Quebra-ossos. Foto: Francesco Veronesi/Wiki Commons

Nasceu o primeiro quebra-ossos em liberdade na Andaluzia em 2020

A Junta da Andaluzia confirmou o nascimento da primeira cria de quebra-ossos na natureza em 2020 naquela região espanhola. Os pais fazem parte de um programa de reintrodução desta espécie.

 

Em comunicado, divulgado a 8 de Março, a Junta diz que esta cria, que recebeu o nome de Savuti, nasceu no início de Março e se soma às cinco que já nasceram este ano no Centro de Reprodução em Cativeiro em Guadalentín (Jaén).

Os progenitores são Marchena, uma fêmea nascida no centro de Guadalentín em 2012, e Hortelano, um macho nascido em 2010 no mesmo centro. Técnicos da Junta da Andaluzia conseguiram ver os pais a alimentar a cria.

Em Abril de 2015, as autoridades confirmaram o nascimento da primeira cria em liberdade na Andaluzia.

Este casal, Marchena e Hortelano, tiveram êxito reprodutor todos os anos desde 2017. A cria nascida em 2020 é já a quarta deste casal que “surpreende os técnicos com a sua elevada eficiência”, segundo a Junta andaluza.

O quebra-ossos (Gypaetus barbatus) é o abutre mais ameaçado da Europa. Houve tempos em que era comum em Portugal, mas acabou por desaparecer. Assim como na Andaluzia, devido a envenenamentos e perseguição humana.

Em toda a Europa existem hoje cerca de 200 casais, 130 dos quais em Espanha. Desde 1996 está a decorrer na Andaluzia um projecto para estabelecer uma população autónoma e estável na região, cuja peça central é aquele Centro de Reprodução, que faz parte de um projecto europeu para recuperar a espécie. É deste e de outros centros de reprodução em cativeiro que saem todos os quebra-ossos reintroduzidos na natureza.

Nas últimas décadas, os conservacionistas têm libertado quebra-ossos na natureza para reintroduzir ou reforçar a população desta espécie na Europa. Entre 1986 e 2019 foram libertados 323 quebra-ossos juvenis na natureza, incluindo 227 nos Alpes e nos Pré-Alpes e 63 na Andaluzia.

O quebra-ossos pode viver até aos 40 anos. Tem um ciclo reprodutor muito longo que se inicia durante o mês de Outubro e termina entre Agosto e Setembro, com a emancipação da cria. É, por isso, “um processo de cria bastante exigente do ponto de vista físico, já que implica, por exemplo, a defesa do território, a construção do ninho, um período de cópulas, a postura dos ovos ou a procura de alimento para as crias”, explica a Junta da Andaluzia.

“Não é muito habitual entre estas aves que um casal consiga reproduzir-se com êxito durante quatro anos consecutivos.”

Este nascimento da cria Savuti soma-se ao nascimento de outras cinco crias deste ano no Centro de Reprodução de Guadalentín, localizado no Parque Natural de las Sierras de Cazorla, Segura y Las Villas e gerido pela Fundação Vulture Conservation Foundation (VCF).

A primeira das crias a nascer neste centro foi Kobe, que nasceu com 139,1 gramas a 30 de Janeiro. Dias depois foi a vez do seu irmão Nieto, com 127,2 gramas. Ambos são filhos de Joseph e Keno.

A terceira cria desta temporada em Guadalentín é Ochoa e os seus pais são Elías e Viola. Esta cria saiu do ovo a 22 de Fevereiro e tinha 149,4 gramas de peso. Depois chegou o seu irmão Gonçalves, a 28 de Fevereiro, com 148,5 gramas.

A última cria a chegar foi Marieke, a 5 de Março. É filha de Tranco e Sabina.

No total, nesta temporada os seis casais do centro de Guadalentín puseram 13 ovos entre 8 de Dezembro e 15 de Fevereiro. A Junta da Andaluzia espera conseguir este ano 10 crias.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais sobre o quebra-ossos:

Como é um quebra-ossos: esta é uma ave com quase três metros de envergadura de asa e até oito quilos de peso. A plumagem pode ser muito escura na sua fase juvenil e tornar-se mais clara com as sucessivas mudas. Mas talvez o que melhor a caracteriza são as barbas escuras perto do bico e o vermelho vivo em redor dos olhos.

Onde nidifica: nas saliências rochosas das grandes cadeias montanhosas.

O que significa o seu nome científico: em Latim, Gyp quer dizer abutre, aetus quer dizer águia e barbatus quer dizer com barba.

Alimenta-se de quê: esta ave é a única do planeta que se alimenta quase exclusivamente de ossos, principalmente de ungulados. Pode chegar a alimentar-se de ossos com 20 centímetros, que digere graças ao seu potente estômago. Quando não os consegue comer inteiros, agarra neles com as suas garras e lança-os de grandes alturas em zonas rochosas para os quebrar.

Quais as maiores populações de quebra-ossos na Europa: esta é uma espécie em perigo de extinção no Velho Continente. As maiores populações são as da cordilheira Pirenaica, da Córsega e Creta. A nível mundial, a União Internacional para a Conservação da Natureza classificou-a como Quase Ameaçada.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.