Lince-ibérico, cria. Foto: Programa Ex-situ (arquivo)

Novo projecto de conservação do lince-ibérico investe 18,5 milhões de euros até 2025

Lynx Connect será o quarto projecto LIFE dedicado à conservação do lince-ibérico e foi apresentado à União Europeia a 11 de Fevereiro. Portugal volta a ser um dos parceiros desta iniciativa ibérica.

 

O projecto, cuja versão definitiva foi apresentada este mês à União Europeia (UE) pela Junta da Andaluzia, terá dois grandes objectivos: aumentar a população de lince-ibérico (Lynx pardinus) no mundo e garantir a ligação entre os núcleos de lince já existentes, para evitar problemas de consanguinidade.

Para isso contará com 18,5 milhões de euros para o período 2020-2025, anunciou Carmen Crespo, conselheira andaluz para a Agricultura, Ganadería, Pesca y Desarrollo Sostenible. O coordenador do novo LIFE será Javier Salcedo, funcionário da Consejería de Agricultura y Desarrollo Sostenible – e que foi director de outro projecto LIFE, dedicado às aves estepárias, terminado em 2014 – que substituirá Miguel Angel Simón, já jubilado.

“O projecto vai tentar que, durante o período de execução, a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) reclassifique o lince, para que este deixe de ser uma espécie Em Perigo de extinção para passar a ser uma espécie Vulnerável”, disse a conselheira em comunicado.

O lince-ibérico viu o seu estatuto de conservação alterado a 22 de Junho de 2015, de Criticamente Em Perigo para Em Perigo.

Na sua opinião, este é um desafio possível, uma vez que se está a cumprir o requisito indispensável de manter, durante pelo menos cinco anos consecutivos, 125 fêmeas reprodutoras. Em finais de 2018, a população mundial desta espécie contava com 686 indivíduos, 306 dos quais eram reprodutores (160 fêmeas).

O Lynx Connect, que terá 22 sócios em Portugal e Espanha, tem dois grandes eixos: “aumentar o tamanho da população e a sua conectividade”.

“Este programa nasce do esforço técnico e do compromisso de todos os sócios, dando um exemplo de responsabilidade”, comentou Carmen Crespo.

Hoje existem dois núcleos consolidados de lince-ibérico mas estão afastados entre si: Doñana e Serra Morena Oriental. Outros quatro núcleos estão pendentes, no que se refere à sua consolidação: Extremadura espanhola (Matachel), Portugal (Vale do Guadiana) e dois em Castela-La Mancha (Campo de Calatrava e Montes de Toledo).

“A consolidação e conectividade destes seis núcleos vai garantir a conservação da espécie”, acredita Carmen Crespo.

A ligação entre núcleos populacionais de lince é uma prioridade apoiada pela WWF espanhola, um dos parceiros neste esforço ibérico de conservação.

Além destes desafios, o LIFE Lynx Connect tem ainda como objectivo criar dois novos núcleos na Sierra Arana (Granada) e em Lorca (Múrcia). Já há vários anos que a comunidade de Múrcia prepara espaços naturais da Rede Natura para a reintrodução do lince, nas serras de Lorca e Caravaca.

 

Lince-ibérico esteve um ano à espera de um novo projecto LIFE

O terceiro LIFE para o lince-ibérico, o LIFE Iberlince, terminou a Dezembro de 2018.

Em Janeiro de 2019, a Junta da Andaluzia, enquanto entidade coordenadora, apresentou uma proposta para o quarto LIFE.

Mas em Junho de 2019, a Comissão Europeia vetou a proposta, justificando que o orçamento pedido, 27 milhões de euros, seria demasiado elevado. A UE deverá co-financiar com entre 60 a 75%. O resto divide-se pelos sócios, incluindo Portugal.

A decisão de urgência que tomaram os sócios depois do “não” da UE foi reduzir o projecto, e o orçamento, para 18,5 milhões de euros.

Fontes da Consejería de Agricultura, Ganadería, Pesca y Desarrollo Sostenible confirmaram ao jornal espanhol El Mundo que a Comissão europeia avaliou positivamente o projecto reformado que enviou a Bruxelas.

E em Novembro de 2019, a Comissão Europeia deu luz verde à proposta provisória, dando o prazo até 11 de Fevereiro para que a Junta da Andaluzia o apresentasse na sua versão definitiva.

Agora, a Junta andaluza espera que a aprovação chegue neste Verão.

Enquanto não chega a resolução definitiva da UE, a Junta da Andaluzia está a investir um total de 3,8 milhões de euros para manter os trabalhos de conservação desta espécie “de enorme valor para a fauna ibérica”, considera a junta andaluza.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Saiba como é cuidar dos linces no Vale do Guadiana.

Leia a nossa série “Como nasce um lince-ibérico” e conheça os veterinários, video-vigilantes, tratadores e restante equipa do Centro Nacional de Reprodução (CNRLI) em Silves.

Recorde aqui 12 datas que não devemos esquecer na conservação do lince-ibérico.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.