uma coruja-das-torres em voo
Coruja-das-torres. Foto: Edd Deane/Wiki Commons

A coruja-das-torres é a Ave do Ano 2018 em Espanha

A coruja-das-torres (Tyto alba) foi eleita em Espanha a Ave do Ano para 2018, numa votação popular que se realiza anualmente desde há 30 anos.

 

A iniciativa organizada pela SEO/BirdLife (Sociedad Española de Ornoitología), começada em 1988, destaca desta vez uma espécie que sofreu uma descida de 13% em território espanhol, durante a última década, mas que nalguns pontos do país chega aos 50%.

Segundo a SEO, em comunicado, está em causa a situação das áreas agrícolas, que nos últimos anos têm sido afectadas pela perda de habitats, pelos efeitos da agricultura intensiva e ainda pela desertificação do meio rural.

“Em silêncio, como quando voa, esta espécie avisa-nos desde há anos sobre a perda gradual da vida no campo. Vêmo-la menos, ouvimo-la menos. Sucede o mesmo com os insectos. Com os roedores. Com as paisagens e com os camponeses”, referiu a directora-executiva da associação espanhola, parceira da organização internacional Birdlife.

“A má situação da avifauna agrária é um aviso para fortalecer social e ambientalmente o meio rural”, sublinhou.

De acordo com os resultados do programa de ciência cidadã Noctua, coordenado em Espanha pela SEO, desde 2013 a população de corujas-das-torres desceu 13%. O declínio foi maior  na parte “mediterrânica sul”, que inclui as regiões da Andaluzia e Castela.

 

uma coruja-das-torres pousada num poste
Foto: Steve Garvie/Wiki Commons

 

A situação em Portugal também não é boa. Os dados mais recentes dizem respeito à evolução das populações desta espécie entre 2009/2010 e 2016/2017, período em que registou um “declive negativo”, que pode indicar “uma tendência de regressão a longo prazo”. Isto de acordo com o relatório do Programa Noctua, publicado em Dezembro passado, e coordenado em Portugal pela SPEA (Sociedade para o Estudo das Aves).

 

De olhos na PAC

De acordo com a SEO, as grandes ameaças para as corujas-das-torres, em Espanha, ligam-se à “radical transformação do meio agrário”, cada vez mais ocupado por grandes superfícies de monoculturas, muitas delas de regadio, e com menos presença humana.

Resultados? Perda de biodiversidade nos campos, contaminação, menos diversidade de habitats e menos alimentos, que se aliam ao envenenamento secundário das aves.

Por outro lado, “as corujas perdem lugares tradicionais para nidificar, como campanários, casarios e quintas.”

Aumentar a biodiversidade no meio rural é prioritário para alterar esta situação, o que passa por instrumentos legislativos como a reforma da Política Agrícola Comum (PAC), acrescenta a associação espanhola.

Para a eleição da coruja-das-torres como Ave do Ano – entre várias espécies colocadas a votos – contribuíram 3.796 votantes. Seguiram-se o borrelho-de-coleira-interrompida (1.134 votos) e o abutre-do-Egipto (943).

Ainda não é conhecida a Ave do Ano 2018 para Portugal, mas em 2017 foi o corvo-marinho-de-crista, também conhecido por galheta. No mesmo ano, a ave escolhida em Espanha foi o sisão.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Descubra aqui onde pode observar mais facilmente a coruja-das-torres em território português, no portal Aves de Portugal.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.