Foto: Kevin Lino NOAA/NMFS/PIFSC/ESD

Cabo Verde: Cientistas portugueses descobrem importante berçário para tubarões na ilha da Boavista

Foram identificadas cinco espécies diferentes, todas elas em risco de extinção num futuro próximo, cujos juvenis se resguardam nesta área marinha para crescer em segurança.

Na Baía de Sal Rei, na ilha da Boavista, em Cabo Verde, foi agora identificada a primeira área de berçário para diferentes espécies de tubarões no Atlântico africano. Em causa estão cinco espécies em risco de extinção num futuro próximo, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza, indica uma equipa de 12 investigadores portugueses e cabo-verdianos que durante os últimos anos tem trabalhado no local.

Vista área da Baía de Sal Rei, na ilha cabo-verdiana da Boavista. Foto: Vasco Pissarra

Os resultados deste trabalho de investigação foram publicados esta quarta-feira na revista científica Frontiers in Marine Science, num artigo liderado por Rui Rosa, do MARE – Centro de Estudos Marinhos e Ambientais e da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

A situação é especialmente preocupante para o tubarão-martelo-recortado (Sphyrna lewini), classificado como Criticamente em Perigo – o último degrau antes da extinção – e para o tubarão-doninha (Paragaleus pectoralis), que está Em Perigo. As outras três espécies identificadas nesta área marinha estão Vulneráveis: o tubarão-leite (Rhizoprionodon acutus), o tubarão-de-pontas-negras (Carcharhinus limbatus) e o tubarão-lixa (Ginglymostoma cirratum).

Em geral, os tubarões são predadores de topo bastante vulneráveis às acções dos humanos. Entre várias razões para isso, são peixes que demoram muitos anos a crescer e a alcançar a idade de reprodução e têm também uma baixa fecundidade, poucas crias e longos períodos de gestação.

Assim, é em zonas como a da Baía de Sal Rei que estes peixes conseguem crescer em maior segurança, mais protegidos de outros predadores, e com comida disponível, explicam os autores do artigo. A protecção e conservação desta área de berçário é por isso “especialmente relevante” para proteger estas cinco espécies de tubarões, apelam os cientistas no artigo agora publicado, referindo a possibilidade de criação de uma área marinha protegida, mas que tenha real implantação no território.

Tubarão-martelo-recortado. Foto: Vasco Pissarra

Para identificarem as cinco espécies cujos juvenis se abrigam junto à Baía se Sal Rei, a equipa recorreu à ajuda dos pescadores locais. Ao longo de três anos, entre Agosto de 2016 e Setembro de 2019, os investigadores analisaram mensalmente quais eram os tubarões capturados em redes de emalhar colocadas por várias horas no local. Depois de identificados, os animais eram devolvidos ao mar. Fizeram também entrevistas sobre as espécies que são acidentalmente capturadas e onde.

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Tartaruga-boba (Caretta caretta). Foto: Frank Vincentz/Wiki Commons

“A relevância da região é claramente reconhecida pela comunidade local de pescadores”, salienta Rui Rosa, citado num comunicado do MARE. “A protecção da baía de Sal Rei será importante não só para os tubarões, mas para a conservação de toda uma diversidade de organismos marinhos altamente carismáticos e para o uso sustentável dos recursos marinhos na região.” Além dos tubarões agora identificados, a ilha da Boavista é também importante para a nidificação das tartarugas-boba (Caretta caretta) e das baleias-de-bossa (Megaptera novaeangliae).

O estudo agora publicado foi desenvolvido no âmbito do projeto de investigação NGANDU, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e pela Rede Aga Khan para o Desenvolvimento. 


Saiba mais.

Recorde estes cinco factos sobre os tubarões do Oceanário de Lisboa.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.