Campanha de salvamento em Castro Verde protege 15 ninhos de águia-caçadeira

Foto: Carlos Carrapato/ICNF

O objectivo é conciliar o corte de searas com a protecção da nidificação desta espécie que em Portugal está Em Perigo de extinção, avança em comunicado o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

O projecto está a ser desenvolvido pela Direcção Regional de Conservação da Natureza e Florestas do Alentejo, do ICNF, e pelo CIBIO/InBIO – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, da Universidade do Porto.

Em Junho, a equipa contactou 26 agricultores da Zona de Protecção Especial de Castro Verde, área que faz parte da rede europeia Natura 2000. Com a ajuda desses proprietários, e com a “estreita colaboração” da Liga para a Protecção da Natureza, foi possível “identificar a localização de ninhos, marcação e monitorização de crias e instalar proteções anti-predadores”.

Crias de águia-caçadeira no ninho. Foto: Carlos Carrapato/ICNF

Estes ninhos de águia-caçadeira “estão a ser detectados em culturas de cereais como a aveia, trigo e cevada”, explica o ICNF, que adianta que até agora foram acompanhadas 12 colheitas, no âmbito das quais a equipa detectou um total de 15 locais de postura.

Como a maioria dos ninhos estavam ainda com ovos, foram anilhadas para já apenas nove crias, e colocaram-se também protecções em volta.

Estrutura de protecção dos ninhos de águia-caçadeira. Foto: Carlos Carrapato/ICNF

A águia-caçadeira (Circus pygargus), também conhecida como tartaranhão-caçador, está classificada como Em Perigo de extinção em Portugal, onde “tem registado um declínio continuado”. É a mais pequena das águias europeias e só está presente em território nacional de meados de Março a Agosto ou Setembro, migrando depois para África.

Os ninhos desta águia ficam escondidos no meio das searas, entre a vegetação alta, e por isso precisam de ser detectados e protegidos para não serem destruídos na altura da colheita. Cada casal pode cuidar de até cinco ovos que ficam em incubação durante 28 ou 29 dias. Já as crias estão prontas para voar passados cerca de 40 dias.

Um dos ninhos de águia-caçadeira que foram encontrados. Foto: Carlos Carrapato/ICNF

As águias-caçadeiras alimentam-se sobretudo de insectos, como por exemplo gafanhotos, mas também passeriformes, répteis e mamíferos. O seu nome comum está relacionado com o facto de terem grande habilidade para caçar, com movimentos ágeis e precisos.

“A sua distribuição é maior nas planícies alentejanas, frequentando terrenos abertos com poucas árvores, nomeadamente áreas de culturas de sequeiro, pastagens ou pousios.”

Esta espécie pode ser aliás encontrada também, por exemplo, em terras de cultura de cereais na região de Trás-os-Montes, onde na zona de Miranda do Douro foi alvo de um projecto semelhante em 2020, realizado por proprietários agrícolas e pela associação Palombar.


Saiba mais.

Veja aqui o vídeo do ICNF dedicado a este projecto.

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.