Regato no bosque, Serra da Estrela

Como fotografar a natureza num bosque de Outono

O que fotografar, os melhores locais e o equipamento e técnicas mais adequadas para captar a estação, pelo fotógrafo de natureza, João Nunes da Silva.

 

O Outono, a par com a Primavera, é por excelência uma das melhores épocas para fotografar a natureza. Com o aproximar das temperaturas mais frias, os cenários começam gradualmente a mudar. Sobretudo em áreas onde existem florestas de folha caduca, os tons verdes dão agora lugar a explosivos tons quentes de laranja e amarelo.

Algumas zonas que costumo frequentar durante a época de Outono, permitem-nos captar alguns dos melhores cenários que podemos fotografar nesta altura em Portugal. Se gosta de fotografia e aprecia a natureza, esta é a altura obrigatória para programar alguns dias e sair à descoberta de alguns dos nossos hotspots.

 

Vale de Manteigas – Parque Natural da Serra da Estrela

 

Vista panorâmica do Vale de Manteigas
Vista panorâmica do Vale de Manteigas

 

A Serra da Estrela para mim é um local de eleição. Todos os anos a visito durante esta época mágica. O vale de Manteigas é um dos seus grandes hotspots onde se pode registar a magnitude de uma floresta durante o Outono. Carvalhos, faias e inúmeras espécies de flora – algumas delas com bagas vermelhas como as tramarias e os teixos – permitem-nos registar aquilo que de melhor o Outono tem para nos oferecer. Na Estrela, podemos ainda visitar o Covão da Ametade, um dos locais mais emblemáticos desta montanha.

 

Regato no bosque, Serra da Estrela
Regato no bosque, Serra da Estrela

 

Por vezes nos dias mais frios, um ligeiro toque de neve, à mistura com algum nevoeiro, conferem ao Covão da Ametade uma paisagem absolutamente fantástica. Noutras alturas, a luz de Outono incidindo sobre o Vale do Zezêre torna este lugar de origem glaciar único. A Serra da Estrela já me revelou os melhores Outonos que observei em Portugal.

 

Mata de Albergaria – Parque Nacional da Peneda-Gerês

 

Mata da Albergaria
Mata da Albergaria

 

O nosso único parque nacional tem uma dimensão de cerca de 70.000 ha, com inúmeras zonas que podem ser exploradas nesta altura do ano. No entanto, para mim existe uma zona que se torna obrigatório visitar nesta altura: a Mata de Albergaria. Este local pode ser visitado mesmo no princípio da estação, com diversas dominantes verdes, ou já em pleno Outono com uma explosão de cores que variam entre o amarelo claro e o vermelho. Nos dias de semana esta é uma zona bastante calma, por vezes sem ninguém. O silêncio só é quebrado pelo som das pequenas aves que ecoa pela mata.

As faias alaranjadas, por vezes com rasgos de luz a entrar pela copa das árvores, fornecem o ambiente perfeito para fotografar alguns pormenores como folhas e por vezes aves. Durante o Outono podem-se observar com frequência os açafrões-bravos que brotam do chão como pinceladas roxas.

 

Açafrão-bravo na Mata da Albergaria
Açafrão-bravo na Mata da Albergaria

 

Os diversos cursos de água ao longo da mata permitem captar alguns pormenores e reflexos bastante interessantes e originais.

Um pouco acima da Mata de Albergaria temos um troço do rio Homem cuja luz por esta altura ao fim da tarde permite registos fantásticos. Muitas vezes após alguma chuva e com o céu coberto conseguem-se efectuar fotografias com mais cor e sem sombras muito pronunciadas, tornando-se um óptimo aliado para fotografias de Outono.

 

 

Alto Douro Vinhateiro

 

Socalcos no Douro Vinhateiro
Socalcos no Douro Vinhateiro

 

Se optar por fazer alguns registos de Outono em áreas mais rurais então aconselho uma ida à região do Douro Vinhateiro. Pode começar a explorar a zona que vai da Régua ao Pinhão, seguindo posteriormente para zonas mais elevadas já no concelho de Alijó. Nesta região podem-se encontrar algumas das mais belas paisagens do mundo rural português.

 

Vinha em Peso da Régua
Vinha em Peso da Régua

 

Se esta região só por si é magnífica, com a entrada do Outono tem uma beleza especial. As vinhas começam a ganhar tons vermelhos e o contraste de cores que se perdem por montes e vales tornam as panorâmicas deslumbrantes.

Pode-se passar uma manhã só a captar pormenores numa vinha, como as texturas das folhas, até aos pormenores do orvalho.

 

Pormenor de videira no Douro Vinhateiro
Pormenor de videira no Douro Vinhateiro

 

Por vezes, bem cedo, o nevoeiro dissipa-se por entre os vales com os primeiros raios da manhã, tornando-se uma excelente oportunidade para captar registos destas paisagens.

Os reflexos no rio Douro é outro aspecto a que devemos prestar alguma atenção. Um ponto que merece uma visita é o miradouro de Casal de Loivos com uma vista sobre Pinhão e o rio Douro onde se pode observar um belo nascer do dia.

 

 

Equipamento fotográfico

 

O equipamento utilizado para fotografar o Outono depende de fotógrafo para fotógrafo. Este é algum do equipamento que para mim é obrigatório para efectuar fotografias nesta mágica estação do ano.

 

Zoom 12-24 mm – Utilizo bastante esta lente em paisagens que envolvam o interior da floresta. Sendo uma lente grande angular, possui uma enorme abrangência o que me permite cobrir uma vasta área. Utilizo este zoom também para me aproximar de um pormenor, como por exemplo uma folha, permitindo ao mesmo tempo manter o fundo focado. Utilizo inúmeras vezes esta lente para fotografar paisagens que incluam o céu, sobretudo com nuvens, mas quase sempre utilizo um filtro ND para aumentar o contraste do céu e das nuvens.

 

Lente 300 mm – Esta lente normalmente permite-me isolar um ou outro pormenor no interior da floresta, focando apenas o meu ponto de interesse, mantendo o restante desfocado. Para mim, torna-se muito mais interessante focar umas bagas ao longe com esta lente, do que por vezes com uma lente macro. Além disso capto pormenores de folhas na copa das árvores que de outra forma não conseguiria. Esta lente sendo relativamente leve, inclusive acoplada a um teleconversor (como por exemplo um 1.4 x) permite-me caminhar por meio da floresta e por vezes ter a sorte de fotografar uma ave mais distraída.

 

Lente105 mm macro – Utilizo sobretudo para grandes fotografias macro, como por exemplo a baga de um teixo, o pormenor de uma planta ou cogumelo no chão da floresta.

 

Baga de Teixo, na Serra da Estrela
Baga de Teixo, na Serra da Estrela

 

Muitas vezes uso esta lente macro com um fole de extensão para conseguir maiores pormenores. Fotografar a nervura das folhas do chão da floresta, ou as simples gotas de orvalho é um dos exemplos onde muitas vezes recorro ao fole de extensão. Este tipo de fotografias é demorado e quase sempre torna-se obrigatório recorrer a um tripé e a um cabo disparador já que trabalho com muito baixas velocidades.

 

Tripé e cabo disparador/ remoto – Estes dois acessórios podem ser a diferença entre boas fotografias ou não. Se estivermos a fotografar no interior de uma floresta a luz com toda a certeza vai ser reduzida. Ora a utilização de um tripé, assim com um cabo disparador/ remoto, permite-nos trabalhar com velocidades muito baixas e deste modo conseguir boas fotos. Caso contrário não existem milagres e as fotografias ficarão irremediavelmente tremidas e/ou desfocadas.

 

Reflector – Confesso que de um modo geral não sou apreciador da luz de flash, muito menos quando fotografo no meio de um bosque. Prefiro, na maioria dos casos, tirar partido da luz natural. Neste aspecto um reflector pode dar jeito para orientar a luz para um determinado ponto que queremos iluminar. No entanto, não se torna obrigatório despender fortunas a comprar um. Há uns anos aprendi com um fotógrafo americano que um simples cartão forrado com prata de cozinha dá um excelente reflector. Tenho sempre um na minha mochila. Quando se estraga faço outro. Podemos fazer com o tamanho mais apropriado à nossa mochila.

 

Pequeno aquário – Uso um pequeno aquário para fotografar pequenos cursos de água. Coloco a minha câmara com uma lente grande angular dentro do aquário encostada ao vidro interior e vou mergulhando ligeiramente o aquário até ao nível médio da água. Deste modo consigo efectuar fotografias dos cursos de água. Utilizo a função Live View para pré- visualizar e faço diversas tentativas até o resultado me agradar. Aprendi esta técnica com um fotógrafo escocês que fotografa salmões nos rios transparentes. Esta “manobra” requer que tenhamos que limpar o vidro interior do aquário diversas vezes devido à condensação. Um rolo de papel de cozinha é o melhor para isto. Como o aquário bóia o risco de afundar o equipamento é mínimo já que esta técnica é utilizada segurando o aquário pelo topo.

 

Mochila – Este acessório é fundamental para guardarmos o nosso equipamento fotográfico sobretudo em caso de mau tempo. Deve ser confortável ao ponto de podermos caminhar algum tempo com ele às costas. Quem não caminha pelo interior de uma floresta perde muito boas oportunidades de ver e fotografar o que de melhor esta tem para nos oferecer durante o Outono.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais

Veja aqui mais fotografias de natureza de João Nunes da Silva e fique a par das actividades onde pode participar, aqui.

Leia a entrevista que fizemos a este fotógrafo sobre o seu novo livro “Portugal de Norte a Sul”.

Quer saber mais sobre o Outono? Explore o que há de melhor para ver durante a estação na secção que criámos só para ela.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.