Flores silvestres. Foto: Helena Geraldes/Wilder

Cinco coisas que as cidades portuguesas estão a fazer pelos polinizadores

Em todo o mundo, os polinizadores enfrentam cada vez maiores desafios. Por isso, precisam da nossa ajuda. A equipa da polli.NET dá-nos cinco exemplos do que as cidades portuguesas estão a fazer para conservar estas espécies.

A ajuda que as cidades podem dar aos polinizadores – desde borboletas, abelhas, escaravelhos e aranhas aos abelhões, joaninhas, percevejos, moscas, vespas, formigas e cigarrinhas – é de extrema importância.

As cidades podem criar “refúgios que fornecem uma rede de recursos alimentares e de locais de nidificação para os insetos polinizadores, enquanto promovem a conectividade de paisagem”, explicou à Wilder Sílvia Castro, coordenadora da polli.NET – Rede Colaborativa para a Avaliação, Conservação e Valorização dos Polinizadores e da Polinização.

Para apoiar as cidades a trabalhar pelos polinizadores, esta Rede está a preparar um projecto para mostrar quais as boas práticas que os cidadãos, municípios e escolas podem implementar nos seus espaços verdes. Estes locais são considerados ainda “uma ferramenta única de educação ambiental e de consciencialização para a importância e diversidade dos polinizadores e dos serviços por eles prestados”, acrescentou Sílvia Castro.

Um dos projectos que mais tem feito para pôr os municípios a conservar e a conhecer os seus polinizadores é a Rede de Estações da Biodiversidade. Esta iniciativa do Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal e do cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais consiste numa rede nacional de percursos pedestres curtos (máximo de 3 km), sinalizados no terreno através de nove painéis informativos sobre as riquezas biológicas a observar pelos visitantes. Dos estudos de inventariação já realizados foram registadas cerca de 750 espécies de invertebrados (a maioria são insectos), 100 vertebrados e 750 plantas. 

A maioria das Estações da Biodiversidade foram financiadas pelos municípios onde se localizam. 

Segundo Patrícia Garcia-Pereira, coordenadora do Tagis e investigadora do c3Ec, hoje há “uma maior abertura e aumento da sensibilidade quanto aos polinizadores ao nível municipal”.

“Esperemos que passe rapidamente a ser uma regra basilar em futuras iniciativas de conservação da biodiversidade. No entanto, estamos ainda a começar… Um ponto essencial prende-se com a necessidade urgente de alterar a sensibilidade de todos aqueles que trabalham nos municípios – desde a presidência, diretores de departamento, chefes de divisão, técnicos municipais, funcionários e jardineiros – na forma como gerem os habitats naturais e os espaços verdes urbanos. É urgente abandonar a utilização de produtos químicos, é urgente regular podas e cortes, é urgente garantir a conetividade entre espaços verdes, etc.” 

E já há muito trabalho feito a nível municipal, um pouco por todo o país. Os responsáveis da polli.NET deixam aqui cinco exemplos do que está a ser feito por inúmeros municípios.

Guias de campo:

Os guias de campo são uma ajuda para dar a conhecer a biodiversidade e compilam a informação sobre espécies comuns, símbolos da estreita relação entre plantas silvestres e os insetos que as polinizam. Alguns dos municípios que já têm guias de campo são Mértola, Proença-a-Nova e Oeiras. O guia de campo de Viana do Castelo ainda está em preparação.

Hotéis para insectos:

Um tipo de ajuda que está a ganhar cada vez mais adeptos em vários municípios é a instalação dos chamados hotéis para insectos. Lisboa é uma das cidades que o está a fazer, no âmbito da Capital Verde Europeia 2020, assim como Vila Nova de Famalicão (no Parque da Devesa) e a Moita (na Zona Ecológica do Parque Hortícola do Vale da Amoreira).

Em Loulé, o Tagis fez os seus primeiros hotéis para polinizadores, no âmbito de um projeto de reabilitação ecológica da Ribeira de Cadoiços da responsabilidade da associação Almargem. 

Deixar de cortar a relva:

Em Portugal, há alguns municípios que já começam a olhar para a necessidade de ajudar os polinizadores. Uma das iniciativas recentes mais mediáticas foi promovida pelo município de Lousada que, intencionalmente, (e com placas a explicar o motivo) deixou de cortar a relva para que as plantas silvestres e a vegetação espontânea pudessem fornecer alimento para os polinizadores. Seguiram-se quase de imediato iniciativas similares na freguesia de Espinho em Braga e nos municípios de Águeda e Guimarães.

Esta iniciativa não é caso isolado. A nível internacional há várias campanhas dirigidas a esta boa prática, que levaram à criação da “hashtag” #nomowmay (em maio não corte a relva).

Estações da Biodiversidade:

A Rede de Estações da Biodiversidade e Biospots “tem sido fundamental para criar conteúdos de divulgação sobre espécies e relações ecológicas associadas à polinização que passaram a estar disponíveis para todos aqueles que visitam os percursos e locais sinalizados com painéis informativos”, explicou Patrícia Garcia-Pereira. “Estas simples infraestruturas têm sido apoiadas especialmente pelos municípios, um pouco por todo o país.”

Oeiras será o município com mais Estações da Biodiversidade e Biospots. Aqui pode descobrir o mapa com todas estas estações.

Censos e amostragens de insectos:

Um estudo piloto sobre a caracterização da diversidade de polinizadores em diversos habitats está a decorrer na antiga Estação Agronómica de Oeiras.

Em Lisboa, um enorme esforço de amostragem, dando continuidade a trabalhos anteriores de caracterização de outros grupos pelo cE3c, irá permitir caracterizar e comparar as comunidades de insetos polinizadores em parques, arruamentos, hortas, zonas ribeirinhas, etc., um pouco por todo o concelho. 

Em Loures, lembrou Patrícia Garcia-Pereira, “realizámos o inventário da diversidade de abelhas no Parque Municipal de Montachique. Esperemos que este trabalho de monitorização possa continuar nos próximos anos e que possibilite a publicação do primeiro guia de identificação deste grupo de insetos”.   

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.