Do cegarregão à cigarra-de-Maria, estas 13 cigarras já têm nomes em português

Cegarregão-abelhudo (à esq.) e cigarra-verde-do-Alentejo. Foto: Vera Nunes

Paula Simões e Vera Nunes, investigadoras do projecto Cigarras de Portugal, dão-lhe uma ajuda para passar a tratar pelo nome todas as espécies de cigarras com registos em território nacional – incluindo aquelas para as quais mais precisam da ajuda de cidadãos-cientistas.

Algumas cigarras portuguesas já tinham há muito tempo um nome comum, transmitido de geração em geração pela tradição oral – como é o caso do cegarregão, que é chamado de Lyristes plebejus no meio cientifico. Muitas outras, no entanto, só recentemente foram baptizadas em português, num esforço dos cientistas para uma maior aproximação à sociedade.

Fique a conhecer quais são os nomes comuns, as características físicas e a forma como cantam as 13 espécies de cigarras conhecidas em Portugal, a começar pelas seis que mais necessitam de registos.

1. Cigarra-Verde-do-Alentejo (Euryphara contentei)

Esta pequena cigarra, de cor verde, foi identificada para a ciência em 1982. É endémica de Portugal, ou seja, este é o único país onde foi observada, e são conhecidas apenas algumas populações no Alentejo. São cigarras difíceis de ouvir, pois para isso é necessário estar apenas a cerca de dois metros de distância.

E. contentei, calling song, rec.: J Sueur

2. Cegarrão-abelhudo ou Cegarregão-abelhudo (Hilaphura varipes)

Esta é uma cigarra de aspeto robusto como o cegarregão, mas de menor porte e com uma coloração predominantemente preta e amarela, movimentando-se em prados e campos abertos, que remete para uma analogia com os abelhões. Embora se consiga ouvir a poucas dezenas de metros é preciso “estar no local certo à hora certa”, pois não tem um canto uniforme em termos temporais.

H. varipes, calling song (another specimen calling in the background) – rec.: S. Puissant

3. Cegarregão (Lyristes plebejus)

Esta é uma cigarra de aspeto robusto, com cerca de 50 mm de comprimento total incluindo as asas, sendo a maior espécie de cigarra da Europa. Este é um nome comum antigo e conhecido na zona de Coimbra, que entre os antigos servia para designar as cigarras maiores, que eles acreditavam ser os machos da cegarrega (Cicada orni). Está mais presente na zona Centro e tem uma canção muito audível. É muito importante monitorar, pois sofreu um declínio acentuado desde os anos 70, cujas causas são desconhecidas.

Lyristes plebejus calling song, Slovenian Karst – rec. M. Gogala

4. Cigarra-peluda (Tibicina tomentosa)

Esta é uma cigarra de porte médio, as cores predominantes são o amarelo, o alaranjado e o preto e apresenta alguma pilosidade, sobretudo no tórax e cabeça. Em Portugal até hoje só são conhecidos dois registos da espécie, em 1982 e 2001, mas em Espanha existe com populações saudáveis.

T. tomentosa, calling song, Portugal – rec.: J. Sueur

5. Cigarra-do-norte ou cigarra-da-Serra-da-Estrela (Tettigettalna estrellae)

Descrita para a ciência em 1982, a cigarra-do-norte tem um porte pequeno. Foi inicialmente descoberta na Serra da Estrela. É endémica de Portugal, com presenças confirmadas no Interior Centro e na zona Norte.

T. estrellae Portugal, rec.J.A. Quartau and P.C. Simões 

6. Cigarra-de-Maria (Tettigettalna mariae)

Trata-se de uma pequena cigarra tipicamente algarvia, que ocorre em troncos de árvore e tem uma coloração castanha e preta. O nome da espécie foi atribuído pelo descritor José A. Quartau, que a descreveu em 1995, em homenagem à sua esposa. Esta espécie está muito confinada a uma área muito pequena, com grande pressão urbanística e turística, em zonas como a Quinta do Lago e Vale de Lobos. Ainda para mais, concentra-se na parte litoral.

T. mariae, Portugal, rec.: J. Sueur

7. Cigarra-de-José (Tettigettalna josei)

Esta é outra pequena cigarra tipicamente algarvia, de coloração predominantemente castanha que lhe permite uma boa camuflagem na vegetação herbácea. O nome científico foi-lhe atribuído pelo descritor Michel Boulard, em 1982, em homenagem a José Passos de Carvalho, que recolheu exemplares usados na descrição da espécie.

T. josei, Portugal, rec J. Sueur

8. Cigarra-do-mato ou cigarra-do-garrigue (Tibicina garricola)

Descrita cientificamente em 1983, esta é uma cigarra de aspecto robusto, com coloração predominantemente negra e pequenas manchas alaranjadas. Os adultos estão frequentemente associados a matas mediterrânicas de estracto muitas vezes arbustivo, conhecidas por garrigue.

T. garricola, calling song, France – rec.: J. Sueur

9. Cigarra-de-quatro-pintas (Tibicina quadrisignata)

É uma cigarra de corpo robusto, de aspecto muito parecido com a cigarra-do-mato (Tibicina garricola), com uma coloração predominantemente negra e apresentando geralmente quatro manchas laranja no tórax.

T. quadrisignata, calling song, Pyrenees, France – rec.: J. Sueur

10. Timpanista-compositora (Tympanistalna gastrica)

Esta espécie de cigarra é pequena. Destaca-se pela cor vermelho-alaranjada do abdómen e pelo canto particularmente ritmado e alegre, lembrando a percussão de tambores (timpanista significa que toca tambor).

T. gastrica, Portugal, rec.: J. Sueur

11. Cigarra-prateada ou cigarra-argêntea (Tettigettalna argentata)

Espécie comum de pequeno porte, que por exposição ao sol revela uma tonalidade prateada.

T. argentata, calling song, Slovenia, rec.: M.G.

12. Cigarra-comum ou cegarrega ou cega-rega (Cicada orni)

É a espécie de cigarra mais conhecida na Europa e em Portugal, sendo comum em todo o país, inclusivamente em grandes cidades como Lisboa. Apresenta uma coloração castanha-acizentada. É conhecida como cegarrega em várias regiões do país. Miguel Torga dedicou-lhe um conto intitulado “Cega-rega”, no seu livro “Bichos”. 

C. orni, calling song, Brje, Slovenia – M. Gogala 

13. Cigarra-comum-do-sul-de-Portugal (Cicada barbara lusitanica)

Em tudo semelhante à cigarra-comum (Cicada orni), esta espécie tem sido frequentemente confundida com aquela, mas distingue-se facilmente pelo canto intenso e contínuo, que faz lembrar uma sirene, e pela ocorrência essencialmente no sul do país. Espécie com origem provável no Magrebe, no Norte de África.

C. barbara lusitanica, calling song, rec.: J. Sueur 

Agora é a sua vez.

Os cientistas do projecto Cigarras de Portugal continuam a monitorizar as cigarras do território nacional, com a ajuda dos registos sonoros e vídeos captados por cidadãos-cientistas. Saiba como participar.

Veja este vídeo para aprender mais sobre as 13 espécies de cigarras encontradas em Portugal. E Conheça os sons de outras cigarras europeias, no site Songs of European Singing Cicadas.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.