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Bioblitz de Serralves cresce e quer ser a referência da celebração da Biodiversidade

Bioblitz Serralves. Foto: Fundação Serralves/arquivo

A 8ª edição do Bioblitz Serralves será a mais ambiciosa de sempre. Escolas e público em geral estão convidados para, de 2 a 8 de Maio, e lado a lado com peritos e cientistas celebrarem a Biodiversidade num evento que quer ser a referência nesta área em Portugal.

O esquilo-vermelho, o chapim-azul ou a rã-verde são apenas algumas das centenas de espécies selvagens que vivem no coração da cidade do Porto, no Parque de Serralves.

Este espaço verde com 18 hectares recebe esta semana a 8ª edição do Bioblitz, evento de entrada gratuita para o qual estamos todos convidados. E este ano há mais actividades além da contagem e registo de espécies.

Chapim-azul. Foto: Ann/Pixabay

De 2 a 6 de Maio são as escolas a participar, presencialmente ou a partir das salas de aulas, para explorar a biodiversidade através de oficinas pedagógicas e científicas, saídas de campo, visitas temáticas e visitas virtuais. Assim, através de uma plataforma multimédia especialmente concebida para suportar as actividades concebidas para o evento, o BioBlitz alargará a sua abrangência, ficando acessível a um maior número de escolas do todo nacional, continente e ilhas. Na edição anterior participaram 280 escolas de todo o país.

No fim-de-semana, nos dias 7 e 8, o Bioblitz abre-se ao público em geral, dando uma atenção especial às crianças e famílias.

O grande objectivo deste evento, “momento de especial destaque na programação de Serralves”, é “dar a conhecer a fauna e flora do Parque de Serralves” e “promover a consciencialização da comunidade educativa e público em geral para a importância da biodiversidade”, explica a Fundação de Serralves em comunicado.

No centro do evento está o Bioblitz, uma inventariação relâmpago de espécies de animais e plantas feita pelos cidadãos, com a ajuda de peritos e investigadores, mais concretamente do CIIMAR e da Floradata.

Rã-verde (Pelophylax perezi). Foto: Juan Lacruz/Wiki Commons

“O formato BIioblitz, e este em particular, se tiver um bom apoio científico e pedagógico, pode ser muito eficaz no fomento da curiosidade pelo conhecimento da vida”, disse à Wilder Helena Freitas, directora do Parque de Serralves.

“Em pouco tempo e num espaço particular é possível captar a força da natureza (um snapshot da natureza); uns valorizam mais a diversidade de formas de vida, outros estarão mais atentos aos detalhes do habitat, mas a vontade de conhecer mais sobre a natureza, fica. E sem dúvida que o conhecimento nos predispõe para cuidar mais e melhor. Julgo que é também um formato que funciona especialmente bem com as crianças e o público jovem”, acrescentou.

Além do Bioblitz, os visitantes podem aprender mais sobre a biodiversidade numa série de oficinas que estarão a decorrer em contínuo, dedicadas a árvores; anfíbios e répteis; aves; briófitas e líquenes; insetos e micromamíferos mas também ao pequeno mundo dos charcos e às plantas aquáticas invasoras.

Podem ainda fazer saídas de campo de uma hora para explorar a biodiversidade do Parque, acompanhados por investigadores especialistas nos diferentes grupos de espécies: árvores e arbustos, aves, insectos e anfíbios.

Faz também parte da programação uma demonstração da tosquia das ovelhas de raça Bordaleira de Entre-Douro-e-Minho da Quinta de Serralves e a visita orientada a duas instalações do artista Gil Delindro, Fictional Forests e Burned Cork – Resilience.

Estão também previstas actividades Lipor e dos seus Municípios Associados: Maia, Matosinhos, Porto, Gondomar, Valongo, Espinho, Vila do Conde e Póvoa de Varzim e dos municípios fundadores da Fundação de Serralves, este ano com especial destaque para os municípios de Mirandela, Santa Maria da Feira, Vila Real, São João da Madeira e Torres Vedras.

Paralelamente decorrerá um “Green Market”, a extensão CINEECO 2021 com o filme “O lado negro do azeite” de Sandra Cóias e Pedro Rego e dois espectáculos: “Os Estranhões e Bizarrocos”, com direção artística de Joana Providência; e “Clown Enano”, por José Torres.

O Parque de Serralves, no coração de uma área metropolitana vasta, tem 18 hectares de extensão e mais de 60 espécies de fauna – mamíferos, aves, répteis e anfíbios, para além de um vastíssimo número de espécies de invertebrados – e 225 espécies de flora já estão registadas nas suas matas, jardins e na quinta tradicional. Pode saber quais são aqui.

Para Helena Freitas, é “da maior importância” criar habitats para a vida selvagem nas cidades para travar a crise da biodiversidade.

Esquilo-vermelho. Foto: Jakub Hałun/Wiki Commons

“Desde logo cuidar os espaços urbanos para que sejam mais amigos da biodiversidade e muitas infra-estruturas podiam ser melhoradas como esse objectivo”, comentou à Wilder.

“A criação de habitats para a vida selvagem é complementar e será cada vez mais relevante tendo em conta a ocupação urbana do território preferida pelas comunidades humanas e a degradação que acompanha as actividades económicas que se apropriam de forma progressiva dos ecossistemas naturais.”

“Por outro lado”, acrescenta, “a percepção de que somos parte da natureza é também crescente e mais valorizada na perspectiva dos equilíbrio que precisamos para uma boa saúde individual e colectiva.”

E dá um exemplo. “Serralves e o Bioblitz apresentam um espaço muito procurado pelas crianças (e não só) e que é um bom exemplo de construção de um habitat – o charco. Este novo habitat, que parte de uma base existente e favorável á sua construção, é hoje casa para muitas espécies vegetais aquáticas da flora portuguesa, hoje muito ameaçadas, fauna associada, alimento para muitas aves, e a própria água contém muita biodiversidade que cresce todos os dias! É um laboratório vivo para o serviço educativo e um ambiente muito apetecível para quem passeia e quer usufruir de um momento de descanso. Julgo que vamos contar cada vez mais com as cidades para proporcionar habitats favoráveis à biodiversidade.” 


Agora é a sua vez.

Descubra tudo sobre a programação do Bioblitz de Serralves aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.