Solta de lince-ibérico no Vale do Guadiana, em Fevereiro de 2019. Foto: ICNF

Dois linces libertados esta manhã no Vale do Guadiana para reforçar população

Quinde e Quisquilla, nascidos em cativeiro na Andaluzia, são reintroduzidos esta manhã no Vale do Guadiana, onde já vivem 107 linces-ibéricos. Esta libertação quer ajudar a recuperar as populações ibéricas desta espécie ameaçada.

 

Estes dois linces são libertados hoje, pelas 10h30, na freguesia de Corte Gafo (Mértola), na área de reintrodução de lince ibérico, do Vale do Guadiana, segundo o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Quinde, um lince macho, nasceu a 23 de Fevereiro de 2019 (filho de Madroña e de Juglans) e Quisquilla, uma lince fêmea, nasceu a 18 de Março de 2019 (filha de Nársil e de Júpiter) no Centro de Reprodução em Cativeiro de El Acebuche, em Doñana (Andaluzia). São dois dos seis linces conseguidos em 2019 naquele centro, que faz parte da rede ibérica de cinco centros que trabalham no Programa de Conservação do Lince-ibérico ex-situ.

Antes de serem libertados, Quinde e Quisquilla foram “submetidos a controlo sanitário no Centro de Reprodução onde nasceram, foram-lhes colocadas coleiras emissoras e serão subsequentemente monitorizados pela equipa sediada em Mértola, constituída por técnicos e vigilantes da Natureza do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas”, informa o ICNF.

 

Foto: Programa de Conservación Ex-situ del Lince Ibérico

 

Estes dois jovens linces vão juntar-se à população do Vale do Guadiana, actualmente com 107 animais desta espécie classificada como Em Perigo de extinção, pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (ICNF). A população de lince-ibérico (Lynx pardinus) de Portugal e Espanha terá mais de 800 animais.

“Esta situação positiva tem sido possível graças à adesão de proprietários de herdades e gestores de zonas de caça, a uma gestão sustentável do território, à abundância de coelho-bravo e a uma atitude favorável por parte da população local à presença do lince”, segundo o ICNF.

A conservação do lince-ibérico “tem sido naturalmente favorecida através da conectividade entre a população de linces do Vale do Guadiana com as existentes em outras áreas de Espanha, fundamental para o incremento da variabilidade genética”.

As reintroduções de linces na natureza em Portugal, mais concretamente no Vale do Guadiana, começaram há cinco anos, a 16 de Dezembro de 2014, com Katmandú e Jacarandá. O grande objectivo era restabelecer uma população selvagem autónoma, com uma diversidade genética adequada.

A zona escolhida foi o Vale do Guadiana. “Este local foi selecionado como local de reintrodução por cumprir uma série de critérios definidos a nível ibérico, como a distância às estradas, proximidade a outros núcleos com indivíduos reprodutores, existência de fiscalização e densidade de coelho”, explicou anteriormente à Wilder Pedro Rocha, director do Parque Natural do Vale do Guadiana, área protegida com cerca de 70.000 hectares. Tudo foi validado a nível ibérico.

 

 

No ano passado, nasceram no Vale do Guadiana 46 crias e 13 fêmeas reprodutoras tinham ocupado territórios. As primeiras crias de lince confirmadas na natureza nos últimos 40 anos chegaram em Maio de 2016.

O lince-ibérico tem tido uma história atribulada. No século XIX a população mundial da espécie estava estimada em cerca de 100.000 animais, distribuídos por Portugal e Espanha. Mas no início do século XXI restavam menos de 100. Então, os dois países juntaram-se para recuperar habitats e reproduzir animais.

Ano após ano continuam os esforços para conservar esta espécie.

Em 2020 continua a reprodução em cativeiro nos cinco centros da Península Ibérica (quatro em Espanha e um em Portugal) e as reintroduções na natureza, com a libertação de um total de 30 linces (18 machos e 12 fêmeas) em Portugal e Espanha.

 

Lince-ibérico, cria. Foto: Programa Ex-situ

 

A época de reintroduções de 2020 começou a 20 de Janeiro, com a libertação de Queso e Quirina em Villarejo de Montalbán, em Castela-La Mancha.

Ao mesmo tempo está a ser finalizada uma nova candidatura ibérica ao programa LIFE da União Europeia, o projecto Lynx Connect.

Hoje será ainda inaugurado o Centro de Interpretação e Observatório do Lince-Ibérico, em São João dos Caldeireiros, inserido no projeto “Por Terras do Lince-Ibérico”, promovido pela Associação de Defesa do Património de Mértola (ADPM).

“Este observatório constitui uma estrutura de apoio ao visitante, que pretende disponibilizar informação sobre a espécie, assim como visa recomendar atitudes e comportamentos aos visitantes, compatíveis com uma observação responsável e sustentável.”

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

A Wilder acompanhou a libertação de um lince, no Vale do Guadiana, em Maio de 2017. Saiba aqui como se reintroduzem linces na natureza.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.