Portugal cria novas zonas de protecção especial para a pardela-balear

A ave marinha, Criticamente em perigo a nível mundial, utiliza a costa portuguesa como zona de passagem e zona de invernada. Para reforçar a sua conservação foram aprovadas em Conselho de Ministros duas novas zonas de protecção especial e o alargamento de outras duas já existentes.

 

São assim criadas as Zonas de Proteção Especial (ZPE) do Cabo Raso e de Aveiro/Nazaré, segundo o diploma do Conselho de Ministros de 27 de Agosto. Na mesma altura foi aprovado o alargamento dos limites da ZPE do Cabo Espichel e da ZPE da Costa Sudoeste.

A pardela-balear (Puffinus mauretanicus) é uma espécie Criticamente em perigo, de acordo com a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), e prioritária no contexto da Diretiva Aves. Actualmente, o número de indivíduos reprodutores é reduzido. Parte significativa da população mundial utiliza a costa portuguesa como zona de passagem e zona de invernada. Por exemplo, mais de 7.000 pardelas-baleares foram registadas recentemente ao largo de Peniche, no âmbito do projecto Peniche Seabird Count 2015 (a decorrer de 15 de Agosto a 15 de Novembro).

Estas novas ZPE preenchem uma lacuna. Segundo o diploma do Conselho de Ministros, a rede de ZPE portuguesa não incluía, até agora, as zonas de alimentação e repouso usadas pela população de parcela-balear durante os períodos de migração e invernada.

A Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea) – organização que nos últimos anos tem recolhido dados sobre a distribuição das aves marinhas ao longo da costa portuguesa – esperava “há muito esta decisão”, comentou em comunicado nesta semana.

“Estas novas classificações irão complementar a atual rede de ZPE no meio marinho, que incluem a Ria de Aveiro, as Ilhas Berlengas, o Cabo Espichel e a Costa Sudoeste, oferecendo proteção às zonas de alimentação e repouso usadas pela população de pardela-balear (…) assim como de outras espécies de aves marinhas”, acrescenta.

Segundo a Spea, cerca de 30 espécies de aves marinhas ocorrem regularmente na costa continental portuguesa, como a cagarra ou a gaivota-de-audouin.

“As aves marinhas são o grupo de aves mais ameaçado do mundo e a proteção legal destas áreas marinhas é um passo fulcral para a sua conservação”, disse Joana Andrade, coordenadora do Departamento de Conservação Marinha da Spea.

No entanto, a responsável salientou que “esse trabalho só será possível através da definição de planos de gestão adequados a cada área e através de um modelo de participação envolvendo os stakeholders relevantes, ou seja, pescadores, agentes económicos, entre outros, já que serão eles os agentes chave para a sua implementação prática”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.