de reprodução, devido à plumagem e às vocalizações características que os machos emitem nessas alturas.

 

Foto: Pierre Dalous/Wiki Commons

 

No entanto, é também uma das aves “que mostram tendências populacionais mais negativas”, lembra a SEO. Os últimos dados provisórios obtidos no II Censo Nacional do Sisão, que está em fase de conclusão em Espanha, mostram que a população caiu para metade nos últimos 10 anos.

“Se continuar assim, esta ave aproxima-se perigosamente da extinção”, alerta a organização espanhola.

Essa preocupação é partilhada com a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, em Portugal, onde o último censo realizado mostrou um declínio superior a 50% das populações de sisão nos últimos 10 anos. A espécie é considerada como Vulnerável no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, à semelhança da classificação em Espanha (no Catálogo Espanhol de Espécies Ameaçadas), tal como na Lista Vermelha das Aves da Europa.

 

Foto: Francesco Veronesi

 

Semelhante a uma pequena abetarda, com 700 a 900 gramas de peso, o sisão já esteve espalhado pela Europa Ocidental, em países como a Alemanha, a Áustria e a Grécia, e pelo Noroeste de África, chegando até às estepes da Ásia Central. Mas hoje em dia, de acordo com a SEO, ocorre apenas em Portugal, Espanha, França e Sardenha e ainda no Leste da Europa, a partir do Sul da Rússia. Conhece-se também uma pequena população em Marrocos.

Em território espanhol, as populações de sisão são “as mais importantes da Europa”, apenas comparáveis com os números observados na Rússia e no Cazaquistão.

“Trata-se de uma das aves mais emblemáticas da Península Ibérica e precisa de ajuda”, apela a directora executiva da SEO, Asunción Ruiz, lembrando que era “habitual nos campos dos nossos avós”. “A sua presença reduziu-se e pode ser que os nossos filhos nunca cheguem a vê-la.”

O sisão destaca-se pela parada nupcial na época de procriação, que acontece na Primavera. Os machos batem ruidosamente com as patas no chão, abrem a cauda em forma de leque e levantam as penas do pescoço, emitem um chamamento característico.

 

 

Mas esta ave não é a única típica dos campos de cultivo que está em declínio. Também a codorniz-comum (Coturnix coturnix), o picanço-real (Lanus meridionalis) e a escrevedeira-amarela (Emberiza citrinela) têm registado evoluções preocupantes, avisa a SEO.

Principais ameaças? A destruição e transformação dos campos de cultivo e das pastagens, que estão ligadas à aposta na agricultura intensiva e ao abandono dos campos.

Em causa estão, por exemplo, a substituição dos terrenos agrícolas de sequeiro por outras culturas como olivais, amendoeiras, vinha e regadios e o aumento do uso de insecticidas, que afectam as espécies das quais se alimentam o sisão e outras aves características destes habitats.

[divider type=”thin”]Saiba mais.

No portal Aves de Portugal, fique a saber onde observar estas aves, em território português.

Conheça também por que motivos os fins-de-semana são stressantes para os sisões.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.