Cinco perguntas sobre o projecto europeu dedicado aos insectos

Rainha de abelhão-comum. Foto: Ivar Leidus/Wiki Commons

Sílvia Castro e João Loureiro, do CFE – Centro de Ecologia Funcional, da Universidade de Coimbra, responsáveis pelo SPRING em Portugal, explicaram à Wilder o que é esta iniciativa que está a testar métodos de monitorização em vários pontos do país e quais vão ser os próximos passos.

WILDER: Quais são os principais objectivos do SPRING?

Sílvia Castro e João Loureiro: O grande objetivo é responder ao declínio dos polinizadores e ajudar a reverter este declínio de uma forma alinhada com os objetivos da Estratégia Europeia para a Biodiversidade 2030. Em particular, contribuir para a capacitação taxonómica dos países membros ao nível dos polinizadores e preparar o apoio à implementação de um programa de monitorização de polinizadores na Europa.

Para isso, o projeto está estruturado em várias tarefas, tendo como objetivos específicos expandir programas de monitorização em curso com base em ciência cidadã (como é o caso do programa de monitorização de borboletas na Europa), promover a capacitação ao nível da taxonomia e identificação dos polinizadores, e desenvolver um projeto piloto para testar a implementação de um programa de monitorização de polinizadores ao nível europeu.

W: À imagem do esquema europeu de monitorização de borboletas, o SPRING pretende apoiar-se na ciência cidadã?

Sílvia Castro e João Loureiro: Este projeto apoia-se num documento produzido por um conjunto de especialistas e apresentado à Comissão Europeia, que propõe um esquema elaborado de monitorização dos diferentes grupos de polinizadores, incluindo metodologias de amostragem, indicadores e atores envolvidos neste processo. Esta proposta necessitava de ser testada e aí surge o projeto SPRING.

De qualquer das formas, os programas já existentes serviram também de suporte ao desenvolvimento destas metodologias, nomeadamente o esquema europeu de monitorização de borboletas, pelo sucesso da iniciativa e numa tentativa de a expandir a outros grupos de organismos polinizadores.

A ciência cidadã é uma das estratégias em avaliação para permitir uma expansão da monitorização, mas dada a dificuldade de identificação de determinados grupos de insetos, necessita de ser avaliada com cuidado antes de implementada ao nível europeu.

W: Querem também incentivar a formação de mais taxonomistas? E porquê?

Sílvia Castro e João Loureiro: Sem dúvida! A aposta na formação de taxonomistas e na capacitação ao nível regional de equipas de taxonomistas, na identificação dos diversos grupos de polinizadores, é uma grande aposta do projeto. Esta capacitação é crucial para que os países membros tenham recursos e competências para a identificação dos seus polinizadores ao nível nacional e regional e para uma posterior implementação de um plano de monitorização.

Sem esta formação, a implementação de um programa de monitorização ao nível nacional fica largamente constringida e dependente de colaborações internacionais de especialistas que, sendo escassos, dificilmente conseguirão dar resposta a um pedido massivo ao nível europeu.

Nesse sentido, o SPRING está a organizar diversos cursos de formação com diferentes níveis de especialização e cobrindo os grupos de polinizadores mais importante, as abelhas, sirfídeos ou moscas-das-flores, e borboletas. Estes cursos são dirigidos ao público em geral, a voluntários que já estejam envolvidos no programa de monitorização de borboletas ou outros voluntários que queiram iniciar esta atividade, a investigadores familiarizados com os polinizadores, mas com pouca experiência na sua identificação, e a entomólogos para uma formação mais avançada.

W: Se as metodologias utilizadas durante o SPRING forem validadas, que etapa é que se segue?

Sílvia Castro e João Loureiro: O projeto SPRING surge precisamente de uma necessidade identificada ao nível europeu, de monitorizar os polinizadores. Nesse sentido, o próximo passo será criar um conjunto de diretrizes e metodologias que terão de ser implementadas pelos países membros, de forma a podermos perceber de que forma as populações de polinizadores estão a evoluir em termos de abundância e diversidade na Europa, e de que forma determinadas medidas (por exemplo, da Política Agrícola Comum) estão a impactar estes organismos. 

É de esperar que surja um programa europeu e que exista uma obrigatoriedade dos Estados-membros de contribuir com indicadores de monitorização deste grupo funcional tão importante para o funcionamento dos nossos ecossistemas. É expectável que este programa entre em funcionamento a partir de 2027.

W: Quando é que estarão disponíveis resultados concretos do projecto para Portugal?

Sílvia Castro e João Loureiro: A equipa do projeto SPRING encontra-se neste momento a adquirir dados em terreno através de várias metodologias. A recolha de informação terminará este ano e passar-se-á à análise dos resultados obtidos nos diferentes países envolvidos. Assim, os resultados serão comunicados em 2024, no momento de finalização do projeto. 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.