Águia-real. Foto: Juan Lacruz / Wiki Commons

Já há 65 casais de águia-real em Portugal. E outros seis possíveis

Segundo o Instituto Nacional de Conservação da Natureza e das Florestas, esta ave de rapina está a regressar ao Parque Nacional da Peneda-Gerês, após décadas de declínio.

A águia-real (Aquila chrysaetos) é a maior águia de Portugal, com uma envergadura de asas que pode chegar aos 2,25 metros. A nível nacional está considerada Em Perigo de extinção desde 2005, quando foi publicado o Livro Vermelho dos Vertebrados, que está agora em fase de revisão.

Estima-se que existem no país 65 casais confirmados desta ave de rapina, além de outros seis casais possíveis, com base na temporada de nidificação de 2020, avançou em comunicado o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

É nos distritos de Bragança e da Guarda que se encontra a maior parte da população nacional de águia-real, com 44 a 50 casais, destaca a mesma entidade. Nestas zonas “a população está estável e provavelmente em aumento continuado”.

Foto: Juan Lacruz / Wiki Commons

“A orografia da região Norte, caracterizada por um vasto conjunto de zonas escarpadas rochosas, sejam maciços montanhosos, sejam vales alcantilados, que formam biótopos rupícolas de grande valor para a fauna e flora, faz com que a população existente nessa região corresponda à população mais numerosa do país”, descreve o ICNF, que nota que é aqui que se concentram 72% do total nacional de casais.

Desde 2014, deu-se aqui um “ligeiro aumento” populacional, de cerca de cinco por cento, que até poderá ser maior a confirmar-se a existência de “cinco casais possíveis”. Esse crescimento acompanha também a tendência do lado espanhol da fronteira.

É aliás no Douro Internacional, junto à fronteira com Espanha, que está estabelecida “uma das populações [de águia-real] com maior densidade em termos ibéricos e a nível europeu” – o que a torna numa das espécies icónicas desta área protegida.

De regresso ao Gerês?

Por outro lado, no Parque Nacional da Peneda Gerês – onde está a decorrer um projecto de reintrodução – estima-se que já estejam estabelecidos entre um a dois casais de águia-real. Acredita-se que “a espécie esteja a reinstalar-se após décadas de declínio”, depois de ter passado por um período de 10 a 15 anos em que terá estado “regionalmente extinta como nidificante”.

Foto: Kevin/Pixabay

“As observações de exemplares desta espécie fora das áreas tradicionais de nidificação têm vindo aumentar. Através dos estudos de seguimento via satélite de juvenis observa-se repetidamente a utilização de áreas como o vale do Douro Vinhateiro, a bacia do Tua, a alta bacia do Côa, que poderão assim vir a ser colonizadas por esta espécie”, adianta o ICNF, que classifica estes factos como “uma excelente notícia para a conservação desta espécie em Portugal”.

Em contrapartida, desde 1994 foram registados mais de 20 casos de morte de águias-reais no Norte do país, principalmente devido a electrocussão em linhas elétricas aéreas, uso de veneno e abate a tiro. Mas em termos gerais, considera o instituto, aqui a espécie está “em situação estável e não enfrenta importantes factores de ameaça”.

Centro e Alentejo

Quanto à região Centro, confirma-se a existência de 10 casais desta ave de rapina, que aqui se reproduz “desde  Vila Velha de Rodão, ao sul, até Almeida, ao norte.” Sete dos casais habitam no Parque Natural do Tejo Internacional e territórios limítrofes e tiveram reprodução confirmada no ano passado.

Importante para a ocorrência desta grande ave na região, nas áreas junto à fronteira, é a existência de “locais adequados à nidificação”, desde logo as “áreas escarpadas que reduzem a presença de actividades humanas” e a disponibilidade de habitat para as suas presas.

Foto: Juan Lacruz / Wiki Commons

Segundo estudos realizados na região do Douro Internacional, as presas principais da águia-real são os coelhos e as lebres, seguidos por aves médias e répteis, sendo as áreas de matos e de floresta aberta as preferidas por esta espécie.

Quanto ao Alentejo, registam-se igualmente 10 casais, “que ocupam uma área de aproximadamente 5600 quilómetros quadrados”. “Embora no ano de 2020 tenham ocorrido vários constrangimentos durante o período reprodutor, os resultados foram bastante consideráveis”, adianta também o ICNF.  

 

  

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.