Floresta Amazónica. Foto: Rosa Maria/Pixabay

Cientistas desvendam o que leva à morte das árvores da Amazónia

A mortalidade das árvores na floresta amazónica está a aumentar. Um estudo que envolveu mais de 100 investigadores tentou perceber como e porque é que isso está a acontecer.

Quantas mais árvores morrem numa floresta, menos sobra capacidade para esta armazenar carbono. Essa é uma questão que está a preocupar os cientistas que estudam a Amazónia, uma vez que a mortalidade de árvores está a aumentar na região.

Um estudo agora publicado na revista Nature Communications, com base numa análise em grande escala, concluiu que o principal factor de risco para as árvores da Amazónia é a velocidade a que crescem. Em geral, quanto mais depressa crescer uma árvore, mais cedo terá tendência a morrer.

“Descobrimos que uma tendência forte para as espécies de crescimento rápido morrerem mais, o que significa que têm períodos de vida mais curtos”, afirmou um dos autores do estudo, David Galbraith, da Universidade de Leeds. “Como as alterações climáticas deram condições mais favoráveis para essas espécies, e como estas morrem mais depressa, o serviço de sequestro de carbono fornecido pelas árvores da Amazónia poderá declinar.”

O estudo agora publicado, coordenado pelas universidades de Leeds e Birmingham, baseia-se em dados fornecidos por mais de 100 cientistas de vários países, recolhidos ao longo de mais de 30 anos no âmbito da rede internacional RAINFOR – Rede Amazónica de Inventários Florestais. Esta informação inclui registos de 189 áreas com um hectare cada uma, visitadas em média de três em três anos, nas quais os investigadores medem todas as árvores com mais de 10 centímetros e avaliam a sua condição física.

Até agora, este projecto seguiu mais de 124.000 árvores vivas e analisou a morte de 18.000, num processo que “envolve um trabalho detalhado e forense que se assemelha a um mega-‘CSI Amazon’ conduzido por investigadores especializados de uma dúzia de nações”, notou Oliver Phillips, também da Universidade de Leeds.

O esforço para “compreender as maiores causas da morte de árvores permite-nos prever e planear melhor as tendências futuras”, lembrou por seu turno Adriane Esquivel-Muelbert, do Birmingham Institute of Forest Research. “Mas esse é um enorme desafio tendo em conta que há mais de 15.000 espécies de árvores na Amazónia”, sublinhou.

“Avaliámos os factores de risco associados à morte de árvores em toda a bacia amazónica”, indicou ainda esta investigadora brasileira, autora principal do estudo, num post publicado no Twitter. “Pensava-se que altas taxas de mortalidade eram associadas a distúrbios externos como o vento.”

No entanto, embora o vento possa causar a morte de árvores no Sul da Amazónia – onde a seca também tem sido um problema – faltavam explicações para entender as altas taxas de mortalidade noutros locais da região. Até agora.


Saiba mais.

Recorde a descoberta, anunciada há cerca de um ano, de árvores gigantes na Amazónia.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.