A nova Uvariopsis dicaprio foi baptizada em honra do actor, pela sua ajuda à Floresta Ebo

Uvariopsis dicaprio. Foto: © Lorna Mackinnon/RBG Kew

A árvore encontra-se apenas numa das maiores florestas tropicais intactas dos Camarões, que em 2020 esteve ameaçada.

A descrição científica da Uvariopsis dicaprio – a primeira entrada adicionada em 2022 à lista dos Kew Gardens – foi publicada esta quinta-feira na revisa científica PeerJ. Membro da família da ylang ylang, árvore tropical conhecida pelo seu óleo essencial, a nova espécie foi baptizada por um grupo internacional de cientistas dos Kew Gardens, jardins botânicos reais situados em Londres, e do Herbário Nacional dos Camarões.

“A árvore, recolhida pela cientista Lorna MacKinnon, dos Kew, tem quatro metros de altura e apresenta conjuntos de flores grandes e brilhantes, amarelas-esverdeadas, no seu tronco”, descreve a instituição britânica numa nota de imprensa.

Na área da botânica e também noutras áreas ligadas à ciência, as novas espécies são muitas vezes baptizadas em homenagem a pessoas, por exemplo de cientistas que se distinguiram nessa área de pesquisa.

Neste caso, o nome foi escolhido porque em Fevereiro de 2020 o actor e ambientalista Leonardo DiCaprio lançou uma campanha nas redes sociais – em conjunto com a organização Re:wild – para o Governo dos Camarões voltar atrás com um projecto para a concessão de extracção de madeiras na preciosa Floresta Ebo.

Esta floresta representa metade da Área Chave para a Biodiversidade Yabassi, onde habitam os únicos chimpanzés conhecidos por usarem ferramentas de duas maneiras – para quebrarem nozes e para pescarem térmitas – e é “a casa ancestral de várias comunidades locais”, descrevem os Kew Gardens. É também uma das maiores florestas intactas dos Camarões, país situado na África Ocidental.

Em Agosto de 2020, o Presidente dos Camarões anunciou o cancelamento da concessão assinada três semanas antes.

Criticamente em Perigo

“Agradecemos muito o apoio que Leo nos deu na campanha para proteger Ebo, no ano passado. Por isso, pareceu-nos apropriado homenageá-lo nomeando em seu nome uma espécie que é única apenas desta floresta”, explicou Martin Cheek, investigador dos Kew Gardens em África. “Se a concessão para o corte de árvores tivesse avançado, teríamos provavelmente perdido esta espécie para a extracção de madeiras e para a agricultura de desbaste e incêndios que se costuma seguir a este tipo de contratos”, sublinhou.

Todavia, a nova Uvariopsis dicaprio foi classificada como Criticamente em Perigo, o último degrau antes da extinção na natureza segundo os critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza. A área da floresta onde ocorre continua desprotegida, pelo que a espécie enfrenta várias ameaças potenciais – além da indústria madeireira, a conversão do território para o cultivo de plantações e a extracção de minérios.


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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.