Alma-negra. Foto: Duncan / Wikimedia Commons

Cientistas seguiram as viagens destas aves entre as Canárias e os Açores

Cientistas da Universidade de Barcelona descobriram que a pequena alma-negra (Bulweria bulwerii) consegue voar longas distâncias entre as ilhas Canárias e o arquipélago dos Açores, em busca de comida.

Em causa está uma monografia produzida a partir de estudos realizados entre 2010 e 2018 numa colónia de nidificação destas pequenas aves marinhas no ilhéu de Montaña Clara, nas ilhas Canárias.

Os investigadores analisaram os dados obtidos em 105 almas-negras seguidas através de aparelhos de geolocalização, informa um comunicado da Universidade de Barcelona. Desta forma, estudaram as rotas migratórias e os locais onde estas aves passam os meses mais frios do ano.

A maior parte da população mundial destas aves está no Oceano Pacífico. No Atlântico, reproduzem-se regularmente nas ilhas Canárias, Açores, Madeira e Cabo Verde. Passam a maior parte da vida em alto mar e só vêm a terra para se reproduzirem.

Alma-negra. Foto: Raül Ramos (UB-IRBio)

São consideradas Em Perigo tanto em Espanha como em Portugal, ameaçadas “pela predação de mamíferos introduzidos [nas ilhas] (gatos e ratos), perda dos habitats naturais devido às urbanizações costeiras e também pela poluição causada pela luz e poluição marinha.”

Os cientistas concluíram que na época de reprodução, entre Maio e Agosto, as almas-negras voam das Canárias para os Açores em busca de comida, percorrendo quase 2.000 quilómetros. “Viajam por cima das águas oceânicas – onde vivem as presas – e fazem viagens de ida e volta para a colónia.”

Macho e fêmea dividem-se por turnos para cuidarem do único ovo, em períodos que podem chegar aos 15 dias, o que permite ao outro membro do casal percorrer grandes distâncias à procura de alimento. Percorrem os dois o mesmo número de quilómetros.

Foto: Alan Schmierer / Wiki Commons

De acordo com os investigadores, vão em busca de peixes, de pequenos cefalópodes e alguns crustáceos, que estas aves caçam normalmente durante a noite, quando as presas sobem à superfície para comer. Durante o dia, as almas-negras preferem repousar sobre as águas.

Já depois do período de incubação, que dura 45 dias, a pequena cria “tem de ser alimentada frequentemente e as rotas ficam reduzidas a metade da sua extensão habitual.”

A equipa concluiu ainda que na época de invernada, de Novembro a Fevereiro, as almas-negras analisadas migram sempre para os mesmos locais, no Atlântico Centro e no Atlântico Sul.

Estes trabalhos foram desenvolvidos no âmbito do programa Migra, promovido pela Sociedad Española de Ornitologia (SEO/Birdlife International).


Saiba mais.

Aprenda mais sobre a alma-negra no Atlas das Aves Marinhas.

Recorde a descoberta nos Açores, em 2017, de uma nova colónia desta ave rara, aqui.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.