Lince-ibérico, cria. Foto: Programa Ex-situ (arquivo)

Já nasceram 50 crias de lince-ibérico no Vale do Guadiana

Esta Primavera nasceram 50 crias desta espécie Em Perigo de extinção e alvo de um ambicioso projecto ibérico de conservação, revelou o ICNF. Mas este número poderá ainda aumentar.

 

Até 10 de Agosto foram encontradas 15 ninhadas com um total de 50 crias, informou ontem a Direcção Regional da Conservação da Natureza e Florestas do Alentejo.

Este organismo prevê que “ainda se possa chegar às 20 ninhadas e a um número de crias próximo de 60”.

“Se tal acontecer serão mais sete ninhadas do que em 2019 e cerca de mais 15 crias.”

Neste momento estima-se que existam mais de 120 linces-ibéricos no Vale do Guadiana, numa área com cerca de 500 quilómetros quadrados.

 

Lince-ibérico. Foto: Programa de Conservação Ex-Situ

 

O lince-ibérico (Lynx pardinus), felino das barbas e dos pêlos em forma de pincel na ponta das orelhas, era uma espécie comum na Península Ibérica. Em meados do século XIX, seriam cem mil.

Mas o colapso das populações de coelhos-bravos, a sua principal presa, agravado por duas doenças – a mixomatose (nos anos 50) e a febre hemorrágica viral (nos anos 80) -, a caça indiscriminada e a perda de habitat pelas campanhas agrícolas e de reflorestação com eucalipto e pinheiro-manso, que destruíram os matagais mediterrâneos, ditaram o quase desaparecimento desta espécie.

Até 2015, foi uma espécie Criticamente Em Perigo de extinção. Em Portugal, o lince-ibérico chegou a viver numa situação de “pré-extinção”.

Hoje, fruto de um enorme esforço de conservação a nível ibérico, que aposta na reintrodução na natureza de animais nascidos em cativeiro, o lince-ibérico está a recuperar, lentamente, os seus territórios históricos. Como o Vale do Guadiana.

A primeira cria nascida na natureza no Vale do Guadiana, em 40 anos, foi confirmada a 5 de Maio de 2016.

“Ao longo dos últimos anos a população de linces do Vale do Guadiana tem vindo aumentar os seus efetivos e o sucesso do programa de reintrodução é bastante evidente, com uma elevada taxa de reprodução”, escreve o Instituto para a Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

A população de linces naquela região alentejana é monitorizada por dezenas de câmaras de foto-armadilhagem, espalhadas pelo seu território. Estas são parte crucial na identificação das novas crias. “O facto dos pequenos linces andarem sempre muito próximos torna mais fácil saber quantos compõem a ninhada e sempre que um território de uma fêmea reprodutora é descoberto são instaladas múltiplas câmaras”, explica o ICNF.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Saiba aqui como é a vida de uma cria de lince-ibérico.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.