O que procurar no Outono: libélulas

Um passeio pelo campo ou pelos jardins da cidade pode ser mais entusiasmante se soubermos o que procurar e onde. E o Outono traz inúmeras coisas interessantes que podemos ver. Albano Soares, do Tagis, ajuda-nos a procurar quatro coloridas libélulas.

 

As cores e a luminosidade dourada do Outono já se pressentem em toda a parte e os lagos e charcos não são excepção. Muitos dos animais que no Verão procuravam as águas paradas já desapareceram. Mas nem todos. Há, pelo menos, quatro espécies de libélulas que se reproduzem durante o Outono. Pode, por isso, procurar os azuis e vermelhos destes insectos junto às margens de lagos ou charcos, por entre o verde da vegetação. Com a ajuda de Albano Soares, do Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal, não serão difíceis de encontrar. Para começar, há que dizer que duas espécies são avermelhadas e duas azuladas.

As libélulas que encontrar estão muito atarefadas, em actividade reprodutora (parcial ou mesmo inteiramente). A tira-olhos-outonal e a libélula-comum retardam a maturação sexual de forma a só aparecerem nos locais de reprodução no fim do Verão e Outono (chegando mesmo ao Inverno), época onde existe menos competição e melhor disponibilidade de habitat reprodutivo (charcas e lagos).

A tira-olhos-menor e a libélula-de-nervuras-vermelhas têm duas gerações no nosso país. Destas gerações, a última corresponde geralmente a vagas migratórias para Norte, que incluem parte desta época do ano (Outono).

 

Tira-olhos-outonal (Aeshna mixta):

Tira-olhos-outonal (Parque da Cidade do Porto). Foto: Albano Soares
Tira-olhos-outonal (Parque da Cidade do Porto). Foto: Albano Soares

 

É azulada. Tem o abdómen em “mosaico” azul e negro. As tira-olhos-outonais que encontrar agora já atingiram a maturidade sexual. Esta espécie emerge com a forma adulta no fim da Primavera e início do Verão, mas só atinge a maturidade sexual no fim do Verão e no Outono. Pode vê-las frequentemente a pairar em charcas e lagos, mesmo aqueles que muitas vezes secam no decorrer do Verão. E não se apresse. Pode ver esta libélula mesmo no Inverno.

 

Tira-olhos menor (Anax parthenope):

Tira-olhos-menor (Barragem Dos Patudos, Alpiarça). Foto: Albano Soares
Tira-olhos-menor (Barragem Dos Patudos, Alpiarça). Foto: Albano Soares

 

É azulada. A melhor forma para a identificar é procurar o seu abdómen escuro com o segundo e terceiro segmento azulados, e os olhos e tórax esverdeados. Voa sobre a água, pairando frequentemente. Procure-a em águas paradas, como charcas ou lagos, mesmo no centro das grandes cidades. Pode observá-la em qualquer altura entre Abril e Outubro, mas está menos visível entre Abril e Maio e depois entre Julho e Outubro.

 

Libélula-de-nervuras-vermelhas (Sympetrum fonscolombii):

Libélula-de-nervuras-vermelhas (Parque Da Cidade do Porto). Foto: Albano Soares
Libélula-de-nervuras-vermelhas (Parque Da Cidade do Porto). Foto: Albano Soares

 

É avermelhada, com a parte inferior dos olhos azulada e as nervuras das asas vermelhas. Costuma estar pousada na vegetação e reproduz-se geralmente em águas paradas (ou com pouca corrente), mesmo em charcas e lagos nas grandes cidades. Pode vê-la praticamente todo o ano. É nesta altura, entre Setembro e Novembro, que são mais visíveis os grandes movimentos migratórios para Norte.

 

Libélula-comum (Sympetrum striolatum):

Libélula-comum (Santa Maria da Feira). Foto: Albano Soares
Libélula-comum (Santa Maria da Feira). Foto: Albano Soares

 

É avermelhada, mas mais acastanhada que a libélula anterior. Não tem a parte inferior dos olhos azulada nem nervuras vermelhas. Costuma estar pousada na vegetação.

Esta é mais uma espécie que emerge no fim da Primavera e final do Verão mas que só atinge a maturidade no fim do Verão e no Outono. É mesmo mais visível entre Outubro e Novembro. Os melhores locais para a observar são as águas paradas ou com pouca corrente. Na verdade, é uma presença assídua nos jardins das grandes cidades, podendo ser avistada praticamente todo o Inverno.

 

[divider type=”thin”]Algumas sugestões de locais onde procurar.

Para começar, Albano Soares sugere passeios no Parque da Cidade (Porto), no Parque da Paz (Almada) – onde pode ver as quatro espécies – e na Ponta da Erva (Estuário do Tejo). Mas estas libélulas voam por todo o país. Se as encontrar, diga-nos onde e envie-nos as suas fotografias para o email [email protected].

A equipa da Wilder vai procurar estas quatro libélulas. Depois contamos-lhe como correu.

 

[divider type=”thin”]Série “O que procurar no Outono”

A Wilder celebra o Outono com uma série de trabalhos sobre aquilo que não pode mesmo deixar de ver na natureza. E esta estação traz inúmeras coisas interessantes que podemos ver. Veados, esquilos-vermelhos, florestas douradas, cogumelos, bagas e frutos e libélulas são excelentes desculpas para um passeio no campo. E tudo pode ser mais entusiasmante se soubermos o que procurar e onde.

Leia aqui o segundo artigo da série, sobre a brama dos veados.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.