Vaca-loura. Foto: João Gonçalo Soutinho

Biólogos pedem ajuda a cidadãos para procurar vacas-louras em Portugal

Por estes dias já decorre em Portugal o segundo ano do censo à vaca-loura, o maior escaravelho da Europa. Para conhecer melhor a população nacional desta espécie, que ajuda a manter as florestas nativas, os biólogos estão a pedir a ajuda dos cidadãos.

 

No ano passado, cerca de 500 pessoas contaram entre 470 e 550 vacas-louras (Lucanus cervus), espécie classificada como Quase Ameaçada pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) e que em Portugal tem vindo a perder muito do seu habitat.

A campanha de avistamentos de 2017 começou este mês e a expectativa é conseguir abranger um território maior, como contou hoje à Wilder João Gonçalo Soutinho, biólogo coordenador da Rede Portuguesa de Monitorização da Vaca-Loura. “Temos como objectivo aumentar o número de avistamentos em todo o país, de forma a aumentar a área conhecida e eliminar algumas falhas na distribuição.”

Para isso, os biólogos pedem a todos os cidadãos interessados em ajudar que estejam atentos porque, nesta altura do ano, as vacas-louras já andam por aí, especialmente nas zonas de carvalhal. “Nesta altura do ano, os adultos estão a começar a sair das suas tocas e a procurar parceiros para acasalar”, explicou João Gonçalo Soutinho.

Se vir uma vaca-loura será necessário tirar uma fotografia ao animal e enviar o seu registo para o site da organização do censo.

Segundo João Gonçalo Soutinho, este ano já começaram a receber avistamentos. “Já encontrámos vacas-louras em força no Parque Biológico de Gaia. Temos neste momento cerca de 30 registos, principalmente nos distritos de Porto e Braga.” O primeiro avistamento foi recebido a 25 de Abril, em Guimarães.

A campanha decorre todo o ano, mas foca-se principalmente em Junho e Julho e até ao final de Setembro. É neste período onde será mais fácil encontrar esta espécie.

Este censo faz parte do projecto Vacaloura.pt, que tem como objectivo “compilar informação sobre a distribuição e estado das populações da vaca-loura e de mais três escaravelhos em Portugal”, explicam os responsáveis, em comunicado.

Em 2016, Portugal juntou-se a 13 países europeus – Alemanha, Bélgica, França, Eslovénia, Espanha, Itália, Holanda, Polónia, Portugal, Reino Unido, Rússia, Suíça e Ucrânia – que criaram a Rede Europeia de Monitorização da Vaca-Loura para, em conjunto, tentar conhecer qual a distribuição desta espécie.

O esforço português reúne estudantes e investigadores da associação BioLiving, Unidade de Vida Selvagem do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro, Sociedade Portuguesa de Entomologia e Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Além de enviar os registos dos seus avistamentos, os cidadãos podem adoptar um percurso de monitorização da espécie. Para este ano, os biólogos gostariam “de aumentar o número de percursos de monitorização por parte dos cidadãos, de forma a adquirirmos ainda mais e melhores dados”, acrescentou João Gonçalo Soutinho.

Segundo este biólogo, o projecto prevê várias actividades para sensibilizar os cidadãos para a importância da madeira morta e da sua biodiversidade associada. “Acreditamos que para realmente conseguirmos envolver os cidadãos no projecto temos de estar disponíveis para ir ao seu encontro.”

Este ano estão a ser feitos percursos interpretativos, construções de abrigos e palestras. Está ainda a decorrer um pequeno questionário para se perceber o que os portugueses sabem e pensam sobre a importância da madeira morta e tudo o que está dependente dela. O objetivo é desenvolver planos de conservação que tenham em consideração a população.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Saiba aqui como criar refúgios para os escaravelhos.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.