Águia-de-Bonelli. Foto: Artemy Voikhansky

Equipa vai proteger e conservar casais de águia-de-Bonelli na Área Metropolitana de Lisboa

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Projecto LIFE LxAquila, apresentado oficialmente esta tarde, vai ajudar os 12 a 14 casais desta ave de rapina que ali vive excecionalmente perto das pessoas e que está por isso no limiar da sobrevivência.

Até Setembro de 2025, conservacionistas da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) vão trabalhar em conjunto com proprietários de terrenos para proteger as águias-de-Bonelli (Aquila fasciata) na Área Metropolitana de Lisboa.

Foto: Rita Ferreira/SPEA

Esta é uma espécie Em Perigo de extinção em Portugal, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados (2005). A última estimativa nacional é de 2011 e aponta para um total de 116 a 123 casais.

Estima-se que vivam na Área Metropolitana de Lisboa entre 12 a 14 casais, um feito raro nesta espécie, também conhecida como águia-perdigueira. “Nesta região, esta espécie geralmente esquiva vive excepcionalmente perto das pessoas”, salienta a SPEA em comunicado enviado à Wilder. Por isso, está “no limiar da sobrevivência” no limite da sua tolerância.

“Qualquer perturbação extra pode levá-las a abandonar o território”, alertou Joaquim Teodósio, coordenador do projecto e do Departamento de Conservação Terrestre da SPEA.

Foto: Rita Ferreira/SPEA

Na Área Metropolitana de Lisboa, a maioria dos casais vive fora de áreas protegidas, fazendo ninhos junto a zonas urbanas. “Por um lado temos a oportunidade de ver e conviver com esta ave incrível, mas por outro isto significa que as águias estão no limite da sua tolerância”, comentou o responsável.

O projecto – co-financiado pelo programa LIFE da União Europeia e coordenado pela SPEA – vai monitorizar os casais reprodutores e marcar juvenis com dispositivos GPS/GSM. O objectivo é recolher informação útil que possa ser usada para conservar a espécie.

Marcação de um juvenil de águia-de-Bonelli. Foto: Rita Ferreira/SPEA

Quanto a conservação activa, a equipa vai negociar acordos de gestão a longo-prazo com proprietários de terrenos em 26 áreas de reprodução (num raio de 250 metros em redor dos ninhos), com pagamento de compensações e outros incentivos. A ideia é atingir com esta iniciativa cerca de 100 proprietários.

“A águia-de-bonelli é particularmente sensível à degradação do habitat e à presença humana em redor dos ninhos, pelo que o projeto pretende minimizar alterações drásticas na vegetação e a perturbação durante a época de reprodução, que se estende de Dezembro a Junho”, explicou a SPEA.

Serão corrigidos 100 postes elétricos perigosos em redor dos ninhos, para evitar que as aves sejam electrocutadas ao pousar neles, e serão incentivadas medidas de gestão agroflorestal para aumentar a resiliência ao fogo nas áreas de nidificação e aumentar a abundância das presas selvagens, como o coelho-bravo e a perdiz.

Entre as medidas previstas estão a realização de patrulhas policiais regulares por equipas caninas e de investigação criminal para mitigar o crime contra o ambiente (por exemplo caça ilegal e veneno).

O projecto LIFE LxAquila quer levar a cerca de 25 mil pessoas atividades e workshops de divulgação e educação ambiental.

Foto: Rita Ferreira/SPEA

Esta iniciativa junta 14 parceiros, incluindo seis câmaras municipais da região: Alenquer, Loures, Mafra, Sintra, Torres Vedras e Vila Franca de Xira.

“Queremos demonstrar que é possível manter as aves e as pessoas a partilhar este território, que se pode compatibilizar a conservação das águias com as atividades humanas”, disse Joaquim Teodósio. “Por isso reunimos este vasto leque de parceiros: câmaras municipais, autoridades de ambiente, empresas privadas, gestores florestais, distribuidoras elétricas, para trabalhar em conjunto com as comunidades, pois todos nós temos um papel na proteção desta espécie.” 

As águias-de-Bonelli são também chamadas de águias-perdigueiras porque caçam outras aves em pleno voo para se alimentarem, incluindo pombos e perdizes. São rapinas de grande porte, com 55 e 65 centímetros de comprimento e uma envergadura de asas entre os 1,45 e os 1,65 metros.

É uma das aves de rapina que se encontra em regressão em grande parte das suas populações europeias. Metade da população desta espécie no Mediterrâneo Ocidental está na União Europeia, sobretudo em Espanha, Itália (concretamente na Sicília) e França.

Em Portugal, esta espécie foi alvo de um projecto de conservação, o LIFE Rupis, um projecto com apoios comunitários, coordenado pela SPEA e realizado no Douro Internacional, na região do Nordeste Transmontano.


Saiba mais.

Em Portugal, segundo a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, as maiores ameaças para as águias-de-Bonelli são três. Saiba quais são e conheça outras curiosidades da espécie neste artigo da Wilder. E recorde o que medidas os especialistas recomendam para salvar estas águias.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.