A nova espécie de borboleta Mondeguina atlanticella. Foto: André Lameirinhas

Novo género de borboletas em Portugal baptizado em homenagem ao rio Mondego

O novo género de borboletas nocturnas, descrito por investigadores do CIBIO-InBIO, inclui uma nova espécie para a ciência e outra espécie já conhecida em vários países do Mediterrâneo.

 

A borboleta nocturna foi descrita para a ciência num artigo publicado na revista científica Nota Lepidopterologica, assinado por Martin Corley e Sónia Ferreira, do CIBIO-InBIO – laboratório de investigação ligado à Universidade do Porto – e por Jorge Rosete.

A equipa de investigadores “descobriu a nova borboleta ao identificar diferenças na sua anatomia e no seu código de barras de ADN que a tornam distinta das espécies já conhecidas”, explicam, num comunicado do CIBIO-InBIO enviado à Wilder.

Os cientistas aperceberam-se também de que esta nova espécie e uma outra borboleta muito semelhante têm características que as diferenciam de outras borboletas nocturnas – em especial, “as antenas longas e as asas posteriores incomumente esbeltas.”

 

A nova espécie de borboleta Mondeguina atlanticella. Foto: André Lameirinhas

 

Os exemplares disponíveis das duas espécies foram então sujeitos a um estudo detalhado. Resultado: “Foi possível concluir que estas duas espécies pertencem a um novo género, o qual é igualmente descrito no trabalho publicado.”

Um género é uma das unidades taxonómicas (ou taxa) utilizadas na classificação científica, agregando uma ou mais espécies que partilham características comuns.

 

Homenagem ao “rio mais longo inteiramente português”

Depois do reconhecimento deste novo género, o passo seguinte foi dar-lhe um nome científico. “Os autores do artigo decidiram, então, nomear o novo género de borboleta noturna em homenagem ao rio Mondego, o rio mais longo inteiramente português, e que inclui no seu trecho terminal o habitat da nova espécie descrita para a ciência”, indica o CIBIO-InBIO.

 

Habitat da nova borboleta nocturna, na ilha da Morraceira. Foto: Jorge Rosete

 

Ao mesmo tempo, a nova borboleta ganhou o nome de Mondeguina atlanticella. O nome atlanticella é uma alusão ao facto de a espécie ser conhecida em locais próximos do Oceano Atlântico.

 

Outro local da ilha da Morraceira, habitat da nova espécie. Foto: Jorge Rosete

 

Já a outra borboleta mais próxima, que já tinha sido observada noutros países e foi agora englobada neste novo género científico, passa a designar-se por Mondeguina mediterranella. Isto porque “ocorre na proximidade do Mar Mediterrâneo.”

Segundo os investigadores, esta descoberta chama a atenção para “o quando ainda desconhecemos sobre a diversidade biológica no nosso planeta”, ao mesmo tempo que “demonstra o potencial das técnicas de análise ao DNA na descoberta de novas espécies”.

 

Um biblioteca de códigos de barras de ADN

O estudo agora publicado foi desenvolvido no âmbito dos projetos EnvMetaGen CIBIO-InBIO e PORBIOTA, mais precisamente na iniciativa IBI: InBIO Barcoding Initiative.

Esta iniciativa tem por objectivo a construção de uma biblioteca de códigos de barras de ADN focada especialmente em invertebrados, ou seja, “segmentos curtos de ADN que podem ser analisados para distinguir as diferentes espécies existentes.”

As identificações de organismos realizadas desta forma baseiam-se na comparação dos “códigos de barras” com uma base de dados na qual diferentes espécies estão catalogadas, descreve ainda o laboratório de investigação.

O objectivo é que esta nova colecção de códigos de barras de ADN “seja uma ferramenta fundamental para a monitorização da biodiversidade a longo prazo e em larga escala na Península Ibérica” e que auxilie a identificação de mais espécies, por enquanto ainda desconhecidas da ciência.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Recorde como se realizaram a descoberta de uma nova espécie de borboleta e de  uma nova espécie de abelha em Portugal, anunciadas em 2019.

 

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.