Salamandras-de-pintas-amarelas nas noites húmidas ou chuvosas

Estes dias chuvosos de Outono são uma das melhores alturas para procurarmos salamandras-de-pintas-amarelas (Salamandra salamandra). Ana Ferreira, técnica do projecto Charcos com Vida, explica que estes anfíbios estão a sair dos seus esconderijos para procurar parceiros e reproduzir-se.

 

Aproveite as chuvas de Outono para procurar esta espécie comum em Portugal. A melhor altura é ao anoitecer, uma vez que estes anfíbios são animais de hábitos nocturnos.

 

 

É nesta altura do ano e até Maio que as salamandras estão mais activas. Saem dos seus esconderijos e começam as suas caminhadas lentas com um objectivo muito claro: encontrar parceiros. Em noites húmidas ou chuvosas é muito provável que encontre salamandras solitárias à procura de companhia.

 

Foto: Nuno Cabrita
Foto: Nuno Cabrita

 

Muitas vezes, os machos ficam parados, de cabeça erguida, à procura de sinais olfativos das fêmeas mais próximas. Esta estratégia, ainda que eficaz no mundo das salamandras-de-pintas-amarelas, acarreta sérios riscos de atropelamento…

Quando se encontram, começa o ritual de acasalamento (terrestre). O macho coloca-se debaixo da fêmea, entrelaçando as caudas, até libertar o seu espermatóforo, que a fêmea recolhe com a sua cloaca. A seguir, as fêmeas dirigem-se para os charcos.

As fêmeas de salamandra-de-pintas-amarelas não põem ovos; dão à luz entre 20 a 40 larvas já com guelras, nas águas calmas dos charcos. É aqui que as pequeninas salamandras vão acabar a sua metamorfose. Ana Ferreira diz que um bom truque para distinguir as larvas desta espécie é procurar as manchas brancas ou amareladas na zona onde os quatro membros tocam no corpo.

 

Larva de salamandra-de-pintas-amarelas. Foto: Daniela Ferraz
Larva de salamandra-de-pintas-amarelas. Foto: Daniela Ferraz

 

A salamandra-de-pintas-amarelas é capaz de um feito incrível, salienta a especialista em anfíbios. Quando há pouca água e não há condições ideias para libertar as suas larvas, este anfíbio tem a capacidade de se adaptar. Então, as pequeninas salamandras terminam toda a metamorfose ainda dentro da barriga da mãe, e não na água do charco. Quando nascem, ainda que em menor número, já parecem miniaturas dos adultos.

 

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Três dos melhores locais para ver salamandras-de-pintas-amarelas:

Por estes dias conseguimos observar esta espécie de Norte a Sul do país, nos caminhos junto zonas húmidas. Aqui ficam três locais especialmente bons para a procurar.

Norte: Reserva Ornitológica do Mindelo, Vila do Conde

Centro: Serra de Sintra

Sul: Parque Natural da Ria Formosa, Quinta de Marim, Olhão

 

[divider type=”thick”]Três coisas que talvez não saiba sobre salamandras-de-pintas-amarelas:

Os padrões das pintas amarelas podem ser bastante variáveis e podem ajudar a distinguir subespécies diferentes em Portugal. Por exemplo, pode encontrar salamandras mais amarelas do que pretas e outras com pintas vermelhas.

É também conhecida como a salamandra-de-fogo, pois havia quem pensasse erradamente que ela vive no fogo. Isto porque esta espécie se esconde entre os troncos que eram levados para as lareiras, acabando por fugir quando era ateado fogo, parecendo que nasciam das chamas.

As salamandras podem medir cerca de 20 cm (no Sul de Portugal já se encontrou uma com 25,3 cm!) e podem viver até aos 20 anos. Em cativeiro podem chegar aos 50 anos de idade.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Envolva-se na campanha Charcos com Vida e ajude a pôr no mapa os charcos que conhece. Ou então, descubra aqueles que estão perto da sua casa. Também pode ajudar na campanha “Não deixe os charcos sem vida”, a decorrer de 28 de Outubro a 15 de Dezembro. A campanha de Crowdfunding tem como objectivo garantir a construção de mais 20 charcos, a inventariação de mais 174 charcos e o apoio a escolas (num total de 1.060 alunos) e a 390 profissionais.

A campanha Charcos com Vida, lançada em 2010 e hoje a cargo do CIIMAR (Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental), da Universidade do Porto, quer incentivar a inventariação, adopção, construção e manutenção de charcos e pequenas massas de água para a observação da biodiversidade e conservação da vida selvagem.

 

[divider type=”thick”]Série O que a natureza faz no Outono.

Cientistas e comunicadores de ciência explicam-nos o que a natureza em Portugal está a fazer no Outono e porquê, nesta nova série Wilder.

A migração das libélulas.

Tritões-de-ventre-laranja estão a voltar aos charcos.

A transformação das folhas das árvores.

Os sapos-de-unha-negra cantam e põem ovos nos charcos dunares.

Os gaios escondem milhares de bolotas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.