lobo ibérico
Lobo ibérico conservado no Museu de História Natural, Lisboa. Foto: Joana Bourgard

Censo nacional de lobo-ibérico já está no terreno

Conhecer a área de distribuição desta espécie Em Perigo de extinção e qual a situação das alcateias são os grandes objectivos deste censo que se estende até 2021.

O lobo-ibérico (Canis lupus signatus) é uma espécie protegida e o único membro que resta da família dos grandes predadores de Portugal.

Estará reduzido a cerca de 300 animais distribuídos por 60 alcateias. Estes números são conhecidos graças ao último censo nacional à espécie, realizado em 2002/2003 e com resultados apresentados em 2006.

Mais concretamente, existiam então 60 alcateias, 51 das quais confirmadas, e cerca de 300 lobos, num território que abrangia cerca de 20.000 quilómetros quadrados. Esta área representava 20% da original. Até aos anos 30 do século XX, o lobo-ibérico distribuía-se por todo o país, até ao Algarve.

Com o passar dos anos, o lobo foi sendo empurrado, concentrando-se hoje em núcleos no Alto Minho, Trás-os-Montes e numa região a Sul do Douro.

Lobo-ibérico em zoológico dos Países Baixos. Foto: Gérard van Drunen/Wiki Commons

Passados 15 anos, um novo censo está no terreno para actualizar a informação sobre esta espécie classificada como Em Perigo de extinção, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (2005).

Vinte e cinco especialistas – mais do que os 10 do último censo nacional – estão em seis zonas de Portugal – Noroeste, Centro Norte, Nordeste, Terra Quente, Sul Douro Este e Sul Douro Oeste – a trabalhar para o Censo Nacional de Lobo Ibérico 2019-2021.

Os principais objectivos deste censo de lobo-ibérico são “identificar a área de distribuição actual da espécie e o número e situação das alcateias existentes”, disse ontem à Wilder o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Os trabalhos foram adjudicados no final de Julho a seis entidades: A.RE.NA. Asesores en Recursos Naturales S.L., Grupo Lobo, Palombar, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Universidade de Aveiro e ARCA People and Nature, S.L.

A primeira fase dos trabalhos foi “compilar a informação até então existente sobre a espécie na área de cada lote, tendo desde logo sido despoletados os trabalhos de campo para detecção da presença da espécie, que decorrerão até Outubro de 2021”, acrescentou o mesmo instituto.

Lobo-ibérico. Foto: Arturo de Frias Marques/Wiki Commons

O trabalho de campo do censo abrange 92 concelhos, entre eles Amarante, Arcos de Valdevez, Braga, Bragança, Caminha, Chaves, Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda, Mirandela, Montalegre, Paredes de Coura, Sabugal, Torre de Moncorvo, Valença e Vimioso.

Os especialistas das seis entidades vão trabalhar com as mesmas metodologias. Fazer transectos para procurar vestígios de lobo (dejectos) e estações de escuta e/ou de espera em pontos elevados para descobrir se houve reprodução naquela alcateia. Os peritos estão também a instalar câmaras fotográficas de apoio à detecção da espécie, das alcateias e da reprodução das mesmas. Além disso, será ainda realizada a análise genética de indícios de presença para confirmação da espécie.

A população do lobo na Península Ibérica – estimada em cerca de 2.000 lobos em 350 alcateias, num território de 140 mil quilómetros quadrados – está isolada das outras populações de lobo na Europa.

Esta população sofreu um declínio severo desde o início do século XX até aos anos 1970 por causa da perseguição intensa. Nas últimas décadas, a população tem vindo a expandir-se. Mas nem em todos os locais.

Parte da população ibérica continua em declínio, especialmente a Sul do Douro e na Serra Morena.


Saiba mais.

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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.