Águia-pesqueira. Foto: NASA

O censo nacional de águia-pesqueira precisa de si neste sábado

Está a chegar aquele dia do ano em que saímos para os estuários, rios e lagoas à procura das águias-pesqueiras que estão em Portugal a passar o Inverno. No ano passado, os voluntários contaram cerca de 150. A 3ª edição do Censo Nacional de Águia-Pesqueira acontece já a 14 de Janeiro e precisa de si.

 

O grande objectivo é saber o número e as áreas de distribuição destas aves de rapina (Pandion haliaetus) que, todos os anos, descem do Norte da Europa até Portugal para se alimentar durante o Inverno. “Antes destes censos, ninguém tinha ideia da dimensão da população invernante desta espécie” em Portugal, disse à Wilder Gonçalo Elias, um dos organizadores do censo e responsável pelo portal Aves de Portugal. “Havia a noção de que o Sul da Península Ibérica não seria tão importante como território de invernada para esta ave. Mas, afinal, é”, acrescentou.

No primeiro do censo, 2015, foram contadas entre 71 e 81 aves; no censo do ano passado, o número quase que duplicou para as 135 a 150.

Para este ano, as previsões meteorológicas dão um tempo estável para 14 de Janeiro, propício à observação de aves.

Quem quiser participar como voluntário só tem de enviar um email à organização do censo e dizer para que zona vai observar águias-pesqueiras. Depois é sair de casa com os binóculos e enviar para o mesmo email as informações sobre as aves que conseguiu registar.

O censo assenta em dois tipos de locais para onde os voluntários podem ir: seis grandes zonas húmidas onde estará cerca de 80% da população invernante – Ria de Aveiro, Estuário do Tejo, Estuário do Sado, Vale do Tejo, Albufeira de Alqueva e Ria Formosa – e outras zonas, como pequenas lagoas costeiras ou barragens. Para cada grande zona húmida há um coordenador que organiza as pessoas localmente.

Ao final de sábado já haverá um número total aproximado e no domingo a contagem ficará fechada.

 

Estuário do Sado com falta de voluntários

“A ideia é termos o país todo coberto com voluntários. Mas estamos preocupados porque ainda não temos os suficientes para o Estuário do Sado”, contou Gonçalo Elias.

Segundo o organizador, esse estuário é uma das zonas mais importantes para as águias-pesqueiras invernantes em Portugal e podem ser observadas “12 ou 15 aves”.

Acontece que o estuário “é uma área grande e que, ao contrário do Estuário do Tejo, fica longe de zonas habitadas, sendo mais difícil arranjar pessoas para lá ir”.

Além do Sado, há outras zonas com falta de voluntários, mais especificamente as barragens do Alentejo.

Mas este ano, o censo de águia-pesqueira traz uma novidade. Se em 2016 a Andaluzia se juntou à causa, agora será a vez de quase todas as regiões de Espanha. “Temos contactado com a Fundacion Migres que está a dinamizar o censo em Espanha. A informação que tenho é que quase todas as regiões de Espanha serão amostradas. À partida, todo o território será coberto”, disse Gonçalo Elias.

Além de Espanha, também Marrocos deverá participar. “Será uma espécie de censo piloto, com observações em dois ou três locais. Quem sabe se esta será uma semente para um futuro censo nacional”, revelou ainda.

 

Janeiro, mês ideal para contar águias-pesqueiras

Portugal já foi um país com águias-pesqueiras nidificantes. Mas, em 1997, a espécie foi dada como extinta quando morreu a única fêmea do último casal a nidificar em Portugal, na costa alentejana.

Catorze anos depois, em 2011, iniciou-se um projecto de reintrodução nas margens da albufeira de Alqueva, com aves trazidas da Suécia e da Finlândia, onde a espécie é abundante. Desde 2015, têm sido registados casais a ocupar ninhos no Alentejo. Em Junho de 2016 nasceram duas crias num ninho na albufeira de Alqueva.

Mas além das águias-pesqueiras que possam nidificar em Portugal, há muitas aves que passam por aqui, nas suas migrações entre o Norte da Europa e a Mauritânia – e que podemos observar em Setembro/Outubro e depois em Março/Abril – e outras que decidem passar cá o Inverno. São estas que poderá observar neste sábado.

“Janeiro é o mês ideal para fazermos este censo porque as populações invernantes estão mais estabilizadas”, explicou Gonçalo Elias. “As aves de passagem já estão em África e, por isso, já não há confusões. As que observarmos agora são as que estão aqui para o Inverno.”

Estas águias chegam a Portugal para se alimentarem. “Muitas das suas zonas de alimentação nos seus países de origem – Reino Unido, Alemanha, Noruega e Suécia – estão congeladas e, por isso, as aves não conseguem capturar peixes, o seu principal alimento”, acrescentou.

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Para participar contacte os organizadores do censo: [email protected].

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Descubra aqui os melhores locais para observar águias-pesqueiras e dicas de identificação.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.