Bosque da Penoita

Fotógrafo mostra Serra do Caramulo nove meses após o fogo

A vida selvagem está a regressar à Serra do Caramulo, devastada pelos incêndios de há nove meses. Voltámos a falar com João Cosme, fotógrafo de natureza que registou em imagem as perdas e que agora mostra a recuperação.

 

Em Outubro, o fogo passou pela Serra do Caramulo e deixou-a diferente. Na zona Sul da serra, as chamas destruíram carvalhos e castanheiros, a Reserva Botânica de Loendros e deixaram muitos animais selvagens sem vida, desde mamíferos, aves e répteis a insectos e anfíbios.

Segundo dados do município de Vouzela, cerca de 90% da área florestal foi atingida e destruída.

 

 

Este era o “escritório” onde João Cosme passava horas infinitas e onde descobriu a sua paixão pela fotografia de natureza.

Pouco tempo depois do incêndio, o fotógrafo profissional de natureza registou com a sua câmara a dimensão da destruição.

Agora, passados nove meses, quer-nos mostrar a recuperação.

 

 

“Tem sido com grande satisfação e surpresa que vejo algumas zonas devastadas pelo incêndio de Outubro a recuperar de uma forma rápida, trazendo novamente o verde a esta região”, contou à Wilder.

A vegetação ribeirinha dos rios e ribeiros conseguiu uma recuperação “espantosa” e os carvalhos, castanheiros e alguns sobreiros também se regeneraram.

 

Papa-amora

 

Apesar de terem sido feitas algumas acções de reflorestação, cujos resultados ainda não serão visíveis, “toda esta regeneração é natural”.

João Cosme sabe do que fala porque tem estado no terreno “com bastante regularidade”. “Muito do meu trabalho passa pelo Parque Natural local Vouga Caramulo, quer na imagem, quer em filmes promocionais e de sensibilização. Acompanho várias espécies desta área protegida.” Actualmente está a produzir uma exposição sobre anfíbios do Parque, em parceria com a área protegida, criada em 2015 e que abrange 60% do concelho de Vouzela.

 

Bosque da Penoita

 

Para o futuro da natureza da Serra do Caramulo, não são os grandes incêndios que o preocupam. Há outros desafios. “Durante algum tempo, os incêndios de grandes dimensões não serão uma ameaça nesta região porque as espécies mais propicias a este tipo de calamidade, como os eucaliptos e pinheiros, foram completamente devastados”, explicou.

 

Rio Ribamá

 

Contudo, é essencial “olhar de uma forma séria para a floresta e para a conservação da natureza”, em especial para dar resposta ao grande problema das espécies exóticas invasoras. “A aposta em espécies autóctones deveria ser uma prioridade.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.