Oceanos. Foto: Mobibit/Pixabay

Conferência dos Oceanos da ONU em Lisboa vai lançar uma “frota de soluções”. Saiba o que está em preparação

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De 27 de Junho a 1 de Julho, Lisboa recebe a 2ª Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, evento ao mais alto nível que acontece para acelerar a protecção marinha e lançar uma “frota de soluções”.

Há décadas que nações, chefes de Estado e peritos debatem a protecção dos oceanos. Mas a verdade é que estes estão cada vez mais ameaçados.

“A mensagem é clara: sabemos que estamos a destruir o planeta e sabemos porque o fazemos”, disse Emanuel Gonçalves, responsável científico e administrador da Fundação Oceano Azul, esta manhã durante uma sessão informativa para os Media sobre a Conferência de Lisboa, no Oceanário de Lisboa. “Hoje só 13,2% do oceano permanece intacto”, principalmente no alto-mar e “mais de dois terços tem impactos elevados a muito elevados”. Os oceanos estão cada vez mais quentes, mais ácidos e com menos oxigénio.

Dentro de algumas semanas, os mais de 190 Estados membros das Nações Unidas vão reunir-se em Lisboa, no Altice Arena, para chegarem a acordo sobre como podemos ajudar os oceanos.

“Podemos travar o declínio da saúde dos oceanos e podemos fazê-lo já este ano. É vital que o façamos”, disse Peter Thomson, enviado especial das Nações Unidas para os Oceanos, numa mensagem gravada e difundida esta manhã na sessão informativa.

Há três coisas que se podem fazer, exemplificou: acabar com os subsídios à pesca destrutiva, apostar na economia azul sustentável e trabalhar para cumprir a meta 30×30, ou seja, ter 30% do planeta protegido até 2030. Esta meta faz parte de uma proposta, apoiada por cerca de 100 países, que será debatida na Conferência da ONU sobre Biodiversidade, que vai acontecer este ano em Kunming, na China.

Segundo Peter Thomson, em Lisboa será lançada uma “frota de soluções”.

A conferência dos Oceanos da ONU será o culminar de meses de “intensa actividade internacional”, com várias conferências, sobre os oceanos, e espera-se que seja um “grande contributo para a Conferência das Partes (COP27) da ONU para o Clima” que vai acontecer em Novembro deste ano em Sharm El-Sheikh, no Egipto, comentou o embaixador Alexandre Leitão, vice-presidente da comissão organizadora da Conferência de Lisboa.

O grande objectivo será juntar em Lisboa a “comunidade internacional, ao mais alto nível” e num evento presencial, e promover a “acção oceânica”, o “papel dos oceanos e soluções baseadas na Ciência”.

Numa altura em que faltam quatro semanas para o início da conferência estão confirmados cerca de 20 chefes de Estado e ministros de 35 países. A China é um dos países que estará presente. Mas Alexandre Leitão lembrou que é habitual haver confirmações de participação até mais perto da data de início destes eventos.

Está também prevista a participação de 14 organizações intergovernamentais e de vários bancos de desenvolvimento, instituições financeiras, organizações não governamentais, fundações, universidades, instituições científicas e empresas.

O coração da Conferência vai acontecer no Altice Arena, na chamada Blue Zone. Ali vai decorrer uma sessão plenária contínua e oito sessões paralelas que vão debater temas diferentes, de forma mais aprofundada, entre eles a economia azul, a poluição, o restauro dos ecossistemas e a pesca sustentável.

Serão realizados ainda quatro eventos especiais em Lisboa mas também em Carcavelos e Matosinhos: o Fórum da Juventude (que começa dia 24 de Junho, na Nova School of Business and Economics, em Carcavelos), um Fórum sobre acção oceânica a nível local (a 25 de Junho, no Terminal de Cruzeiros em Matosinhos), o Simpósio da Água (a 27 de Junho, no Altice Arena) e o Fórum Economia Azul Sustentável (a 28 de Junho, no Centro de Congressos do Estoril).

Além deste programa vão acontecer centenas de eventos organizados pela sociedade civil, numa verdadeira “festa dos oceanos”, comentou Alexandre Leitão. Destes, cerca de 200 vão decorrer fora do Altice Arena “para permitir a participação do público em geral”, explicou. Um dos locais onde estes vão acontecer será debaixo da pala do Pavilhão de Portugal, ao lado do Altice Arena, no Parque das Nações. Ali será montado um auditório, espaços para reuniões e para exposições, por exemplo.

Outro local com actividades durante toda a Conferência será a Marina do Parque das Nações, com o Ocean Base Camp, local para troca de experiências e debate de temas, organizado pela Fundação Oceano Azul, Sciaena e Seas at Risk.

A 29 de Junho realiza-se uma marcha pelo oceano, a partir das 18h00, no Parque das Nações, onde quem quiser se pode manifestar pelo oceano e chamar a atenção dos governantes, explicou Flávia Silva, gestora de projectos da Fundação Oceano Azul.

De 24 de Junho a 9 de Julho estará patente na Praça do Rossio a exposição “Ocean Decade”, com 40 painéis de obras criativas e surrealistas feitas por 20 artistas de 12 países. A iniciativa, que resulta de uma parceria entre a Unesco e a The Ocean Agency, quer “inspirar para uma maior sensibilização de todos para os oceanos”.

“Os oceanos não têm estado nem nas prioridades políticas nem nas prioridades económicas”, lembrou esta manhã Tiago Pitta e Cunha, presidente da comissão executiva da Fundação Oceano Azul. “São o ângulo morto das nossas sociedades, aquilo que não conseguimos ver”.

No entanto, sublinhou, os oceanos são “o principal sistema que regula o clima do planeta”.

“Estamos na última corrida para conseguir viabilizar o mundo para as próximas gerações.” A Conferência dos Oceanos da ONU em Lisboa vai procurar deixar a sua marca e fazer a diferença.


Saiba mais sobre estes temas e o que está em causa na protecção do oceano aqui e aqui.

E aqui pode encontrar todos os artigos da Wilder dedicados aos oceanos.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.